25.6.15

O jardim de Salgado



«Os políticos também se dividem entre surpresa e suspense. Um caso paradigmático é o do arquitecto que se transformou em político, mas que nunca deixou de ser um Le Corbusier em formato kinder surpresa. Desde há anos, quando acampou na Câmara Municipal de Lisboa, que não há surpresa sobre as suas acções. Há apenas suspense. Por isso ninguém pode ficar de boca aberta por o vereador vir considerar que a estação de Santa Apolónia deve encerrar porque tem um enorme "potencial" como jardim.

A questão não é, sequer, encerrar uma estação histórica e fingir que ela não continua a ser um pólo de circulação na zona central de Lisboa. Sabe-se que esta, para a CML, é uma Disneylândia, como é visível entre o Terreiro do Paço e as principais artérias da Baixa, fechadas a qualquer dia para eventos comerciais ou desportivos que poderiam ter lugar junto ao rio. Isto enquanto, à volta, tudo se degrada. (...)

Lisboa tornou-se um postal ilustrado. Os jardins da Celeste é que escusam de servir de álibis perfeitos para a pouco admirável cidade nova que está a ser construída contra os seus habitantes e memórias.»

Fernando Sobral
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