2.6.15

Quando até os cruzeiros matam



Um terrível naufrágio, provocado por um ciclone repentino, terá causado a morte a muitos dos 458 passageiros, quase todos chineses, que faziam um cruzeiro no rio Yangtze. Pelas imagens que vi, não se tratava de uma barcaça superlotada (bem longe disso), mas sim de um barco sólido, de quatro pisos e com capacidade para mais de 500 pessoas, muito semelhante àquele em que fiz parte do mesmo percurso, há cerca de onze anos.

Nesse tempo, não me parece que muitos chineses fizessem já turismo deste tipo e o drama de envolvia o Yangtze tinha a ver com as consequências da construção da Barragem das Três Gargantas, que fez subir as águas do rio e desaparecer do mapa muitas aldeias, com a consequente mudança de mais de um milhão de pessoas para outras paragens. O processo ainda estava então em curso e, através do guia que me acompanhava, «conversei» com uma rapariga que vendia bugigangas a turistas, junto de um pequeno pagode, numa escarpa onde um bote nos deixou. Explicou que ia sair dali e que a família já deixara aquele local que, pouco tempo depois, ficaria inundado. Estavam agora longe? Não, nem por isso: só a dois dias de viagem, de comboio…

Entretanto, a empresa da barragem das Três Gargantas «comprou» a luz que chega a nossas casas, muitos chineses já passeiam em cruzeiros e o Yangtze – que eu vi sempre como um perfeito lago – engoliu centenas deles. O mundo mudou muito desde 2004.



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