29.7.15

Eleições à vista, trincheiras cavadas



«Groucho Marx dizia que nunca faria parte de um clube que o aceitasse como sócio. No mundo dos partidos políticos há quem considere que é um direito fazer parte do selecto grupo que se elege para o Parlamento.

Agora que se começam a conhecer as listas de candidatos, no meio de alguns amuos de quem se julgou merecedor de um lugar em S. Bento, há algo que parece evidente. Quando está na oposição e muda de líder, um partido com ambições de poder ceifa os anteriores marajás e avança com caras mais ou menos refrescantes. Quem está no poder cerra fileiras e coloca à sua volta a guarda pretoriana a que vulgarmente se chama aparelho. (...)

Cada um dos blocos cavou a sua trincheira. E agora espera que o adversário surja em campo aberto. À falta de alternativas sólidas que tragam uma química diferente às eleições, os partidos do arco do poder mudam, ou não, as caras que surgem no cartaz eleitoral e esperam a decisão de quem está agastado, inseguro e sem capacidade para vislumbrar o futuro. O bipartidarismo em Portugal pode vacilar, mas não há radicalismo à vista: o centro renasce sempre das cinzas do desencanto dos cidadãos. O problema é que não se vislumbra um oxigénio saudável em muitas das escolhas: tudo parece dióxido de carbono. Tudo é previsível. O clube continua a ter os mesmos sócios.»

Fernando Sobral

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