21.6.13

A raiva funda vai-se acumulando



(Rio de Janeiro, ontem) 

«A separação social, entre ricos e pobres, tornou-se chocante e indigna. As instituições deixaram de merecer o respeito dos cidadãos. A polícia, sempre bruta, é odiada. A própria democracia é cada vez mais vista como um mero ritual inconsequente. No passado, situações similares deram lugar a revoluções.

Das revoltas sociais dos últimos anos a do Brasil é certamente a mais inesperada. Ao contrário dos países árabes e da própria Europa, em que a miséria e a decadência são os motores da agitação, o Brasil tem assistido a um forte crescimento retirando milhões de pessoas da miséria. O Brasil está numa curva de enriquecimento. Então porque protestar? De onde vem esta imensa raiva contra o sistema político e económico? (...)

Comece-se por uma coisa que ninguém tem em conta porque acha que tudo se reduz à razão económica. Para que serve afinal a vida? Será que é para trabalhar arduamente, comprar uns gadgets, ver uns jogos de futebol e depois morrer? É certo que a maioria parece adaptar-se bem a esta existência minimal, mas a raiva funda, o desencanto absoluto, vão-se acumulando e, quando menos se espera, temos a violência estúpida do quotidiano, os espasmos egoístas e, por vezes, a descida às ruas com vontade de partir tudo. Nunca é preciso muito para desencadear estes vulcões adormecidos. Uma subida no preço do bilhete do autocarro chega perfeitamente.

Convenhamos. A vida prometida pelos governantes e pelos publicitários, é deprimente. Passar os dias numa caixa de supermercado, em gestos repetitivos e sorrisos mecânicos, para se chegar a casa cansado e ver uma estúpida novela em que tudo é falso, medíocre e irrelevante, pode realmente satisfazer alguém? É isto uma vida? (...)

Os governos são hoje claramente identificados como inimigos do povo. A separação social, entre ricos e pobres, tornou-se chocante e indigna. As instituições deixaram de merecer o respeito dos cidadãos. A polícia, sempre bruta, é odiada. A própria democracia é cada vez mais vista como um mero ritual inconsequente. No passado, situações similares deram lugar a revoluções.» (O realce é meu.)

Leonel Moura

(O link pode só funcionar mais tarde.)
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1 comments:

Blondewithaphd disse...

E aqui vamos ver até onde nos levam os brandos costumes...