23.7.15

São as eleições



«As eleições são como o gás, ocupam todo o espaço. Mesmo que ele seja inodoro. Mesmo que os dirigentes dos partidos políticos digam que não querem saber delas e que reneguem a simples hipótese de estar a fazer algo que signifique ganhar um voto.

Os partidos políticos existem, em democracia, para ganhar eleições e ocuparem o poder. Numa era em que os estadistas foram substituídos por políticos precários, as eleições são a fábrica de chocolates de Willy Wonka: todos querem lá entrar para nadarem no cacau doce mesmo que digam que não. Saborear o açúcar do poder é melhor do que ficar a imaginar como será. Por isso as eleições são a bússola de todos os políticos.

Não se percebe porque é que umas inocentes palavras de Jean-Claude Juncker causaram um reboliço nas cúpulas do poder em Portugal. Juncker, obliterado pelo Eurogrupo e pela Alemanha, tem de demonstrar que não é o culpado do caos sem fim na Grécia. Por isso sacudiu as culpas para os transeuntes mais óbvios: Irlanda, Espanha e Portugal. Segundo ele, os três opuseram-se a que um alívio da dívida pública grega fosse discutido antes das legislativas. Passos, ofendido, veio patinar na maionese: "Digamos que há uma meia verdade e um meio mal-entendido." Cavaco Silva, melindrado, apoiou Passos, dizendo que as afirmações de Juncker "não correspondem absolutamente nada" às informações de que dispunha.

Imagina-se também que os ziguezagues nas negociações na UE por causa da Grécia também nunca tiveram a ver com os interesses eleitorais de alemães, franceses, finlandeses e holandeses. Nesse aspecto, Passos Coelho é um anjo intocável: se defendeu os votos que lhe podem dar uma vitória legislativa não fez mais do que os outros. O que mostra a hipocrisia que reina hoje na UE: todos pensam nas eleições, mas uns pensam mais do que os outros. Crê-se no dogma que aliviar a dívida à Grécia ou ser magnânimo faz perder votos. E, entre tanta "solidariedade" europeia, é só isso que está em causa: a devoção aos votos.»

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