15.6.15

O FMI que ainda anda por aqui



«Um menino entra pela mão da mãe numa pastelaria. Lá dentro uma senhora come um bolo. O menino olha sofregamente para o dito, transmitindo sinais de uma fome avassaladora. A senhora condói-se e oferece um bolo ao menino que o come num ápice. A mãe pergunta então ao filho: o que se diz à senhora? E o menino responde, com um misto de desfaçatez e ausência de boas maneiras: – quero outro.

A anedota é conhecida. Com uma mudança de protagonista. O menino é o FMI. Ou melhor, os seus técnicos, que se mostram insensíveis e vorazes. Depois de uma nova missão técnica a Portugal, o FMI insiste em mais cortes nos salários e nas pensões e diz que só assim será possível ao Governo cumprir a meta do défice de 2,7% para este ano.

Esta atitude é abusiva e revela a soberba dos tecnocratas. Para os técnicos do FMI, os políticos e os governantes de um país deviam ser apenas os amanuenses que aplicam as disposições que eles decidem abstractamente no recato dos seus gabinetes. (...)

Naturalmente, as conclusões do FMI agradam à oposição e indispõem o Governo. Só que, tanto para um como para os outros, aceitar que o Fundo concentre as atenções do debate político, é uma faca de dois gumes. O mesmo PS que agora usa os alertas dos técnicos para atacar o Governo, tem de aceitar como válidas as críticas que o FMI possa fazer quando e se chegar ao poder. E o actual Governo não pode agora atirar pedras do Fundo e a seguir exibi-lo como trunfo, caso as avaliações futuras lhe interessem.

Ou seja, o poder político legitima a intromissão do FMI e com isso deixa-se aprisionar por um outro poder, o tecnocrata, que se mostra cada vez mais prepotente e insaciável.

Depois queixam-se…»

Celso Filipe

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