9.9.15

Sobre os refugiados, coisas simples



«O que escrever sobre a crise dos refugiados da Síria, da Eritreia, do Afeganistão, do Iraque, do Darfur, da Somália, da Líbia que tentam fugir da guerra e encontrar refúgio na Europa e dos milhares de mortos que lançou nas nossas costas? O que dizer da forma vergonhosa como os líderes políticos da União Europeia (com a honrosa excepção da Alemanha) têm “gerido” esta crise humanitária?

Como falar da morte de Aylan Kurdi sem falar da morte do seu irmão de cinco anos, sem falar da morte de tantos milhares de crianças iguais a eles, mesmo quando a cor da pele é um pouco mais escura? Como falar de todas as crianças que tiveram de morrer antes que os dirigentes europeus (e não todos) suavizassem a sua abjecta política da fortaleza-Europa? Como falar da hipocrisia da pseudo-política de acolhimento que, pressionados pelas suas opiniões públicas, tantos políticos europeus dizem agora defender?

O que dizer, o que repetir? Dizer coisas simples, repetir o necessário.

Dizer que estas crianças são os nossos filhos porque as crianças são filhas de todos, mesmo quando são sírias, e que não queremos que os nossos filhos morram a fugir da guerra. (...)

Dizer que a crise dos refugiados mostrou mais uma vez a hipocrisia da maioria dos políticos europeus, com o governo húngaro de Viktor Orbán a mostrar a sua faceta fascista perante a indiferença de Bruxelas e com a maioria dos governos a tentar espalhar o medo e a mentir descaradamente sobre os números e os riscos do acolhimento de refugiados.

Dizer aos media que a história dos refugiados não se pode contar apenas sob a forma de notícias que dizem quantos morreram e quantos chegaram ontem e hoje, mas tem de ser contada referindo as causas do fenómeno (fala-se dos refugiados mas deixou de se falar dos conflitos que geraram estes refugiados e das atrocidades de que eles fogem) e referindo os culpados por esses conflitos (mesmo quando se fala dos conflitos nunca se fala do que se faz para lhes pôr fim, como se eles se tivessem tornado uma fatalidade).

Dizer enfim que, se a resposta generosa dos cidadãos europeus, organizando-se para ajudar e receber refugiados e manifestando-se em favor do apoio aos refugiados, mostra que a ideia de solidariedade não está morta na Europa, ela não é substituto para uma verdadeira política de asilo por parte dos estados nem para a definição de políticas de asilo ao nível da UE, devidamente financiadas pelos dinheiros públicos - que não podem servir apenas para servir os mais ricos, deixando aos cidadãos e organizações privadas a realização da política de solidariedade.»

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