5.8.13

As duas faces de Janus



«Janus era, na mitologia romana, o deus das duas faces. Uma olhava para o passado. A outra para o futuro. Quando uma mentia, a outra dizia a verdade. Assim, quando se perguntava algo a Janus, nunca havia uma resposta concreta. Ninguém sabia se estava certo ou errado. (...)

A história dos swaps é um legado de Janus. Ninguém sabe onde começam as verdades e onde terminam as mentiras. Talvez estejam enroladas umas nas outras e não haja inocentes no meio da bagunça. Mas Janus é uma figura querida no espaço político português. E até no Governo, como é visível nesta história, aparentemente real, de que alguém que tentou vender uma espécie venenosa de swaps a José Sócrates, que iludia as contas do défice e da dívida pública, reencarnou como secretário de Estado do Tesouro como se nada se tivesse passado. (...)

Mudando de máscara assim, consoante o interesse do momento, Janus não tem alma. Nem é um servidor do interesse privado, nem do interesse público. Um Janus assim é uma moeda de níquel que se atira ao ar. Que pode sair cara ou coroa. Mas que não tem vontade própria. Nem sabe quem é. Quando, de manhã, se vê ao espelho, Janus tem uma face. Mas não tem moral nem ética.»

Fernando Sobral, no Negócios de hoje (sem link
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