13.4.13

Discurso político e Metalinguagem



Vale a pena ler o que São José Almeida escreve, no Público de hoje (sem link), sobre o tipo de discurso político que nos é imposto e que já nem estranhamos de tão habitual se tornou.

Alguns excertos:

«A política vive hoje de mentiras, de discursos falsos, de manipulação de factos. Demonstração disso é a declaração feita pelo primeiro-ministro no domingo, reagindo ao acórdão do Tribunal Constitucional (TC), que considerou inconstitucional normas do Orçamento do Estado (OE), como a cativação fiscal do subsídio dos funcionários públicos e dos pensionistas e reformados no OE.

Quem lê a declaração escrita que Passos Coelho proferiu e não conhece bem o contexto político do país, nem o sistema político, é levado a pensar que o TC extrapolou as suas funções de fiscalização da constitucionalidade das leis e que, por causa de uma inusitada decisão dos juízes-conselheiros, o país entra em crise orçamental. (...)

O discurso político, hoje, é, de facto,(...) um discurso que simboliza o real, que é feito sobre o real, uma ficção, cujos objectivos não são aqueles que são ditos, mas sim apenas a manutenção do poder no grupo que o conquistou e detém, bem como conseguir a obtenção de maior lucro financeiro para quem possui de facto esse poder e que está por detrás de quem governa. Um lucro que é obtido com o empobrecimento das populações do Sul da Europa.

Estamos assim perante um discurso falso que vive de uma metalinguagem, onde as palavras ditas em cascata, encadeadas uma nas outras pela habilidade e treino discursivo de quem as pronuncia, apresentam uma história que agrada a quem a ouve, porque mostra um mundo de fadas e de soluções de varinha de condão, um futuro radioso de sol na terra, que transformará a Europa numa terra de leite e mel. Mas que, quando analisado o seu conteúdo, quando espremido o palavreado, percebe-se que é oco, que não tem sumo, que é um encadeado de palavras fantasioso, mentiroso, que esconde a realidade e os verdadeiros objectivos de quem fala.

Ora, Sócrates usou a fórmula narrativa porque ele sabe do que fala enquanto artista exímio no uso dessa metalinguagem enquanto primeiro-ministro, tal como Durão Barroso faz antes dele e Passos Coelho e Paulo Portas fazem agora. Uma metalinguagem que é usada também por António José Seguro, que critica o Governo e se apresenta como alternativa, mas recorrendo ao mesmo jogo de sombras da metalinguagem política.

Assim perpetuamos as histórias da carochinha. Porque falar verdade hoje em Portugal era dizer que o objectivo político que está a ser imposto à população portuguesa é o da diminuição do seu poder de compra, baixando o valor do seu trabalho através da redução salarial, do aumento de impostos directos e indirectos e do aumento desemprego. (...)

Pôr fim à metalinguagem poria em causa os interesses dos que realmente detêm o poder. Resta esperar para perceber até quando as populações europeias vão aguentar a situação a que estão a ser submetidas.» 
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3 comments:

NG disse...

Demagogia barata. Enunciou mas não desmontou o discurso de Passos Coelho em relação ao TC. Muitos jornalistas vivem ainda mais de mentiras e discursos falsos do que certos políticos.

Joana Lopes disse...

Não dá para perceber que o alvo é genérico e não só o discurso de PPC?

NG disse...

Dá. É a generalização vaga e não fundamentada que torna o texto medíocre e dispensável.