12.6.13

Ontem os gregos, nós amanhã



Claro que as notícias da Turquia são brutais e não se sabe como será o dia de hoje, muito menos o de amanhã. Claro que as imagens da Praça Taksim não nos saem da retina e nos deixam inquietos quanto ao futuro, dos turcos e de nós todos.

Mas foi o que se passou ontem na Grécia que nos atingiu directamente como uma pedrada: o encerramento, inesperado, da televisão e da rádio públicas pelo governo. Foi-se sabendo durante a tarde que, às zero horas de hoje (22:00 de ontem, em Lisboa), o executivo de Samaras, mesmo contra a posição dos seus dois parceiros de coligação – PASOK e Esquerda Democrática – mandaria cortar o sinal dos meios de comunicação estatais, calando a voz de cerca de 2 700 pessoas (de um dia para o outro colocadas no infindável rol dos desempregados gregos).

Porquê? Porque os compromissos com a troika assim o exigem, porque tudo pode ruir excepto o cumprimento das exigências dos credores internacionais. Porque o absurdo continua, apesar de todas as confissões de falhanços assumidos pelo FMI e por todos os Junkers desta triste Europa – puras lágrimas de crocodilo, sem qualquer efeito minimamente útil.

Os cidadãos saíram à rua em protesto, os trabalhadores ocuparam as instalações e continuaram – continuam ainda – a emitir via internet.



Escreve um grego que li há pouco: «Nunca pensei ser forçado a ouvir a emissão da ERT TV... ilegalmente!»

É assim. O que parecia impensável aconteceu ontem em Atenas e pode cá chegar amanhã ou depois. Não há qualquer motivo racional que nos impeça de pensar que podemos acordar um dia sem RTP ou, sei lá..., com as escolas públicas encerradas e entregues horas depois a um grupo angolano, ou com o SNS gerido pela banca. 

A democracia, tal como a conhecemos, acabou e só regressará pelas nossas mãos. Estaremos suficientemente conscientes disso?
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P.S. - Agora (13/6, 14:45), é AQUI que se vê a ERT «ilegal».
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