5.3.15

A Europa de Tulius Detritus



«Alexis Tspiras acusou Portugal e a Espanha de formaram um "eixo contra Atenas". Yanis Varoufakis vai a Itália e numa entrevista insinua que também os italianos têm uma dívida insustentável. Portugal queixa-se de Tsipras ao Eurogrupo. O Governo grego diz que Tsipras foi mal interpretado. A Espanha anuncia que a Grécia vai pedir um terceiro resgate num montante que oscila entre os 30 e os 50 mil milhões. O Eurogrupo desmente. Uma questão de semântica. Não é um resgate é um contrato. O presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, e a chanceler alemã, Angela Merkel, consideram ser prematuro falar da questão. (...)

Confuso? Tem razões para isso. Por estes dias, a Zona Euro está transformada numa espécie de Gália, repleta de Tulis Detritus, a personagem criada por Albert Uderzo e René Goscinny em "A Zaragata". Nesse livro de Astérix, Tulis Detritus é um exímio especialista em intriga, arte que lhe permite semear a discórdia entre os gauleses com o objectivo de os desunir, abrindo assim caminho para a vitória dos romanos.

A intriga de hoje, especialmente alimentada pelos gregos e engordada com o contributo de muitos outros, entre os quais Portugal e Espanha, pode ser eliminada à medida que os factos se sobreponham à inocuidade dos discursos demagógicos. Contudo, Tulius Detritus veio para ficar na Zona Euro. Ou seja, por muitos esclarecimentos que se façam, a desconfiança irá sempre predominar entre os membros do euro e da própria União Europeia.

Ao contrário de "A Zaragata" que diverte, este Tulis Detritus colectivo europeu provoca tristes sorrisos. O que falta a esta Europa é seguir o conselho do filósofo grego Aristóteles: "o sábio não diz tudo o que pensa mas pensa sempre tudo o que diz". »

Celso Filipe

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