19.11.15

A morte da morte



Excertos de um excelente texto de Jacinto Godinho no Público de hoje (19.11.2015):

«Numa amena noite de sexta-feira (por acaso ou talvez não, uma sexta-feira 13, que é 13 e de azar por causa da prisão, também em massa, dos cavaleiros da ordem dos templários em 13 Setembro de 1307), aos locais agradáveis do descanso do modo de vida ocidentalizado, chegam grupos de homens armados e disparam indiscriminadamente sobre cidadãos anónimos. Como interpretar este teatro do absurdo? O terror de que um desconhecido passe por nós e sem motivo comece a disparar? A primeira ponta solta que se oferece à interpretação é que seis dos assassinos fizeram-se explodir. Iam preparados para o martírio. O que é o mártir? É alguém para quem a morte não é um limite, apenas uma passagem para uma outra condição de existência que acredita ser mais forte que a vida actual. (...)

Sabemos que os mártires acreditam em algo, numa utopia. Mas como pensar que a crença seja mais forte que o medo da morte? Nós os racionalistas temos dificuldade em entender e aceitar isto. Mas a crença numa utopia também é uma forma de medo. O medo de não serem merecedores da sociedade perfeita ou do reino dos céus. (...)

Os vilões, apesar de demonizados pelo estigma, preservam a imortalidade através de fascinantes lendas negras. Salazar, Hitler e Estaline ainda por aí estão para o testemunhar. Os jihadistas suicidas também buscam a sua utopia e trocam a vida pelo feito da visibilidade mediática. Sabem que o crime só se consumará definitivamente quando as mortes em massa encherem as páginas dos jornais de imagens de terror cénico. É inevitável os media caírem nesta armadilha. (...)

O Estado Islâmico está a roubar o palco da produção do visível a Hollywood com espectáculos que retiram o real da ficção e dos efeitos especiais e o devolve com violência aos corpos reais, à dor à carne e ao sangue. As páginas dos jornais são os pósteres das suas produções, os novos cartazes do espectáculo do real onde a morte morre deixando de contar como fronteira limite da razão e da humanidade.

Não tenho resposta, mas a questão é: quem consegue parar esta destruidora máquina do espectáculo?»

Na íntegra AQUI
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