20.5.13

«Pós-troika», última aquisição da novinlíngua



«Lentamente, a expressão "pós-troika" vai-se infiltrando no politiquês nacional. O governador do Banco de Portugal alerta para a preparação do "pós-troika", o Presidente da República dedica hoje um Conselho de Estado ao "pós-troika", no Partido Socialista afiam-se as facas para o "pós-troika", nos jornais já se discute o destino do vilipendiado Vítor Gaspar no "pós-troika" – enfim, o termo propaga-se e será, em breve, uma daquelas modas repetidas nos media até à exaustão. O problema, contudo, é que a mera formulação "pós-troika" engana. A expressão parte de uma interpretação errada do papel da ‘troika' e arrisca alimentar uma esperança infundada sobre o futuro imediato de Portugal na Europa. (...)

Portugal sairá do memorando com um rácio de dívida pública superior a 120% do PIB, um sector privado ainda muito endividado, uma economia devassada por falta de investimento, um músculo exportador muito curto e um Estado praticamente por reformar. O memorando serviu mais para fechar o défice externo à bruta e reconquistar a confiança de quem manda na Europa (confiança que, por sua vez, atrai a dos mercados), do que para resolver o problema económico de Portugal na zona euro. (...)

Com ou sem ‘troika' estaremos, então, totalmente dependentes dos credores. Precisaremos deles para assegurarmos financiamento e para arrancarmos cedências profundas nas condições de pagamento da dívida. Não será fácil. Estes credores europeus são cultural e politicamente hostis face ao que entendem ser o "Sul da Europa", com quem lidam por necessidade e com um paternalismo antigo e sem limites.»

Bruno Faria Lopes

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