9.8.14

Nagasaki para além da bomba


A acção da célebre ópera de Puccini, Madame Butterfly, passa-se em Nagasaki e relata uma relação trágica entre um oficial da marinha americano e Cio-Cio-San (butterlfy ou borboleta), uma gueixa de 15 anos.

Entre 1915 e 1920, o papel de Cio-Cio San foi interpretado por uma célebre cantora japonesa, Tamaki Miura, e há uma estátua sua, e outra de Puccini, no magnífico Jardim Glover que se situa numa colina sobre Nagasaki e ao qual se acede pelo maior e mais íngreme complexo de escadas rolantes, que alguma vez me foi dado ver e utilizar.


(Maria Callas)

Aí se visita também a residência de Thomas Blake Glover, um empresário escocês que muito contribuiu para a modernização industrial do Japão - uma lindíssima casa de estilo ocidental, a mais antiga que resta naquele país.
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Uma vida em jeito de casino



... ou mesmo de roleta russa, já nem sei.
Esta não pode ser a única maneira de se gerir o mundo, ou este transformar-se-á, mesmo, num mundo cão.


«A Bolsa portuguesa está a ser uma das vítimas do colapso do Banco Espírito Santo (BES). Só na última semana o índice PSI-20 perdeu 7% da sua capitalização bolsista e já desliza 17% desde o início do ano. Os bancos cotados lideraram as descidas. (...) Mas a semana não foi só má para os bancos. Com a excepção da Jerónimo Martins, as restantes cotadas do PSI-20 sofreram a saída de investidores. Várias delas desceram mais de 10%, como a Mota-Engil, e nem mesmo empresas como a Galp Energia escaparam à fuga de investidores. A petrolífera recuou 5% esta semana. A crise do BES não explica tudo. As tensões geopolíticas em redor da Ucrânia, e agora no Iraque, agitaram os mercados e penalizaram as bolsas, com destaque para as da periferia europeia.»
(Expresso, 9/8/2014, 1º Caderno, p. 40) 
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Pena que seja uma montagem...


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Nagasaki - há 69 anos



Fundada por portugueses em 1570, Nagasaki é recordada sobretudo por ter sido vítima da segunda bomba atómica lançada pelos Estados Unidos no Japão, seis dias antes da rendição deste país e do subsequente fim da Segunda Guerra Mundial.

Fala-se mais da tragédia de Hiroshima por ser cronologicamente anterior, mas o número de mortos e de feridos foi sensivelmente o mesmo nas duas situações e o engenho que destruiu a parte Norte de Nagasaki, em menos de um segundo, até era mais potente mas caiu num vale e teve efeitos amortizados.


Actualmente, existe em Nagasaki um belíssimo Parque da Paz. Quem já lá esteve não esquece.





(Republicação)
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8.8.14

Para que conste



(Via página de humor do Diário do Alentejo no Facebook.)
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Embrulhem, embrulhemos



Na sondagem SIC/Expresso da Eurosondagem, feita já este mês, são estas as previsões para resultados de eleições legislativas.

Os únicos partidos que sobem são PSD e CDS e, em conjunto, ultrapassam o PS . Ou seja: parece que a vontade de mudança não é tão grande assim. A esquerda que continue a pedir «Eleições, já!» – a direita agradece.

E quanto a popularidade dos políticos, quem é o maior? António José Seguro, de longe! (Ver aqui.)

O país segue dentro de ...alguns anos? ... algumas décadas? Bom fim-de-semana.
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Lido por aí (91)


@João Abel Manta

* E depois do BPN e do BES? (Jorge Bateira)

* Notícias do manicómio, ao estilo inimitável de Vasco Pulido Valente (Francisco Louçã)

 * A americanização da política (José Manuel Pureza)
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O enterro do tostão



«Há muitos anos o grande grupo português A Banda do Casaco gravou um tema ácido: "O Enterro do tostão". Foi antes do fim do escudo, foi anterior ao nascimento do euro.

É do tempo em que a televisão não era a cores, mas era a preto e branco. Simbolizava a descrença com os sonhos nascidos em 1974. (...)



Estávamos em 1978 e caminhávamos para a primeira intervenção do FMI em Portugal. O jardim, excepto nalguns momentos de fotossíntese, nunca deixaria de estar ao Deus dará. O enterro do tostão era, na realidade, o dobrar dos sinos por todas as esperanças. Portugal não aprendeu nada. Os portugueses substituíram o mar como destino, pela terra europeia onde eram considerados o fim do mundo. (...)

O dinheiro fácil foi o oásis no deserto de ideias, o sucesso próprio o seu salvo-conduto. Por isso voltamos a ter cada vez mais portugueses fora. Só que desta vez não voltarão. Nem para comprar uma casa na província, nem mandando remessas chorudas. (...)

A forma como a moral e a ética são tratadas ao pontapé. O enterro definitivo do tostão é isso. É o enterro final da ilha dos Amores que Camões sonhava ser o destino de Portugal: quando os portugueses seriam deuses por terem desafiado tudo com o seu vigor e trabalho. Vive-se o fim de uma era e não se vislumbra uma substituta. Só se vê um pântano, onde os interesses de um reduzido círculo de poder tudo impõem, onde nas PPP as mesmas pessoas estão dos dois lados da barricada, onde os ministros passam a administradores e estes a ministros, onde a desigualdade social atira-nos para o Portugal a preto e branco dos anos 60.

Um país que continua a viver dos impostos e do comércio externo. E da esperteza e do contrabando. Olha-se à volta e todas as esperanças estão a ser enterradas. Perante o olhar impávido da classe política e o salve-se quem puder de quem deveria e poderia criar riqueza. Estamos ao Deus dará.»

Fernando Sobral, no Negócios.
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7.8.14

Poucos médicos? Acelerem



Leio com perplexidade os resultados de um trabalho de auditores do Tribunal de Contas (TC), noticiados hoje no Público. Se há recomendações razoáveis, por exemplo relacionadas com diminuição do peso administrativo no trabalho dos clínicos, aquela que vem resumida no parágrafo que a imagem mostra deixa-me boquiaberta. 


Eu não sei se um médico de família deve gastar, em média, 1, 11 ou 21 minutos com cada doente. Mas o que não me parece é que os técnicos do TC tenham mais competência do que eu para se pronunciarem sobre durações de consultas e apontarem 15 minutos (se for considerado «razoável»...), apenas para chegarem a um número simpático: quase mais 10,7 milhões de consultas. É tudo assim tão simples? Então eu ajudo: se em vez de 15 forem apenas 7,5 minutos, teremos mais 21,4 milhões de encontros, embora breves, entre doentes e médicos de família. O número destes passará então a ser excessivo e muitos poderão alimentar o fluxo da nossa emigração qualificada.

Esta silly season está mesmo perigosa!
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Mais do que oportuno



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Isto não vai acabar bem

Salgado não será Qin



A família Espírito Santo não terá réplicas em terracota, enterradas em Comporta-Xian.

Da cónica de Fernando Sobral, no Negócios de hoje.

«Qin, o imperador que unificou a China, foi enterrado com os seus guerreiros. Uma obra de arte, que não se esgotou nas réplicas dos seus soldados.

As mulheres, os acrobatas ou os músicos, veio depois a descobrir-se, também surgiam em terracota. Qin não queria ser recordado apenas como o supremo mestre da arte da guerra. Desejava deixar, como herança, o seu mundo ideal.

Até há muito pouco tempo o BES e a família Espírito Santo pareciam, aos olhos dos portugueses, o último bastião de Portugal. Sobreviveriam a ele, como Qin. Continuariam apesar da destruição da classe média, da austeridade fria, do fim do Estado como entidade acima de qualquer suspeita, da corrupção política, da ineficácia da justiça, da emigração, da negação de qualquer futuro aos portugueses.

Os Espírito Santo teriam o seu exército de terracota, como o que restava de uma saudade sem rumo. O colapso do BES é simbólico. Representa o fim de qualquer crença. (...)

A UE é um castelo de Kafka e o refúgio dos Carlos Moedas deste mundo. O BES está a ser coberto de terra, ao som dos sinos. Acontece. Mas depois do que aconteceu é difícil que os portugueses acreditem em mais alguma coisa.»
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6.8.14

Segue-se uma Santa Casa Boa e uma Santa Casa Má?

BES: de 640 milhões a zero euros em dois meses



«A última avaliação feita à marca BES colocava o seu valor nos 640 milhões de euros. Os dados constam do prospecto do último aumento de capital do banco que decorreu entre o fim de Maio e o princípio de Junho deste ano. O valor da marca Banco Espírito Santo era um dos argumentos para tentar convencer os investidores a apostarem no aumento de capital do banco de 1044 milhões de euros. (...)

Há dois meses, as informações tornadas públicas para convencer investidores parecem ao dia de hoje retiradas de um livro de ficção. (...)

Reunia o consenso ibérico pois era “a instituição financeira com maior peso de recomendações de “compra/manter” na Península Ibérica por parte dos analistas.

Razões de sobra, segundo o BES, para investir no aumento de capital operação que iria permitir ao banco figurar entre “os bancos ibéricos mais capitalizados em termos de rácios de solvabilidade, o que lhe permitirá enfrentar os desafios futuros de forma independente e sem se desviar da sua estratégia.”»

João Vieira Pereira, no Expresso diário de ontem.
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E por falar em 6 de Agosto




1966
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Hiroshima, 6 de Agosto de 1945



Nunca mais vivi esta data da mesma maneira desde que passei um dia em Hiroshima. O horror foi há 69 anos, o espaço é hoje bonito e calmíssimo, com jardins e memoriais, mas o Museu do Holocausto lá está para tudo recordar e para mostrar objectos como aquele relógio que marca a hora a que a bomba explodiu ou este (terrível) pequeno triciclo que fotografei.






Hoje é assim:



(Republicação)
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5.8.14

Lido por aí (90)

Sim, eu devo algo ao BES



Por puro acaso, foi banco onde nunca tive conta e, menos por acaso, nem qualquer outro interesse ou negócio. Mas, no início da década de 90, por motivos profissionais, participei em muitas, longas e dolorosas reuniões naquela instituição, onde se discutia a aquisição à IBM de um novo mega sistema informático que nunca chegou a ver a luz do dia.

O Crédit Agricole era então quem mais mandava (ou quase...) no domínio em questão, era frequente que alguém se deslocasse de Paris a Lisboa para as ditas longas negociações, mas, a páginas tantas, foi decidido que era eu que tinha de fazer a viagem em sentido inverso para defender uma determinada solução, numa reunião com vários intervenientes franceses. Talvez já nem me lembrasse do facto, não se desse o caso de o evento ter acontecido no último andar da Tour Montparnasse e de eu ter tido assim a possibilidade de me deslumbrar com a mais bela vista possível de Paris (melhor que a da Torre Eiffel, sim), à hora certa: pouco antes do pôr do Sol. Inesquecível, inigualável. Fico a dever esta ao dr. Salgado, que seja para desconto dos seus pecados...

«Regressa» hoje esta história quando leio que o Crédit Agricole se diz «traído» e processa a família Espírito Santo. Não posso deixar de sorrir: ainda bem que a presciência é apanágio dos deuses porque não me imagino a ter lido este título há uns 20 anos! 
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Com o falhanço da D. Inércia



... o Ronaldo está a tentar vender os ministérios da Praça do Comércio?

«Cristiano Ronaldo divulgou a sua nova colecção de roupa interior, projectando a sua imagem em sete cidades (Lisboa, Nova Iorque, Paris, Milão, Madrid e Berlim). Esta foi a sua imagem na Praça do Comércio em Lisboa.» 
(Via Lisbon Lux no Facebook.) 
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Banco Novo, Banco Velho, Banco de Portugal



De um texto de José Vítor Malheiros, no Público de hoje «Novo Banco, Velho Banco: mais uma viagem, mais uma corrida». (Texto na íntegra acessível a assinantes e mais alguns.)

«O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, lá acabou por admitir que nos tem andado a enganar. Não o disse por estas palavras nem com esta clareza, claro, mas lá o disse, no cuidado fraseado que a banca e as "entidades reguladoras" usam, recheado de jargão técnico e de eufemismos elegantes.

Afinal era mentira que os problemas do Grupo Espírito Santo fossem totalmente independentes do BES, era mentira que tudo estivesse bem no BES, era mentira que o BES tivesse uma almofada financeira suficiente para colmatar os buracos do crédito malparado e das imparidades, [etc, etc, etc.] (...)

Ou seja: se tudo tivesse acabado em bem, o Banco de Portugal teria podido manter a sua ficção até ao fim. Mas, como não acabou, a ficção acabou por se revelar uma fraude. Seja porque o Banco de Portugal não percebeu o que se passava no BES, seja porque percebeu e não quis agir de forma determinada para não "alarmar os mercados", esperando que o Espírito Santo (o da Santíssima Trindade) resolvesse as coisas, a credibilidade da instituição, do seu governador e dos seus funcionários, justa ou injustamente, saiu ferida de morte.

O que quer isto dizer? Que não existe nenhuma razão hoje (se é que existiu alguma vez no passado) para acreditar no que diz o Banco de Portugal sobre o BES, o GES, o Novo Banco, o Tóxico Banco, ou Qualquer Outro Banco. (...)

Para descansar os contribuintes, o BdP garante que o Velho Banco não vai receber um tostão e que deverão ser os seus accionistas a arcar com o prejuízo e que o Novo Banco não vai recorrer a dinheiro dos contribuintes. Mas o que são os 4400 milhões "da troika" senão dinheiro dos contribuintes, sobre o qual temos andado a pagar juros? Será que o Novo Banco nos vai ressarcir de todos os custos que tivemos com este dinheiro, que pedimos emprestado (especialmente para o BES?), somando-lhe um belo juro? E o que é o buraco nas empresas do GES e do Velho Banco senão dinheiro roubado aos portugueses, que desapareceu das poupanças, do investimento, da economia e da receita fiscal?

Será que o BdP nos garante que nada de semelhante vai voltar a acontecer, como já nos disse quando do caso BPN? Talvez garanta. Mas não há razões para acreditar.» 
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4.8.14

Lido por aí (89)


@João Abel Manta

* Vão ver que é o Tóino a ir preso (Ferreira Fernandes)

* Tudo feito em cima do joelho (José Pacheco Pereira)

* Banco bom e Banco mau (Luís Menezes Leitão)
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O banco novo e a «pipa de massa» que vai engolir



De um texto de Nicolau Santos, publicado hoje no Expresso diário: «Um funeral, dois nascimentos e um na corda bamba». (Link para assinantes). 

«A solução tem o carimbo de Frankfurt e é a primeira vez que se estreia na Europa. Matou-se um banco e nasceram dois irmãos: um está destinado a ter vida curta mas nasceu em berço de ouro; o outro será sempre um pária, que se vai arrastar por muitos e bons anos. (...)

A solução gizada e que tem a chancela do Banco Central Europeu e assenta no fundo de resolução, que todos os países da zona euro foram obrigados a criar, para que futuras insolvências de instituições financeiras não venham a ser pagas pelos contribuintes mas sim pelo sistema bancário como um todo. Contudo, o facto desse fundo só ter arrancado no final de 2012 faz com que tenha em caixa pouco menos de 400 milhões de euros. Ora o lindo e novo banco que hoje abriu portas ao público necessita de um capital inicial de 4,9 mil milhões de euros. Os 4,5 mil milhões que faltam virão do fundo de resgate, no valor de 12 mil milhões (dos quais ainda resta um pouco mais de metade), instituído no âmbito do programa de ajustamento de Portugal com a troika e deverão ser taxados a 8,5%, a mesma taxa de juro paga por BPI, BCP e Banif quando recorreram a esta linha de crédito. (...)

Parafraseando Durão Barroso e a sua popular expressão, agora só falta que alguém (ou vários 'alguéns') dê "uma pipa de massa" pelo Novo Banco, para que o Estado (ou melhor, os contribuintes) não acabem a pagar parte dos 4,9 mil milhões de dinheiros públicos que lá foram metidos para o pôr a funcionar. Sim, porque não haja ilusões. Isto é uma nacionalização. Esta magnífica solução privada só funciona porque há milhões de euros do domínio público lá metidos. Veremos, no final, se o Novo Banco é mesmo um lindo cisne, se o banco mau é mesmo mau, se o governador resiste à procela e se os contribuintes se safam de pagar mais um grande exemplo da excelência da gestão privada.» (Realce meu.) 
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Banco Bom


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Uns verdadeiros artistas



Nem um nome (originalíssimo, btw...) sabem escolher:

Nova marca do BES está registada pelo... BCP.

Boas férias, portugueses



Tá-se bem, aqui na Manta Rota.

Mando-vos um Novo Banco. Quanto ao outro, não se esqueçam do Capuchinho Vermelho: a história não acabou bem para o lobo mau. E não dêem importância a mais alguns milhões de euros – isto vai, eu sei que vocês aguentam.

Beijinhos meus e da Laura.
Pedro
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