21.2.15

Lido por aí (240)

Europa, Fevereiro de 2015


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Pedro Santos Guerreiro, no Expresso de 21.02.2015. 
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Yanis Varoufakis dixit


A declaração de ontem para quem só a atamancadamente traduzida pelos pivots das nossas estações de TV.


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A chamada «ditadura dos mercados»



«Aquilo que se tem chamado a “ditadura dos mercados” é a forma moderna de fusão dos interesses económicos com a política, que já não permite a caricatura dos capitalistas de cartola, senhores do aço e das fábricas de altas chaminés, mas sim os impecáveis banqueiros e altos consultores vestidos de pin stripes, assessorados por uma multidão de yuppies vindos das universidades certas com o seu MBA, que num qualquer gabinete do HBSC movem dinheiro das ilhas Caimão para contas numeradas na Suíça. Entre os perdedores não está apenas quem trabalha, no campo ou nas fábricas, ou a classe média ligada aos serviços e à função pública, mas estão também os interesses económicos ligados às actividades produtivas, ao comércio que ainda não é apenas uma extensão de operações financeiras, e à indústria.

A rasoira que tem feito na Europa, usando com grande eficácia as instituições da União Europeia, não é da “política” em si, porque o que eles fazem é política pura, mas sim de qualquer diversidade política, tendo comido os partidos socialistas ao pequeno-almoço, com a ementa do Tratado Orçamental.»

José Pacheco Pereira

20.2.15

Foto do dia


(Yves Herman/Reuters)
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Eurogrupo e a Jangada de Pedra



«The Spanish and Portugese finance ministers attempted to disrupt the eurogroup meeting but were overuled.»

Fonte, entre várias outras (por exemplo a SKAY TV grega).
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O dia de hoje acabará assim?



A esta hora, nada está garantido. 
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Juncker, papagaio inútil?



Pedro Santos Guerreiro, no Expresso diário de 19.02.2015.
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A Grécia e o bote da Europa



«A UE está sentada (não é piada à Schäuble), à espera que a Grécia recue. Tem sido um triste espectáculo. Do meu ponto de vista, a Grécia é um náufrago dentro de água em alto mar que quer salvar o bote da Europa, avisando que está a meter água, mas os que estão no bote dão-lhe com o remo porque pensam que ela quer é salvar-se, subir a bordo e ficar-lhes com a comida. Fiquei enjoado, e não foi da ondulação.

Sei que pode parecer estapafúrdio, mas é para isso que me pagam: eu acho que, de certa maneira, os gregos são Jesus Cristo. Obviamente, vão acabar por morrer para nos salvar dos nossos pecados. É uma pena, mas vai ter de ser. E nós, de certa forma, no momento em que fomos considerados, por Schäuble, como exemplo do sucesso da política de austeridade, sem que a nossa ministra das Finanças tivesse um ataque de riso, ou de profundo choro, acabámos por fazer um belo Judas.

Não seria de todo errado comparar Varoufakis a Jesus Cristo. (...) Varoufakis está, neste momento, a ser julgado por ter andado a dizer que ia salvar o mundo e que fazia milagres. Teorias novas, que nunca tínhamos ouvido porque não havia alternativa aos nossos deuses. Teorias que assentavam na preocupação com os pobres e os que menos têm. Varoufakis afirmava ter multiplicadores capazes de fazer o tal milagre da multiplicação. O que faz Juncker quando apanha o Cristo Varoufakis no seu tribunal? Lava as suas mãos. O Schäuble que decida. (...)

Poderá a Grécia erguer-se do túmulo ao fim de três dias? Parece-me demasiado optimista. E em três anos? Se isso acontecer, poderá a palavra de Varoufakis espalhar-se pelo mundo e mudar tudo? Não faço ideia, e só consigo justificar o caminho que este texto tomou com o facto de eu gastar do mesmo talho que o João César das Neves. Devem andar a pôr drogas no acém.»

João Quadros

19.2.15

Lido por aí (239)

Queridos sacos de plástico



Ricardo Araújo Pereira, na Visão de hoje:

«Quem tenha acumulado sacos de plástico, no tempo em que eram gratuitos, possui agora uma pequena fortuna. Sacos que não valiam nada, de um dia para o outro passaram a valer algum dinheiro. Exactamente como as acções do BES, mas ao contrário. (...)

Quando eu era pequeno, a minha avó levava o seu próprio saco para ir às compras. (...) Se o mundo continuar a transformar-se naquilo que a minha avó gostaria que o mundo fosse, mais cedo ou mais tarde serei obrigado a levantar-me cedo. E a arranjar um emprego a sério.»

Na íntegra AQUI
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Assim estamos


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O futuro dilema do PS



«O choque frontal entre a União Europeia e a Grécia está a transformar, em pó, partidos que outrora estiveram no centro do poder.

Sabe-se que o centro decidia o poder, porque as classes médias eram maioritárias e estas, na democracia, encontravam ali a sua guarda pretoriana. A crise e a austeridade implodiram o centro, onde outrora se ganhavam as batalhas eleitorais. As classes médias estão em fuga em busca de um pastor que as guie, agora que elas deixaram de ter destino.

Das cinzas de alguns partidos do centro estão a nascer, nas margens, arautos da desgraça ou da salvação. A estabilidade está a ser corroída pelo ácido e quem está a dissolver-se, com maior velocidade, são os partidos da social-democracia, tal como aconteceu com os comunistas depois do fim do Muro de Berlim. O PASOK grego tornou-se um clube de amigos. O seu antigo líder, Papandreou, uma ilusão.

Na Espanha, o PSOE vive numa guerra civil devastadora, enquanto a radicalidade do Podemos ocupa o seu espaço. Na França, só o músculo securitário de François Hollande vai travando o colapso do PSF, a que até Manuel Valls queria tirar o nome de "socialista". A deslocação para o centro dos sociais-democratas, a estratégia da "terceira via" de Tony Blair, entrou em colapso, porque a classe média (o paradisíaco "centro") está a evaporar-se na Europa da austeridade. Se juntarmos a isso a fobia da segurança que está a fazer renascer o nacionalismo radical, nota-se que à social-democracia falta um discurso alternativo face à hegemonia ideológica neo-liberal que ocupa o poder político, cultural e financeiro na Europa.

Os partidos sociais-democratas deixaram de surgir como o centro de gravidade e alienaram a sua capacidade de ser a alternativa. E, entre a esquerda radical e a direita cheia de certezas, ainda buscam um discurso distinto. Portugal é sempre o último país onde se colocam estas questões fulcrais. Mas o PS está prestes a ter de se confrontar com ele.»

Fernando Sobral

18.2.15

Lido por aí (238)

Hoje, pensei na menina Etelvina



Fui à farmácia e saí de lá com meia dúzia de medicamentos, num saco de papel, escorregadio e sem asas. Resultado: umas tantas caixas espalhadas pela rua dois minutos depois – a bem da ecologia e do fisco.

Foi então que me lembrei da menina Etelvina que sempre viveu numa vila do nosso Oeste, até aos 93 anos, e que se lamentava porque já ninguém lhe vendia 50 gramas de manteiga amarela em embrulho de papel vegetal, nem 1/2 quilo de açúcar em cartuxo pardo. Odiava sacos de plástico e seria hoje uma mulher feliz, se lhe explicassem que os seus compatriotas a tinham finalmente compreendido.

Desde as 0:00 horas de 15 de Fevereiro de 2015, os portugueses tornaram-se, repentina e simultaneamente, os maiores defensores do ambiente que imaginar se possa e mais do que convencidos de que mais vale poupar dez cêntimos no supermercado do que investir em Certificados de Aforro ou em acções do BPI.

Nas filas dos supermercados, o espectáculo é maravilhoso: uma farfalhuda alface a ser enfiada na carteira de uma senhora, trolleys de viagem enormes com três ou quatro compras dentro, saquinhos de pano com cheiro a naftalina e, claro, embalagens plastificadas de todos os tamanhos e feitios.

Nada contra, antes pelo contrário, e sempre há um novo assunto de conversa durante alguns dias. «Tem de ser, não é?» É, sim, porque não há povo mais cordato do que o nosso. 
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Ele há bolos e ele há cerejas em cima de bolos




Prevejo que António Costa convide Mário Soares, Henry Kissinger e Frank Carlucci para presidirem às cerimónias. Jaime Neves já não poderá estar presente. 
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Europa: «e pur si muove»



«Pobre Europa atormentada por várias crises de natureza diferente, sem saber para onde se virar. Esta é a consequência grave de todos terem estado sentados em cima da sua indiferença, acreditando numa calma aparente e procurando encontrar soluções extravagantes para problemas complexos e envolvendo enormes riscos. (...)

Nenhum destes problemas pertence, em exclusivo, a quem mais directamente o provocou ou mais displicentemente o encarou. No quadro em que nos encontramos, todos os problemas são da Europa como um todo. Por isso não há um problema grego, português, espanhol ou ucraniano: é a Europa que se debate com todos eles, apanhada num labirinto, onde tem sobrado uma arrogante paralisia em lugar de pensar e produzir cenários que antecipem soluções. (...)

A solução não está em humilhar os povos, numa espiral de pobreza, desemprego e protestos. A solução não está em dar a ordem e manter-se indiferente às consequências. Porque, pelo caminho que as coisas levam, a breve trecho a indiferença pode transformar-se em estupefacção perante as alterações do ambiente em que displicentemente se ficciona viver. É preocupante verificar como se reage temerosamente perante a mudança, em lugar de tentar compreender os novos fenómenos económicos e sociais que cada vez com mais força se vão fazendo sentir. Já hoje, se manifestam à luz do dia, forças políticas organizadas que contestam abertamente o rumo que a União Europeia tem tomado nos últimos anos e, até, a própria UE. A solução da austeridade promotora do crescimento foi um erro. E há quem, por toda a Europa, à direita e à esquerda, não esteja disposto a pagar por esse erro durante gerações.

Por isso os gregos marcaram pontos acordando os sonolentos líderes europeus. O Governo que elegeram, depois de algumas medidas precipitadas, saiu do seu casulo e dispôs-se a discutir o problema pedindo tempo e compreensão para as questões mais graves que afectam o país. E com esta simples atitude alterou algumas regras do jogo, obrigou os seus parceiros a olhar para a Grécia como o não faziam há anos.» (Realce meu.)

José Maria Brandão de Brito

17.2.15

We'll always have Carnaval



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A ler


Uma mais do que esclarecedora entrevista a Yanis Varoufakis na SPIEGEL: 


 «For the past five years, Greece has been subjected to austerity measures that it cannot, under any circumstances, meet. Our country is literally being pushed under water. Just before we suffer an actual cardiac arrest, we are granted a momentary respite. Then we're pushed back under water, and the whole thing starts again. My aim is to end this permanent terror of asphyxiation.» 
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União ou desunião Europeia?

«Norte versus Sul. Credores versus devedores. Ricos versus pobres. Excedentários versus deficitários. Contribuintes líquidos versus beneficiários líquidos. PIGS versus outros acrónimos não animais. Gastadores versus aforradores. Pecadores versus puritanos. Austeridade punitiva versus punição de não crescimento. Cigarras versus formigas. Euro versus moedas próprias. Julgados versus julgadores. Direitos versus deveres. Solidariedade versus egoísmo. Soberania sem limites versus sub-soberanias. Benefício do infractor versus malefício do cumpridor. Paraísos (fiscais) versus infernos (fiscais). Alunos (bons e maus) versus professores. Tecnocracia versus política. Políticos versus funcionários. Eleitos versus nomeados. Tratados versus retratados. Pensamento único versus geometria variável. Alternativas versus não alternativa. Palavras versus (não) decisões. Igualdade versus divergência. Passado versus futuro. Iluminados versus amochados. Chumbos referendários versus respeito democrático. (...)

Sem visão e sem liderança, a União caminha aos solavancos, esfumando-se o seu espírito fundacional e o legado dos seus impulsionadores. O euro é a métrica da desunião e a evidência da incapacidade. Incapaz de responder, em tempo certo, aos desafios que se lhe colocam, a Europa passa de Velho Continente a Continente velho, no nevoeiro de uma crescente e perigosa irrelevância.»

António Bagão Félix

Yanis Varoufakis explica o falhanço de ontem no Eurogrupo



Este foi o documento que a Grécia teria assinado e que tinha sido previamente apresentado a Yanis Varoufakis pelo comissário europeu dos Assuntos Económicos, Pierre Moscovici (tradução em português AQUI).


Para além de outras diferenças, sublinhe-se este parágrafo, essencial do ponto de vista grego e que desapareceu na versão discutida na reunião do Eurogrupo:
«O acima exposto é a base para uma extensão do actual acordo de empréstimo, que pode tomar a forma de um programa intermediário [de quatro meses], como uma etapa transitória para um novo contrato de crescimento para a Grécia, que será discutida e concluída durante este período.»

Yanis Varoufakis explicou, ontem, em Bruxelas:


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16.2.15

Lido por aí (237)


@João Abel Manta

* No Time for Games in Europe (Yanis Varoufakis)


* La esperanza del monstruo democrático, entre Syriza y Podemos (Antonio Negri e Raúl Sánchez Cedillo)
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Obrigada, António Costa



A factura do que tenho de pagar por gastar água, em Lisboa, aumentou 40,5%, exactamente para o mesmo consumo, comparativamente com a última emitida em 2014. Porquê? Porque as «Contas de Terceiros», aka Taxas, aumentaram 139%. 

Muito obrigada, António Costa. Já sabemos com o que contar quando votarem em si para primeiro-ministro. 
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Teoria dos Jogos?



«A arte superior da teoria dos jogos é conseguir-se convencer os opositores que se tem o poder supremo de fazer com que o céu caia sobre a cabeça deles. A seguir sorri-se e fala-se calmamente.

Yanis Varoufakis é bom nisso, tal como Alexis Tsipras. A sua loucura é controlada. Em 1995, Varoufakis escreveu um livro sobre o tema. Agora está a pôr em prática a sua teoria. Não está só: a Alemanha e a União Europeia também estão a praticar a arte da teoria dos jogos. Cada lado espera que o outro se desintegre primeiro e recue com medo. (...)

O problema é que a teoria dos jogos está a ser praticada ao mesmo tempo em vários tabuleiros: na Grécia, mas também na Ucrânia, na União Europeia e nos EUA, na NATO e no Kremlin. Vladimir Putin, tal como Varoufakis, é um especialista na teoria dos jogos. Em troca da paz está a conseguir que a Ucrânia fique num limbo político e territorial pago com os dinheiros do Ocidente, a começar pelos da UE. Isto apesar dos tambores da guerra que soam em Washington para alegria da indústria de armamento, sedentas de um novo conflito lucrativo. Porque a indústria alemã também precisa da Rússia e a economia europeia não pode viver de costas voltadas para as estepes russas.»

Fernando Sobral

15.2.15

Não, não estiveram 50 pessoas na manifestação de Lisboa



Não, não estiveram 50 pessoas na manifestação de solidariedade com o povo grego, que teve lugar em Lisboa, como a Lusa difundiu em comunicado e vários órgãos de comunicação social, inclusive os que tinham repórteres no local, acriticamente reproduziram. Nem sequer às 15h estavam tão poucos participantes, algum tempo depois circulavam primeiro, e desfilaram depois, entre o Camões e o Largo Jean Monnet, muitíssimos mais.

Por que motivo os órgãos de comunicação social (com excepção da Antena 1, tanto quanto sei) não anunciaram a ocorrência das várias manifestações que iriam ter lugar em Portugal, apesar de instados para o fazerem, e por que razão, de um modo geral, não as referiram até agora e se limitaram, quando muito, a reproduzir o comunicado da Lusa, só os deuses da incompetência ou de intenções incompreensíveis (ou talvez não...) poderão explicar. Shame on them. (*)

Não, não somos gregos – infelizmente.

(*) Numa curta reportagem da RTP1, já se falou de «centenas de pessoas». 



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Lido por aí (236)

Agora



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Da vergonha



«Às tantas, sugestionado com as pérolas com que nos têm presenteado, fui só eu que achei. Mas estava capaz de jurar que o Pedro e o Aníbal acham os gregos uma malta com propensão para a malandragem. Dizem eles que nós, portugueses, temos andado a ajudar os gregos com o nosso dinheirinho e agora os marotos ainda querem mais. Preguiçosos. Têm juros maravilhosos, tiveram fantásticos perdões de dívida, mas nada lhes chega. Ah raça do piorio, andaram a viver acima das suas possibilidades e agora querem que a gente tenha pena deles. À nossa conta, não.

Acho que o bom do Aníbal e o bom do Pedro eram rapazes, dessem-lhe mais uns minutos de tempo de antena, para nos contar que há imensos paralíticos a fumar cigarros e a beber umas imperiais à sombra do Parthenon, que depois de polirem as esquinas vão para manifestações pedir perdões de dívida. Trabalhar, pá. Ai gastaram à tripa forra? Miséria para eles. Ai agora têm quase um terço da população desempregada? Azar, tivessem pensado nisso antes. Ai quem está desempregado não tem direito à saúde pública? Não tivessem aldrabado as contas públicas. Morram à fome, com o nosso dinheirinho, não. (...)

O que nos envergonha a todos é que um primeiro-ministro e um Presidente da República tenham um discurso preconceituoso e até xenófobo para tentar fazer prevalecer os seus pontos de vista. De terem uma conversa própria de um qualquer Aníbal e Pedro numa qualquer tasca, em vez de se portarem como homens de Estado. Batemos, de facto, no fundo quando as duas principais figuras do Estado nos provocam vergonha alheia.»

Pedro Marques Lopes

Daqui a poucas horas


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