10.1.15

Eleições nacionais que são europeias


O texto de Sandra Monteiro em Le Monde Diplomatique (ed. portuguesa) de Janeiro de 2015:

«Pode parecer um paradoxo. Depois de um alheamento de décadas em relação aos debates sobre a construção europeia, visível na abstenção em actos eleitorais europeus e na tendência para eles serem marcados por questões internas, a sociedade portuguesa vai ser confrontada este ano com as suas eleições legislativas mais europeias de sempre. Como no passado, muitos se encarregarão de obscurecer as interligações que existem entre as diferentes escalas de definição das regras políticas e económicas que determinam a vida de todos os dias. A falta de informação plural, de debate público e, portanto, de participação democrática, têm sido elementos centrais da construção neoliberal europeia.

O mesmo vai acontecer noutros dois países da União Europeia. Na Grécia, haverá eleições antecipadas a 25 de Janeiro e, em Espanha, elas estão previstas para Novembro deste ano. Tal como em Portugal, as populações destes países têm sido mortificadas pelas consequências da crise financeira. À explosão do desemprego e da precariedade, à corrida para o abismo dos baixos salários, à escalada da pobreza, ao colapso dos serviços públicos e ao endividamento público vieram juntar-se a perda de instrumentos políticos e económicos que seriam essenciais para recuperar a economia e reconstruir um tecido social despedaçado.

Apesar das vagas promessas de alterações menores na governação da arquitectura europeia – como as de Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE) –, não pode ser excluída uma nova crise do euro e, sobretudo para os países mais endividados, a exposição aos perigos de uma deflação cada vez mais ameaçadora (crise do investimento e da procura, redução de preços mas também de salários, aumento do desemprego, aumento do valor da dívida, etc.). A tempestade perfeita continua a acumular-se sem que nada seja feito, em termos estruturais (instituições, tratados, moeda), para inflectir significativamente as políticas austeritárias. As instituições financeiras do centro, essas, já conseguiram restabelecer-se, livrando-se da dívida de países cada vez menos capazes de as pagar.»

(Continuar a ler AQUI.)
.

0 comments: