16.5.13

Fátima, altar da pátria?


@Gui Castro Felga

Longe, muito longe de ser fã do novo cronista do Público - João Miguel Tavares – mas considero que acerta hoje em alvos ainda não mencionados quanto ao comportamento do inefável e devoto mariano que exerce as funções de presidente desta República. Alguns excertos do seu texto (sem link):

«Utilizar a intercessão de Nossa Senhora para justificar uma determinada linha de actuação política e económica só pode significar uma de duas coisas: ou uma manifestação de inadmissível ignorância por parte de um chefe de Estado português; ou uma vergonhosa afronta a todos os que lutaram para que 2013 não fosse igual a 1963 e que, ao contrário de Cavaco, nunca escreveram pelo seu próprio punho numa ficha da PIDE “integrado no actual regime político”. (...)

Factos são factos, e o certo é que a visão sacrificial dos três pastorinhos, toda ela muita penitência, arrependimento e oração, mais a sua explícita mensagem anticomunista, assentou como uma luva no discurso do regime, que com a cumplicidade da Igreja aproveitou, de caminho, para erguer Fátima a “altar do mundo”, reciclando a velha e mitológica ambição de grandiosidade nacional, agora através da via transcendente – já que para a via imanente não havia nem gente, nem dinheiro. (...)

Cavaco Silva não pode desconhecer as tentativas de invocar a mão de Deus, via Fátima, na instauração do regime do Estado Novo. E sabendo isso, vir agora invocar a mão de Nossa Senhora no escrupuloso cumprimento das directivas da troika e da sétima avaliação é de um mau gosto a toda a prova. Seguindo a sua fina linha de raciocínio, e em última análise, meter Deus nos assuntos de César significa neste caso o quê? Significa que é Deus que deseja a austeridade. Como era Deus que desejava o salazarismo. (...)

Não sei se Cavaco está como a irmã Lúcia, e fala com a Virgem à noite nos seus aposentos. Mas se assim for, faça como ela: entre para um convento de clausura, escreva vários volumes de memórias, e deixe a política para quem tem os olhos mais postos na terra do que no céu.» 
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