27.12.13

2013 e o intolerável êxodo



Há um ano escrevi este post:

A chapa que se vê na imagem está há anos na escada do meu prédio e tapa, mais ou menos atamancadamente, uma instalação eléctrica não sei bem de que tipo. Resultou de umas obras inadiáveis, decididas nessa instância absolutamente sinistra, que dá pelo nome de «reunião de condóminos».
Sempre olhei para ela de esguelha, não fosse o número da esquerda funcionar como presságio de repetição da calamidade recordada pela data da direita. 2013 não me dizia absolutamente nada, para além do temor dessa possibilidade, mas passou a dizer: seria o fim da crise, o último ano em que «os homens de negro» andariam por cá, a última vez em que não me pagariam dois meses de salário para os quais descontei durante décadas.
Hoje, parei de novo a observá-la sem saber o que pensar. Mas fotografei-a para a posteridade. Pode ser que algo de imprevisível aconteça em 2013, que seja o acordar deste pesadelo, que o Passos fuja para Angola, que o Cavaco vá viver com a Lagarde, que o Durão volte a ser maoista, que o Relvas assalte um banco… sei lá!... Mas isto há-de mudar um dia, não?

2013 está a acabar. Passos não fugiu para Angola, Cavaco não foi viver com a Lagarde, Durão não voltou a ser maoista, julgo que Relvas não assaltou nenhum banco e nós ainda não acordámos do pesadelo.

Por mais que o primeiro-ministro diga que isto já mudou para melhor, sabemos que pretende enganar-nos: não foram criados 120.000 empregos líquidos como ele afirma, a malfadada dívida é hoje mais incobrável do que nunca, os nossos benfeitores anunciam que nos esperam 15 ou mais anos de «ajustamento». Temos, sim, um entre muitos motivos para estarmos mais agrestes do que em Dezembro de 2012: aos 120.000 portugueses, jovens na sua maioria, que se viram obrigados a sair do país nesse ano, outros tantos se terão juntado em 2013. Como se a cidade do Porto e alguns arredores se esvaziassem totalmente em apenas dois anos. E isto corresponde a um retrocesso intolerável a uma situação que não esperávamos voltar a viver.

A placa da minha escada era afinal premonitória: 2013 não foi um ano mau, foi péssimo! 
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