2.5.14

Vencidos da Vida



«A comunicação ao país sobre como o Governo vai guiar os portugueses a fingirem que a troika já não manda nas decisões nacionais é um filme de "suspense" que Alfred Hitchcock gostaria de rodar. Porque é uma "janela indiscreta" saloia e típica desta profunda crise moral e cultural (além de económica e política) em que vivemos. (...)

Portugal está a transformar-se numa zona árida: de ideias, de riqueza, de portugueses. E a elite parece resignar-se a isso, apenas para conseguir garantir os seus privilégios e os negócios que a troika lhes permite com um sorriso cândido.

Ao terem de optar por uma estrada nacional sem sentido porque não há dinheiro para pagar a qualidade da auto-estrada, os portugueses limitam-se a replicar aquilo que se vê nos supermercados: a hegemonia das marcas brancas mais baratas e o desaparecimento das marcas alternativas que outrora espelhavam a possibilidade de escolha no mundo do consumo. Portugal ficou mais pequeno e mais indigente.

E, claro, numa sociedade assim é difícil que floresça a cultura, a educação, a saúde ou uma qualquer ideia de futuro. (...) Esta é a nova versão dos "Vencidos da Vida", farsa de um grupo de almoçaristas que agora se alarga a todo um país. Que, vencido, olha novamente para lá do horizonte. Porque já não consegue identificar-se com a terra que ama e onde nasceu.»

Fernando Sobral, no Negócios.
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