12.1.14

Emigração forçada


Do texto de Sandra Monteiro em Le Monde Diplomatique (ed. portuguesa) de Janeiro de 2014:

«São já mais de 121 mil os portugueses que emigraram durante a crise da austeridade, ultrapassando, em 2012, um máximo histórico que só havia sido alcançado em 1966, numa década condenada pelos horrores da ditadura, da guerra e da fome. Uma emigração desta dimensão, ainda por cima numa conjuntura de diminuição dos fluxos imigratórios e de saldo demográfico negativo, tem consequências gravíssimas para a sustentabilidade do país. (...)

A operação [da «nova diáspora» e do «exercício de lugares de destaque»], com grande impacto em muita comunicação social, foi organizada em torno do lançamento, a 23 de Dezembro, do Conselho da Diáspora Portuguesa, criado por iniciativa de Aníbal Cavaco Silva e na presença de Pedro Passos Coelho, Paulo Portas e José António Durão Barroso. O presidente da República expôs a narrativa neoliberal sobre a emigração, aliás em perfeita sintonia com as políticas relativas à imigração, como a que agora outorga títulos de residência a estrangeiros que invistam 1 milhão de euros na economia local.

O objectivo deste Conselho é simples: mercantilizar a emigração. Mas não toda. Só o emigrante que «rende», isto é, o jovem, muito qualificado, de excelência, talentoso, competitivo e cosmopolita. O discurso lança um apelo este o nicho de emigração: vistam a camisola da marca Portugal, melhorem a imagem externa do país e favoreçam os investimentos. (...)

O que a «nova diáspora» tem de novo e positivo (mais pessoas com formações superiores, gerações mais habituadas ao contacto externo e mais apoiada em redes internacionais, mais acesso a tecnologias que encurtam distâncias, mais cidadãos apetrechados para não desistirem dos seus sonhos) foi muito construído, depois do 25 de Abril, com a oposição do neoliberalismo. O que a «nova diáspora» tem de velho e revelho são as desigualdades económicas, sociais e territoriais que a democracia não resolveu e um país com debilidades estruturais (produtivas, redistributivas) que a crise financeira e as respostas austeritárias, no quadro da União Europeia e do euro, só vieram agravar.» 

Na íntegra aqui.
 .

0 comments: