6.9.13

Na desunião europeia



«Ainda bem que órgãos de outra soberania que não a política – como o nosso Tribunal Constitucional – vão, para já, travando o abalroamento do pouco que ainda resta do modelo social e da economia real. (...)

Há um silêncio europeu vulgarizante que não augura nada de bom: o problema do Euro está rigorosamente na mesma, e em 5 anos todos os intervencionados "piigs" pioraram a sua situação social (eufemismo para "sofreram o que não mereciam") apenas para verem a sua situação de dívida soberana agravada também. É ridículo dito assim, mas não é por ser ridículo que deixa de ser mentira: objectivamente, os países do Sul e a Irlanda estão a financiar a Alemanha e em troca recebem nada.

O neo-liberalismo acaba onde acaba o dinheiro dos outros; e este modelo está esgotado porque a classe média, que o financia, pura e simplesmente não pode mais. (...) Mexer numa Constituição nestas condições – e com um ministro das Finanças demitido nas 48 horas mais onerosas da História da política portuguesa – é um acto inconsciente; as consequências incomensuráveis são um risco pior que qualquer "swap". (...)

Em alemão, "schuld" quer dizer dívida, mas também quer dizer "culpa", numa coinicidência semântica que pode vir a crescer ainda mais em impacto: o terceiro resgate à Grécia, bem como o segundo a Portugal, bem poderão vir a transformar este jogos de palavras em algo mais sério, sobretudo se nos lembrarmos que o primeiro banco a falir em euros era alemão (o Hypovereinsbank) e que os alertas sobre a situação bancária na Holanda se sucedem para quem os quer ouvir e pensar a Europa para lá desta calma de morte.»

Nicolau do Vale Pais
(O link pode só funcionar mais tarde.)
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