28.4.15

Bloqueio político



«Entre o programa económico do PS e a reforçada coligação do PSD e CDS há, também, um traço comum: ambos são filhos do Tratado Orçamental da UE. Mas, até ver, a sociedade portuguesa ainda não transformou a sua crescente pobreza e desintegração social numa recusa do regime e do arco político do poder. Há um consenso falso e uma coesão social semelhante a porcelana que, ao contrário do que pede Cavaco Silva, pode quebrar-se sonoramente a qualquer momento.

Há centenas de milhares de desempregados que nunca voltarão ao mercado de trabalho ou se voltarem, nestes tempos de desvalorização do valor do trabalho, viverão com uma máscara de oxigénio. Porque os partidos que lutam pelo poder não têm alternativas face ao que pede a Europa das decisões burocráticas. O programa do PS torna-o mais liberal. O anúncio da coligação torna-a mais resistente a futuras alianças com estes protagonistas. Mas, no fundo, entre as loas a uma economia de exportação e os vivas a uma de consumo interno, os partidos do arco do poder olham para o país que está a falecer e a um novo que ainda não decidiu nascer, como diria Antonio Gramsci.

O bloqueio político, a corrupção latente, a tutela da UE e do BCE, a sociedade "low cost" implantada, a falta de investimento, são blocos de betão quase impossíveis de remover. Por isso este país está bloqueado. (...) Só se oferece uma pobreza remediada sem futuro em troca do poder. É pouco.» (Os realces são meus.)

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