26.11.15

Entre a guerra e a paz



«António Costa sabe, como Sun Tzu, que: "O verdadeiro objectivo da guerra é a paz." E o da política é a conquista e a manutenção no poder. Por isso o seu Governo é de guerra, tentando que a paz futura seja possível.

Mestre da negociação, Costa criou um Governo ninja. Político, mas também técnico e táctico. Porque tem de tentar conciliar aquilo que pode parecer inconciliável: a dívida, a pressão de Bruxelas (e do PPE, cérebro do PSD e do CDS), a tentação distributiva do BE e do PCP, a defesa da economia de mercado e o reforço do poder do Estado, a relação institucional com Cavaco e com Carlos Costa e a fractura política que estes meses alimentaram.

O excel vai continuar a existir, mas vai ser equilibrado com mais política e sensibilidade. É uma sopa de pedra com ingredientes que parecem não combinar. Só que esta procura da paz faz-se à sombra da guerra. Porque esta vai ser de guerrilha constante. O PS perdeu a hegemonia cultural (e mediática) da sociedade portuguesa, hoje controlada pela teia que os cérebros que estão na sombra por detrás do PSD e do CDS teceram. Será uma batalha desgastante que terá sempre uma guilhotina presente: o controlo orçamental.

Este é um Governo contra a ideologia da austeridade como princípio, meio e fim. Por isso terá de, como dizia Einstein sobre Deus, "jogar aos dados com o Universo". É um jogo que também é de sorte e azar, porque terá de convencer a maioria parlamentar e a outra, os portugueses, que estão a assistir. O novo Governo terá também de dar novas energias ao Estado, alvo de uma implosão estrutural por parte da anterior maioria. António Costa terá de apelar ao realismo e ao bom senso. Para resolver a equação terrível de governar entre as fronteiras do que julga desejável e o que é financeiramente aceitável, entre as tradições sociais do PS e o frio clima que a crise da dívida legou a Portugal. É um caminho estreito. E minado.»

Fernando Sobral

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