28.6.13

Era tão bom se ainda fosse assim, não era?



Parece que sim, pelo menos para muitos para quem o respeitinho continua a ser o bem mais precioso.

«O professor primário era um "soldado que ministrava o pão do espírito". Para os médicos, era uma honra trabalhar em certos serviços. "E os hospitais lucravam com esta mão-de-obra gratuita e, de mais a mais, agradecida". Anos 60, 70, 80: quando os funcionários públicos eram encarados como verdadeiros missionários.

As profissões eram prezadas. Os seus servidores, vinculados ao Estado, eram encarados como merecedores de apreço. Como sendo movidos pelo serviço público, independentemente da remuneração. Antes do 25 de Abril, as elites políticas reconheciam-lhes valia. "O professor primário é um soldado que ministra pão do espírito e fortalece a própria raiz da vida nacional. O professor primário é símbolo de idealismo, de coragem, de fé e de sacrifício", referia, em 1972, o então ministro da Educação Nacional, José Veiga Simão, citado na "Escola Portuguesa". Os grandes mestres da medicina, como Miller Guerra, em "O Relatório das Carreiras Médicas", de 1961, diziam: "Era proveito e honra trabalhar em certos serviços sob a direcção de profissionais reputados. (…) Os médicos procuravam nos hospitais os conhecimentos científicos e, alguns, a qualificação profissional. (...) Os hospitais lucravam com esta mão-de-obra gratuita e, de mais a mais, agradecida".

A enfermagem, sob a égide do Estado, acabara vertida em "verdadeiro sacerdócio" na década de 40 (e mais tarde), como nota Hélder Henriques, professor na Escola Superior de Educação de Portalegre, no artigo "O Ensino da Enfermagem no Estado Novo". Recorda ele que o casamento das enfermeiras era proibido e o recrutamento deveria fazer-se "entre jovens solteiras ou viúvas que não tinham filhos ou maridos para cuidar".

Feitas as apresentações, foquemo-nos no presente. O fogo atirado agora sobre os funcionários públicos vem de muitos lados e é cerrado. Acusados de improdutividade, de serem protegidos com regalias em relação aos privados, existe uma espécie de guerra civil sublimada entre os sectores público e privado. O Governo, liderado por Passos Coelho, aponta como prioridade política a redução do Estado: cortar nas gorduras, não se sabendo ainda se as ossadas ficarão à vista. As medidas estão em marcha: mobilidade especial, expressão para designar uma espécie de antecâmara do desemprego, redução do pessoal contratado, aumento do horário de trabalho e despedimento de professores são algumas das metas do Governo, em nome da eficiência do Estado.»

(Daqui)

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