6.4.15

Grécia em tempos de Páscoa



«A UE está sentada (não é piada à Schäuble), à espera que a Grécia recue. Tem sido um triste espectáculo. Do meu ponto de vista, a Grécia é um náufrago dentro de água em alto mar que quer salvar o bote da Europa, avisando que está a meter água, mas os que estão no bote dão-lhe com o remo porque pensam que ela quer é salvar-se, subir a bordo e ficar-lhes com a comida. Fiquei enjoado, e não foi da ondulação.

Sei que pode parecer estapafúrdio, mas é para isso que me pagam: eu acho que, de certa maneira, os gregos são Jesus Cristo. Obviamente, vão acabar por morrer para nos salvar dos nossos pecados. É uma pena, mas vai ter de ser. E nós, de certa forma, no momento em que fomos considerados, por Schäuble, como exemplo do sucesso da política de austeridade, sem que a nossa ministra das Finanças tivesse um ataque de riso, ou de profundo choro, acabámos por fazer um belo Judas. (...)

Varoufakis está, neste momento, a ser julgado por ter andado a dizer que ia salvar o mundo e que fazia milagres. Teorias novas, que nunca tínhamos ouvido porque não havia alternativa aos nossos deuses. Teorias que assentavam na preocupação com os pobres e os que menos têm. Varoufakis afirmava ter multiplicadores capazes de fazer o tal milagre da multiplicação. O que faz Juncker quando apanha o Cristo Varoufakis no seu tribunal? Lava as suas mãos. O Schäuble que decida. (...)

Poderá a Grécia erguer-se do túmulo ao fim de três dias? Parece-me demasiado optimista. E em três anos? Se isso acontecer, poderá a palavra de Varoufakis espalhar-se pelo mundo e mudar tudo? Não faço ideia, e só consigo justificar o caminho que este texto tomou com o facto de eu gastar do mesmo talho que o João César das Neves. Devem andar a pôr drogas no acém. »

João Quadros

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