17.5.14

Adeus e até ao seu regresso




No dia em que, teoricamente, a troika deixa Portugal, Eduardo Paz Ferreira recorre à evocação de certas músicas para caracterizar o acontecimento, no Expresso de hoje:

«Ray Charles é um daqueles cantores imortais. Muitas são as suas canções que acompanham a nossa vida, nos bons e nos maus momentos, nos de alegria e nos de tristeza.

Na ocasião em que, formalmente, termina a missão da troika em Portugal veio-me, por exemplo, imediatamente à cabeça o “Hit the road Jack, don’t come back no more, no more”. (...)

Não duvido que não haverá muitos jovens para cantar à troika o "Hit the Road Jack", mas alguns mais velhos não cederão à tentação e, seguramente, não com o sentido original da música, que é apenas o do despejo de um namorado, que não deixa saudades, mas que não quer acreditar que isso lhe está a acontecer. (...)

Mas nessa altura, nós, que tanto gostamos de Portugal e de Ray Charles, recordaremos outra das suas mais belas canções, "Georgia", a música evocativa do seu racista Estado de origem, e damo-nos conta de que, depois de a troika passar, Portugal recuou nos tempos e aproximou-se da Georgia que nos cantava Ray Charles, uma terra pobre, intolerante, dividida, assente no poder dos ricos.

E, no entanto, mesmo em quem, como Ray Charles, sofreu essa situação, o amor pela Georgia não desapareceu, como não desaparece o nosso por Portugal. Apenas sabemos que Jack voltará, a menos que tenhamos força para dizer não e saibamos congregar os apoios e os projetos que permitam que as portas se lhe fechem definitivamente. (...)

Naturalmente que "Grândola Vila Morena" seria esperar de mais, mas o "E Depois do Adeus" vem bem a propósito e convém que tenha uma resposta, mas que a resposta não seja confusa e contraditória, como de costume, mas antes, como pedia Denzel Washington em “Filadélfia” a uma testemunha, explique-me como se eu fosse uma criança de dez anos aquilo que está a dizer.»





(Link para assinantes do Expresso)
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Lido por aí (38)

Nem só as interpretações originais são excelentes.




(Via Luís Januário)
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Europeias sem discutir a Europa




José Pacheco Pereira, no Público de hoje, pessimista e ácido, cheio de razão em muito do que escreve (*): 

«Nas eleições europeias não se discute a Europa porque a Europa que existe não interessa aos seus apoiantes que seja discutida. E a discussão da Europa que se pretende fazer, nas candidaturas do “arco da governação”, na comunicação social ainda mais europeísta, nos meios dos negócios, no “arco dos fundos”, não tem objecto, nem existe, é uma fábula. É a Europa virtual do wishfull thinking para os bem-aventadados e aquela cuja retórica serve os empregos e os negócios dos que estão “por dentro”. (...)

Hoje, a União Europeia é um monstro híbrido e perigoso, controlado por uma burocracia que detesta a democracia e que acha que “ela” é que sabe como se deve “governar” a Europa e cada país em particular. Os parlamentos nacionais são para esses burocratas o local da irracionalidade da política produzida pelos “incompetentes” dos políticos. A troika foi uma das faces dessa burocracia, que em Bruxelas, Frankfurt, e no Luxemburgo, está encostada ao poder do dia, como sempre esteve. Neste caso, o poder do dia começou por ser um directório França-Alemanha, hoje é só alemão. Se amanhã, por absurdo, fosse inglês ou russo, a mesma burocracia lá estaria encostada a legislar sobre tudo e todos, com uma única racionalidade: a Lei de Parkinson. (...)

Esta Europa, disforme e perigosa, não é de todo discutida nas actuais eleições europeias, que são em si mesmas um claro sintoma de tudo o que está mal por essa Europa fora, e pior em Portugal. À tentativa, na qual se gastam milhões de euros, de fazer com que as pessoas se interessem pela Europa e pelas eleições, soma-se o facto de não haver substância nem diferenças nas candidaturas principais. PS, PSD e CDS são hoje Dupont e Dupond.» 

(*) O link só funciona para alguns com suficiente engenho e arte.
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16.5.14

Humberto Delgado, num 16 de Maio



Em 16 de Maio de 1958, vindo do Porto, Humberto Delgado foi alvo de uma grande manifestação de apoio em Santa Apolónia, violentamente reprimida pela polícia. O governo proibiu a divulgação de notícias que referissem o número de feridos, mas as mesmas apareceram na imprensa estrangeira.



A célebre frase: «Obviamente, demito-o!» tinha sido dita seis dias antes, no lançamento da campanha para a presidência, no Café Chave d'Ouro em Lisboa, como é explicado no vídeo:

Turquia


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Lido por aí (37)


@João Abel Manta

* O próximo presidente da república portuguesa (jpt)

* O conflito entre a União Europeia e a Rússia (Luís Menezes Leitão)

* Sismo? (Luís Bernardo)
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Desigualmente desgostados



«De um lado brinda-se com cálices de Raposeira. Do outro, bebe-se por uma garrafa de Murganheira. À esquerda e à direita desatou-se ao brinde de espumante. Uns bebem a sonhar com êxitos futuros, outros querem convencer-nos de um êxito presente. Só eles descortinam razões para festa. Os eleitores que procuram entre ruas e lojas afastam-se. Nem os almoços e jantares cativam. Poucos acreditam em brindes. Muitos representantes e candidatos a representantes ainda não perceberam que os de baixo estão a deslaçar-se dos de cima. Sentem-se enganados. Perderam qualquer ilusão. Não vislumbram esperança no horizonte.(...)

Ainda assim, apesar da fadiga democrática e do estado comatoso dos partidos, é importante votar. Reconheço-me na atitude de Javier Cercas: "Voto sempre porque nem todos me desgostam por igual e sobretudo porque se eu não voto, votam por mim." Não devemos abdicar da palavra, mesmo que a Europa esteja a ser madrasta para tantos que acreditaram nela. Ou talvez por isso.»

António José Teixeira, num texto publicado no Expresso diário de ontem.
(Link acessível só para uns tantos, sem que seja fácil perceber quais.)
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15.5.14

Aníbal entre chineses



Questões evitáveis com a leitura de duas ou três páginas de um guia turístico: «Pelo caminho da sua visita guiada ao centro do poder da China imperial, o Presidente da República fez perguntas, muitas perguntas. Quis saber quantos funcionários públicos havia, quantos ministros tinha o imperador e até quantas concubinas.»

E a cereja em cima do bolo: «O poder isolado do povo não é boa coisa. Ainda por cima fechado e com 55 mulheres. O imperador tinha dificuldade em resistir.» Mau gosto e casca grossa.

(Daqui.)

Multas para quem se abstém ou vota mal?



Ricardo Araújo Pereira, talvez mais a sério do que a brincar:

«O problema das facturas com número de contribuinte ficou resolvido por meio da atribuição de prémios; o problema da abstenção pode resolver-se por meio da aplicação de castigos. (...)

Pessoalmente, admito a multa para quem não vota desde que se institua igualmente uma multa para quem vota. O cidadão votou duas vezes no Sócrates? Paga uma multa. Votou quatro ou cinco vezes no Cavaco? Paga outra multa. Votou no Passos Coelho? Paga uma multa e faz trabalho comunitário. A ver se estes leitores aprendem.»

Na íntegra AQUI.
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Europa: regresso ao passado



«Um velho e experiente diplomata português costumava dizer que a Europa estava sempre preparada para a… crise anterior. Esta simples frase resume razoavelmente a história da relação da União Europeia com o mundo desde que caiu o Muro de Berlim, varrendo de uma só vez as circunstâncias em que nasceu e se desenvolveu o projecto europeu. (...)

Ironicamente, uma nova crise pela qual não esperava, fez a Europa regressar ao ponto de partida. O “império soviético” que tinha implodido em 1991 quase em guerra, está de regresso pela mão de Vladimir Putin e com uma nova ideologia: o nacionalismo agressivo. Não deu a devida atenção às palavras do Presidente russo, em 2005, quando declarou que o fim da URSS tinha sido a “maior catástrofe do século XX”. Com altos e baixos, continuou a acreditar que o caminho da Rússia só podia ser em direcção à Europa, garantido pela cada vez maior interdependência económica. Bruxelas tratou a Ucrânia sem considerar sequer a sua particular situação geopolítica e não lhe ofereceu a cereja em cima do bolo, que constitui a promessa de adesão. Fez mais ou menos o mesmo que tinha feito antes à Turquia. Sem o magnete europeu, o país de Erdogan, que deveria ser um exemplo para as Primaveras árabes, está em rápida regressão democrática. (...)

A mudança estratégica da Rússia remeteu a Europa à casa de partida. O futuro dos europeus jogar-se-á, porventura como nunca, na Ucrânia. O que não será fácil.»

Teresa de Sousa, no Público de hoje.
(É bem provável que o link não funcione – tem-se sempre uma boa ou má surpresa, hoje em dia, com este jornal.)
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Lido por aí (36)

14.5.14

Aqui na terra


... estão jogando futebol.


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Galeano e o futebol



«Como todos os meninos uruguaios, eu também quis ser jogador de futebol. Jogava muito bem, era uma maravilha, mas só de noite, enquanto dormia: de dia era o pior perna de pau que já passou pelos campos do meu país. Como adepto, também deixava muito a desejar.(...)

Os anos passaram e, com o tempo, acabei por assumir a minha identidade: não passo de um mendigo de bom futebol. Ando pelo mundo de chapéu na mão e nos estádios suplico:
– Uma linda jogada, pelo amor de Deus! 
E quando acontece o bom futebol, agradeço o milagre – sem me importar com o clube ou o país que o oferece.»

Eduardo Galeano, Futebol, Sol e Sombra.

Só não entendo



... por que motivo o Benfica não se candidatou às Eleições Europeias. 
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Triste espectáculo de uma campanha



«Entre a falta de ideias e fechar o país para as eleições, há o discurso típico de um hospício e não de um país civilizado. Não há debate político nem alternativas e tudo não passa de uma exibição de luta livre para conquistar espectadores. O que interessa é o ruído e não a substância. E esta é, por um lado, uma Europa do sul arruinada e destruída socialmente pela austeridade cega. E, por outro, a possível entrada em Bruxelas de um forte pelotão de eleitos que querem destruir esta Europa. Ou seja, a capacidade de atracção da UE, que prometia riqueza e futuro para todos os povos, e que agora distribui pobreza e incerteza em nome da contabilidade, desintegrou-se. E agora só resta saber quem apanha os cacos.

Mas em Portugal a campanha é anedótica, como se a troika não continuasse a pairar por cá e se a vitória ou derrota do Governo não fosse algo sem valor porque todo o arco do poder tem de beber vinagre e cumprir o Tratado Orçamental.»

Fernando Sobral, no Negócios.
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Contra a abstenção




... boa sugestão para a CNE e para apelos ao voto pelo dr. Cavaco – with love.

Notícia aqui.
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13.5.14

Tortura nunca mais?


@João Abel Manta

Crónica de Diana Andringa, hoje, na Antena 1: 

Ao longo de 13 semanas pudemos ouvir, aqui na Antena 1, testemunhos de antigos presos políticos torturados pela PIDE, num notável trabalho de entrevistas de Ana Aranha, «No Limite da Dor».

Mas, 40 anos passados sobre o fim da polícia política, poderemos estar certos de que ninguém mais pode ser torturado por autoridades policiais em Portugal?

Gostaríamos de acreditar que a tortura por parte das autoridades é incompatível com a proclamação de princípios democráticos. Mas seria esquecer levianamente não só os casos mais distantes de Guantanamo e Abu Ghraib, mas também, bem perto de nós, as imagens de utilização de uma arma taser contra um preso desarmado na cadeia de Paços de Ferreira ou a acção policial contra participantes na manifestação de Novembro de 2012, nas escadarias da Assembleia da República.

Como reagiriam, então, os portugueses perante a frase «Se eu fosse detido pelas autoridades no meu país, estou confiante de que estaria a salvo da tortura?».

Infelizmente, a Amnistia Internacional não incluiu Portugal nos 21 países em que fez essa pergunta. Mas as respostas obtidas nos países abrangidos pelo inquérito não são de molde a tranquilizar-nos. Quase metade dos inquiridos, 44 %, revelou temer ser torturada caso fosse presa no seu país. No Brasil, onde movimentos como «Tortura Nunca Mais» tentam ainda desvendar todos os crimes da ditadura, sobe para 80% a percentagem dos que dizem temer ser torturados em caso de prisão. E mesmo no Reino Unido, o mais bem colocado dos países inquiridos, há 15% de pessoas a temê-lo.

Depois de tudo o que os testemunhos recolhidos por Ana Aranha aqui recordaram, essa ideia é ainda mais insuportável. Mas pior é saber que 36% das pessoas questionadas consideram que a tortura «é por vezes necessária e aceitável para obter informação que pode proteger o público».

Lembro-me de um operário da margem sul, que poderia ter sido um dos entrevistados de Ana Aranha. Conheci-o pouco depois de ter sido preso e torturado pela PIDE. Disse-me: «Se um dia isto mudar, nós não os torturaremos. É essa a nossa superioridade!»

E ocorre-me uma pergunta: Se aceitamos a tortura, em que nos diferenciamos deles?


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Liberdade de expressão e informação


Para celebrar os 40 anos da Revolução de Abril e os 15 anos da sua edição portuguesa, Le Monde Diplomatique elaborou (no nº90, Abril de 2014) um vasto dossier dedicado à liberdades constitucionais, no qual colaborei com o seguinte texto:

Liberdade de expressão e informação

No dia 25 de Abril de 1974, o primeiro direito a ser exercido pelos portugueses, mesmo antes do triunfo da Revolução estar garantido, foi a liberdade de expressão – nas ruas, na televisão, na rádio e nos primeiros jornais. Todo um povo liberto, enfim, de décadas de silêncio de chumbo.

Portugal juntou-se então, de pleno direito, à comunidade dos países defensores do artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, onde «liberdade de expressão» e «liberdade de opinião» foram consagradas em 1948, e à Europa que as ratificou, dois anos mais tarde, no artigo 10 da Convenção para a Protecção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais. Teria de esperar por 1976 para que a sua nova Constituição as explicitasse também.

Embora correspondam a dois princípios diferentes, liberdade de expressão e liberdade de opinião estão profundamente interligadas e a primeira condiciona fortemente a segunda, já que a sua ausência impede o acesso legítimo à informação, indispensável para a formação adequada de opiniões.

Quando se fala em liberdade expressão, elemento basilar de qualquer democracia até por ser corolário do direito à própria vida privada, não se pode ignorar que o mundo do século XXI está muito longe de a respeitar e que são grandes as manchas negras no mapa das regiões e dos povos para as quais ainda não deixou de ser apenas uma miragem, num horizonte que parece dificilmente alcançável. É verdade que o progresso de todos os meios de comunicação torna cada vez difícil erguer barreiras à circulação da informação, e impedir reacções rápidas e eficazes às mesmas, mas a prepotência do exercício do poder continua a impor a sua força.

E mesmo onde ela parece inquestionável, e cada vez com menos limites, está permanentemente ameaçada por um escrutínio sistemático e por um sistema de vigilância monumental, para os quais o mundo parece ter acordado recentemente com estrondo. As revelações sobre as práticas da National Security Agency (NSA), dos Estados Unidos e de muitos dos seus aliados, quanto a vigilância, em grande escala, de países, organizações e cidadãos, põe gravíssimos problemas neste domínio, na medida em que governantes violam a vida privada das pessoas e empresas fornecem dados que se tinham comprometido a proteger.

Quanto à relação entre liberdade de expressão e liberdade de opinião, se em regimes totalitários a ausência da primeira impede uma formação correcta da segunda, mesmo em democracias tão mediatizadas como aquelas em que vivemos existem fortes pressões de toda a espécie, talvez hoje mais fortes e mais graves do que no passado, que impedem o exercício desejável de ambas. Se é certo, por exemplo, que a massificação do acesso à internet dá poder a um número sempre crescente de pessoas e às suas redes, numa dimensão que seria impossível prever há poucos anos, não deixa de ser verdade que ela acaba por condicionar os órgãos de comunicação social, sobretudo aqueles que mais impacto têm nos cidadãos, como é o caso das televisões. A pressa e a leveza com que quase tudo é abordado, e muitas vezes reduzido a puros sound bites, acabam por influenciar muitíssimo a opinião pública, aquela que está para além das elites, sempre minoritárias, que são capazes de filtrar o que lêem, vêem e ouvem. Em A Tirania da Comunicação, Ignacio Ramonet fala de uma «censura democrática» que se introduz subrepticiamente nos países livres onde se respeita o direito de expressão e de opinião. Ela não se concretiza em cortes ou proibições, mas sim «na acumulação, na saturação, no excesso e na superabundância de informações» que permitem artifícios, mentiras e silêncios, que toldam a transparência do que é transmitido. A informação é tanta que pode ser dissimulada ou truncada, sem que se chegue a perceber o que falta, e torna-se mesmo naturalmente incontrolável (1). A título de exemplo, refira-se o discurso sobre a inevitabilidade do austeritarismo e do carácter sacrossanto do Tratado Orçamental, com que, nos últimos anos, somos bombardeados diariamente por um grande número de comentadores e jornalistas: a mensagem passa para a opinião pública, é assimilada por grande parte desta e torna-se banal. O mesmo está a acontecer com o uso e abuso da proclamação da necessidade de «consensos», custe o que custar, sem a preocupação de os caracterizar e de definir estratégias e conteúdos. A expressão é livre, a opinião é condicionada. Ou seja: os órgãos de comunicação social estão a estreitar quantitativamente o leque do que oferecem em termos de diversidade ideológica e ao fazê-lo, apressada e deliberadamente, exercem a tal «censura democrática» que Ignacio Ramonet refere e orientam a formação de opinião em determinada direcção, reduzindo a efectiva liberdade da mesma. No actual quadro político, são preferencialmente veículo de um neoliberalismo exacerbado, escondido em soluções apresentadas como únicas, óbvias e virtuosas.

Finalmente, se é fundamental defender acerrimamente estas conquistas tão essenciais para a vida de qualquer democracia, há que recordar que não há direitos sem baias, e que, se a nossa Constituição defende intransigentemente a liberdade de expressão, explicita também, no artigo 37 já referido, que «as infracções cometidas no exercício destes direitos ficam submetidas aos princípios gerais de direito criminal ou do ilícito de mera ordenação social». É sabido que, em Portugal, há muitos processos que chegam aos tribunais porque cidadãos, organizações, ou o próprio Estado, se sentem lesados pelo que consideram mau exercício de liberdade de expressão. Mas como funciona, de facto, o nosso poder judicial, neste domínio? Numa conferência realizada em Lisboa, em 2011, sobre «A Jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem», Francisco Teixeira da Mota lembrou que «o Estado português foi condenado 13 vezes pelo Tribunal Europeu de Direitos do Homem (TEDH) por violação do direito à liberdade de expressão», entre 2000 e 2010, essencialmente em casos de condenações «de jornalistas ou políticos à volta de críticas políticas e de expressões violentas e contundentes utilizadas, como aldrabão ou grotesco». E citou o mesmo TEDH que reafirmou que «a grande questão na liberdade de expressão é que deve permitir a circulação de informações tanto correctas como erradas, tanto inteligentes como estúpidas, tanto bonitas como feias, tanto agradáveis como incómodas» (2). Portanto, os nossos políticos que se cuidem: podemos considerá-los «grotescos» ou «palhaços» – e dizê-lo.

Neste 40º aniversário de Abril, celebremos as liberdades que conquistámos. Mas, sobretudo, lutemos pela reconquista das que fomos perdendo e pela defesa daquelas que nos querem tirar.

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(1) Ignacio Ramonet, A Tirania da Comunicação, http://pt.scribd.com/doc/2230907/IGNACIO-RAMONET-tirania-da-comunicacao, p.13.
(2) http://www.publico.pt/sociedade/noticia/portugal-condenado-13-vezes-no-tribunal-europeu-de-direitos-do-homem-por-violacao-de-liberdade-de-expressao-1495011 
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Ser eleito é fácil


... aprender a governar é que não.


Mas como dizem que a fé move montanhas (vinte e uma toneladas de velas queimadas em menos de 24 horas), pode ser que Nossa Senhora seja contra o TC! 
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Europeias e sonhos mínimos



«A campanha eleitoral para as europeias já começou e agora vamos ter de aturar doze dias de mentiras descaradas, de reescrita da história recente e de provocações do PSD e do CDS e doze dias de discursos absolutamente vazios de conteúdo do PS, dando uma no cravo e outra na austeridade, sempre empenhado em atacar o Governo com veemência ma non troppo, num daqueles exercícios de hipocrisia e de língua de trapos que são a razão do crescente desencanto dos cidadãos com a democracia. (...)

O espectáculo da campanha vai ser triste, mas o que será mais desolador será ver a quantidade de votos que os partidos do Governo vão, apesar de tudo, recolher, ilustrando as limitações da democracia. Assim como é desoladora a prevista vitória do PS, cujas promessas eleitorais e prática política se situam não no domínio da real alternativa e da construção de uma sociedade mais justa mas no domínio da nuance em relação ao PSD. (...)

E, no entanto... No entanto, há razões para continuar a ter esperança e, mais do que esperança, não faltam razões e objectivos para lutar, porque aquilo que queremos para os nossos filhos e para os seus filhos não é diferente do que queriam os homens e as mulheres de há cem anos e ninguém pode ter como ambição ser um escravo com um telemóvel no bolso. (...)

Sonhos? Sim. São os sonhos que temos o dever de exigir que os partidos realizem. Estes sonhos são a democracia. São o mínimo que podemos exigir.» 

José Vítor Malheiros, no Público.
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Única solução


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12.5.14

Lido por aí (35)

Deve ser assim que se chega a primeira potência mundial



Casais chineses apressam-se a ter filhos antes do Ano da Ovelha.

N.B. – A notícia é do Público propriamente dito, não do Inimigo Público.

«Muitos casais estão a tentar desesperadamente engravidar antes do fim de Maio, numa corrida contra o tempo para que os seus bebés nasçam no auspicioso Ano do Cavalo. Não querem ter um bebé em 2015, o temido Ano da Ovelha.

As ovelhas são bichos mansos cujo destino é o matadouro. Diz a superstição que, quando crescerem, os bebés nascidos no Ano da Ovelha vão tornar-se seguidores e não líderes. Muitos chineses acreditam que estas crianças serão infelizes no casamento e não terão sucesso nos negócios. (...)

Os profissionais de Saúde confirmam que a procura de consultas de fertilidade aumentou nos últimos meses. E alguns médicos mostraram-se preocupados por se poder vir a assistir a um correspondente aumento de abortos no final do ano, quando os casais fizerem as contas e perceberem que os filhos não vão nascer no Ano do Cavalo. Segundo o calendário lunar chinês, o Ano da Ovelha (também chamado da Cabra ou do Carneiro) começa a 19 de Fevereiro de 2015, por isso a janela para a concepção termina no fim do mês. Muitos casais estão a ir ao médico perguntar se podem adiantar o parto fazendo uma cesariana.»

Mas a Terra continua a girar à volta do Sol. Mesmo durante o Ano da Ovelha – digo eu... 
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E depois do DEO



Quis saber quem sou,
O que faço aqui,
Quem me abandonou,
De quem me esqueci.

Uma sondagem de CM/Aximage, sobre intenções de voto em eleições legislativas, realizada nos dias 2 a 5 de Maio (portanto, já após a apresentação do DEO), revela os resultados inscritos na imagem.

Aumento de IVA e da TSU fizeram com que o PSD perdesse 1% e o CDS aumentasse 0,8% – danos colaterais mínimos, portanto, para a coligação (-0,2%) –, quando comparados com os ganhos do PS: 0,1%.

Ou seja: Tout va très bien, Madame la Marquise!
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O Estado é deles?



«Portugal nunca teve um rei Luís XIV a dizer que “o Estado sou eu!” Mas tem tido demasiados políticos, ao longo dos séculos, que se têm comportado como se eles fossem o Estado.

Apropriaram-se do conceito e domesticaram-no: “O Estado é nosso!” A confusão não permite, por isso, qualquer reforma verdadeira. O Estado partidarizado e refém de grupos que se sucedem a colher os seus frutos e os impostos dos cidadãos não se reforma. Mascara-se. (...)

O Governo não quer mudar de modelo, porque isso implicaria o fim da partidarização e o fim do Estado como centro de emprego para os pajens e de distribuição de benesses para quem tem acesso à feijoada do Orçamento.

Reformar é ter melhores serviços públicos com menos impostos e não cortá-los (como se tem feito), enquanto se aumenta impostos. O problema é que os partidos olham para o Estado e acham que ele é propriedade privada. Sua.»

Fernando Sobral, no Negócios.
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11.5.14

Cúpulas e mais cúpulas (21)



Igreja do Rosário, San Salvador (El Salvador, 2014)

Esta «cúpula» tão estranha exige uma explicação. A igreja foi encomendada ao arquitecto e escultor Rubén Martínez, mas o projecto arquitectónico que apresentou foi considerado tão ousado que não recebeu a aprovação das autoridades eclesiásticas locais, tendo o seu autor recorrido para o Vaticano que acabou por autorizar a construção.

Rubén Martínez quis criar um espaço interiormente aberto, em forma de arco, sem pilares que tapassem a visibilidade e com a luz filtrada por um conjunto magnífico de vitrais coloridos. O resultado é espectacular. É também o autor das catorze esculturas que compõem uma Via Sacra lindíssima.




Duas das estações da Via Sacra:




(Para ver toda a série, clique na Label: «CÚPULAS».)
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Um jornal, três títulos, um destino



A escolha podia ser sido outra, o resultado não seria muito diferente. Enquanto não for quebrado o círculo vicioso que estas frases retratam, não vamos lá. Alguma dúvida?

(Do Público de hoje.)
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Lido por aí (34)


@João Abel Manta

* As revelações de O Capital no Século XXI (Paul Mason)

* O novo fascismo (António Guerreiro)

* Por que a extrema-direita sobe na Europa? (Ignacio Ramonet)
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Quando todos queriam construir o socialismo



No dia 11 de Maio de 1975, teve lugar na RTP um debate (coordenado por Ramiro Correia, membro do Conselho da Revolução), no qual participaram representantes dos partidos que faziam parte do Governo Provisório: Magalhães Mota (PPD), Mário Soares (PS), Pereira de Moura (MDP/CDE) e Álvaro Cunhal (PCP).
Notícia detalhada a ser lida aqui e aqui, fica o resumo:

11 de Maio também foi Domingo, também havia Sol em Portugal, o Benfica ganhou ao União de Tomar por 3-1, mas eram bem diferentes os amores e os humores. Como foi diferente tudo o que se seguiu. Ámen. 
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A aventura que mudou o mundo



Francisco Louçã, Tabu, Sic Notícias, 9/5/2014.
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