19.11.14

Passos Coelho e «O Leopardo» de Lampedusa



«Entre "O Príncipe" de Maquiavel e "O Leopardo" de Tomasi di Lampedusa há uma oposição clara. O Príncipe defende a acção política em busca do poder. Pelo contrário, o Leopardo acredita que é pela inacção que o poder se mantém.

Ou seja, num mundo onde os acontecimentos são por vezes ilusórios e superficiais, o poder, os interesses instalados e a subordinação mantêm-se e adaptam-se. Não admira que o príncipe de Salina, de "O Leopardo" considere que "tudo deve mudar para que tudo possa ficar na mesma". Na hora da queda de Miguel Macedo, Passos Coelho julga ser o Leopardo.

As mudanças fazem-se para que nada mude, mesmo que o Governo cheire a bolor, que São Bento seja um centro político paralisado, que existam ministros como o da Educação e a da Justiça que tenham passado o prazo de validade como os iogurtes. Passos Coelho resiste a tudo, porque só quer ser reconhecido como o homem que "salvou" as finanças. Mesmo destruindo a vida dos portugueses. E é por isso que desvaloriza a necessidade de uma grande chicotada psicológica no Governo para poder, ainda, sonhar em ganhar as eleições.

Passos Coelho, ingenuamente, acredita que se perder em 2015 regressará depois, não como o Leopardo, mas como o Desejado. A política instalou-se hoje no mundo táctico, seja a nível de debate, de agenda ou do horizonte futuro. Passos Coelho, cujo núcleo político é indigente, pensa que a sua sobrevivência no futuro passa por observar, manipular os factos e mudar o menos possível. Acredita que assim, mesmo perdendo em 2015, ganhará mais tarde. É hoje claro que Coelho não tem nenhuma visão de uma política portuguesa ou europeia e é incapaz de resolver a crise porque não a compreende na sua complexidade. O seu único dogma é um liberalismo inexistente que ele quer aplicar a Portugal. Por isso, nada quer mudar no centro do poder. Porque a única remodelação necessária era Passos Coelho remodelar-se a si próprio.»

Fernando Sobral

1 comments:

Unknown disse...

Passos Coelho quer ser um leopardo mas acaba a comportar-se como uma hiena,e nunca consegue deixar de ser o láparo que sempre foi.