11.7.14

Portugal – Brasil



«No futebol, Portugal e Brasil, também são irmãos de sangue: são humilhados, da mesma maneira, pela Alemanha. Mudam-se os números, mantém-se a sina. Ou o Fado. Ou a Bossa Nova. O Cristo do Corcovado chora da mesma maneira que o que olha para o Tejo.

A diferente dimensão dos dois países, e dos dois Cristos, não evita o destino comum. Talvez fosse bom cantar, em uníssono, "Chega de Saudade" de Vinícius de Moraes e Tom Jobim. O futebol é apenas a metáfora da política e da economia, das ilusões de um destino que quase se cumpre e ficam sempre para lá de um horizonte que nunca se alcança. Chico Buarque sabia isso: o que não tem explicação nem nunca terá. O Brasil, como Portugal, acredita sempre naquele milagre que faz a diferença. Mas é impossível errar de forma sistemática esperando que, no fim, as coisas se resolvam e concretizem de forma bondosa. No mundo do futebol, como da economia ou da vida das sociedades os milagres estão demasiado caros.

Improvisamos e acreditamos na sorte. Ou nos milagres matemáticos. Ou que a União Europeia resolva os problemas por nós, ou que os BRICS tomem decisões à nossa medida. Foi por isso que Portugal entrou no túnel da escuridão e o Brasil tenta equilibrar-se à beira do abismo. Portugueses e brasileiros são bons a improvisar. Mas falta-lhes sempre estratégia e planeamento. E sobra-lhes amiguismo político e económico e corrupção crónica. (...)

Como dizia o Padre António Vieira, "todos os que na matéria de Portugal se governaram pelo discurso, erraram e se perderam". Mas, antes, perderam os seus povos. Porque a humilhação do futebol tem outras raízes. Aquelas que ninguém quer tirar da terra para ficarem à vista. Cruas e cruéis.»

Fernando Sobral, no Negócios.
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