7.3.15

A América Latina não é a Europa



Conselho de leitura para quem tenha acesso ao Expresso online, esta grande entrevista:
José Mujica – «Nenhum vício é bom, a não ser o do amor».
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O deserto



Miguel Sousa Tavares, no Expresso de hoje, 07.03.2015 (excerto):

«Vamos na pista para Tamanrasset, mas ninguém sabe se até lá encontraremos água no poço assinalado nas cartas militares e se encontraremos gasóleo na cidade tuaregue para podermos prosseguir viagem. Não temos GPS nem telemóveis, apenas a navegação incerta da bússola e o mapa das estrelas para nos guiar num imenso vazio sem horizontes conhecidos. Aqueles que tinham por obrigação liderar a caravana Portugal nesta travessia do deserto — Presidente da República e primeiro ministro — não fazem a menor ideia se o que julgam enxergar à distância é um oásis ou uma fatal miragem.

Cavaco Silva, concretamente, já não tem remissão possível: se fica longas temporadas invisível ou em silêncio (o que o país agradece), revela a sua absoluta irrelevância, conquistada por exclusivo mérito próprio; se resolve mostrar-se e abrir a boca, cai-lhe irremediavelmente em cima a irritação e o desprezo de um povo que já não o suporta e que, se pudesse, o despachava de vez já este fim-de-semana.

Pedro Passos Coelho, o jotinha a quem nenhuma pitonisa se atreveria a prever um destino de PM, “o português mais bem preparado para ser primeiro-ministro de Portugal”, como nos garante o líder parlamentar do PSD, é um náufrago da política: figurante na Europa, encostado ao abrigo da nave-capitã, e uma espécie de amanuense da República, para efeitos internos. Dali jamais saiu e jamais sairá uma ideia para Portugal, um rasgo de ousadia ou de pensamento próprio, fora do modelo em que foi formatado. Definitivamente, não foi com líderes destes que descobrimos o mundo, mas, como dizia alguém, o nosso erro é julgar que somos descendentes dos portugueses que partiram à descoberta do mundo, quando, afinal, somos, sim, descendentes dos que ficaram.» 
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Dica (8)



A tal entrevista de que hoje se fala:


SPIEGEL: Which means, you need money from the Europeans.

Tsipras: Look, it's not about philanthropy for Greece. It's about joint responsibility and European solidarity. If Greece can't service its debt, that also has an effect on our partners. As such, a safety net for Greece is necessary and we also have to return to the capital markets as rapidly as possible. But that can't be combined with a program that has led to a situation of social distress; we need one that brings growth. 
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Não é a cultura, estúpido!



«Molière, no século XVIII, alertou com humor fulminante para um facto: a crescente hegemonia dos algarismos sobre o discurso político. Desde então esse momento, que servia para pôr as pessoas a rir nas peças de teatro, tornou-se uma realidade.

A vida actual perpetua o sonho de Molière e, por isso mesmo, na sua arquitectura em que os números fazem o papel de pessoas, a cultura, o valor do tempo, a ética ou a sensibilidade são valores dispensáveis. É por isso que a discussão central na Europa é hoje sobre a austeridade e a dívida e não sobre os desastrosos efeitos pessoais que a obsessão pelos números tornou irrelevante. (...)

Nada que admire: a memória cultural tornou-se dispensável porque isso faz parte da ideologia hoje reinante onde as ideias se resumem a 140 caracteres de Twitter. A erosão da paciência conjuga-se, em Portugal, com a forma como aqueles que ocupam cargos de relevo no sector público (ou mesmo no privado) convivem com os erros que cometeram, por acção ou por omissão. Entre as desculpas de Pedro Passos Coelho por causa das suas dívidas à Segurança Social à interminável lista de esquecidos do caso BES/GES/PT, que têm passado pelo Parlamento, há de tudo para todos os gostos. Isto para não irmos mais atrás, a outras legislaturas. Isto é a consequência dos números se terem sobreposto às ideias políticas, a essência da democracia.

Quando se percebe que a política de intervenção em países como Portugal, Grécia ou Irlanda foi desenhada e desenvolvida por técnicos sem noção da realidade e sem escrutínio democrático (perante o olhar fascinado de Durão Barroso e dos seus pares), percebe-se onde chegou o sistema. É claro que a hora das decisões aproxima-se: a Alemanha, uma economia exportadora, está prestes a vender mais para fora da União Europeia do que para este espaço. Quando isso acontecer tudo se tornará mais explícito nesta Europa pobre de cultura e de sentido de Estado.»

Fernando Sobral

6.3.15

Honra de ser notícia no New York Times



E agora que já há respostas às perguntas dos partidos da oposição (que não acrescentaram absolutamente nada, como era de esperar), que vão fazer agora os ditos partidos? Mais perguntas?

Acabo de ouvir o PS dizer que Passos Coelho será castigado nas próximas eleições. Tudo bem, portanto Qual é a pressa?
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Aracataca, 6 de Março de 1927 – Garcia Márquez



Nunca perderei um pretexto para recordar Garcia Márquez que faria hoje 88 anos e que morreu há menos de um. Foi nesta cama dos avós, em Aracataca, que veio a este mundo esse grande génio da Literatura, que tanto marcou gerações e gerações. Estive lá em 2012, sempre à espera de encontrar algum membro da família Buendía ao virar de uma esquina, um qualquer José Arcádio ou um dos muitos Aurelianos…E foi em Aracataca que se inspirou para criar a mítica aldeia de Macondo, de Cem anos de solidão.

Foi em rigorosa «peregrinação» que fiz um desvio de dezenas de quilómetros para chegar a essa localidade, hoje com 45.000 habitantes, feia e infelizmente desmazelada, que não honra como devia o que de mais importante deu ao mundo (a não ser pela boa conservação precisamente na moradia em que «Gabo» nasceu, actualmente transformada num pequeno museu que justifica, sem dúvida, a deslocação e a visita).

Trata-se da casa dos avós, com quem viveu até aos 10 anos e que o marcaram profundamente. Família desafogada que não aprovou o casamento da filha com um simples telegrafista e que, por esse motivo, guardou a custódia do neto.

«Gabo» foi pela última vez a Aracataca em 2007, para uma tripla comemoração: dos seus 80 anos, do 40º aniversário da publicação de Cem anos de solidão e do 25º da atribuição do Nobel da Literatura.

Ficam duas referências:

– O magnífico discurso que fez quando recebeu o Prémio Nobel da Literatura em, 8 de Dezembro de 1982.

– Um pequeno fragmento da descrição da morte de José Arcadio Buendía em Cien años de soledad
«Entonces entraron al cuarto de José Arcadio Buendía, lo sacudieron con todas sus fuerzas, le gritaron al oído, le pusieron un espejo frente a las fosas nasales, pero no pudieron despertarlo.
Poco después, cuando el carpintero le tomaba las medidas para el ataúd, vieron a través de la ventana que estaba cayendo una llovizna de minúsculas flores amarillas. Cayeron toda la noche sobre el pueblo en una tormenta silenciosa, y cubrieron los techos y atascaron las puertas, y sofocaron a los animales que durmieron a la intemperie. Tantas flores cayeron del cielo, que las calles amanecieron tapizadas de una colcha compacta, y tuvieron que despejarías con palas y rastrillos para que pudiera pasar el entierro.» 

Dica (7)



Berlin doesn't seem to think so.

«And it is true that taxpayers in Germany and across the eurozone would — unfairly — lose out if Greece obtained the debt relief it needs to recover. But why is that? Because Merkel violated the no-bailout rule in the first place, putting the interests of German banks ahead of those of European citizens — including Germans — and setting Europeans against each other. If only German voters realized that Merkel and Schäuble have lied to them and sold them out, they wouldn’t fall into the nationalist trap of blaming the Greeks for their own banks’ and government’s misdeeds!» 
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Lições de moral para Passos Coelho? A não ser que seja sem factura



«Relembro que a mesma pessoa que não tem consciência das suas obrigações fiscais é o autor das obrigações fiscais que não deixam os portugueses dormir. As obrigações ficais com que o Governo de Passos sobrecarregou os portugueses, mais que o consciente, dominam o nosso subconsciente e causam-nos pesadelos. Já todos sabíamos que ele era fiscalmente inconsciente.

Se hoje Passos Coelho ainda é PM é porque não sabia que tinha de se demitir por ser tudo aquilo que criticou, inclusive aos gregos, e por ainda dar ar de piegas por não ter pago. Passos e outros membros do Governo estão agora na posição de não aceitar lições de moral a não ser que seja sem factura. Sinceramente, e não querendo ser acusado de falta de diplomacia, podemos dizer que estas justificações de Passos são desculpas para crianças.

Não percebo muito de marketing, mas parece-me que não há sorteio de Audi que resista a um PM que foge aos impostos - porque o Audi só sai a poucos, e esquemas todos podemos arranjar. Não é errado dizer que por cada euro que Passos se baldou de pagar - e justifica com falta de conhecimento -, explode um Audi do sorteio das facturas.

Um indivíduo com licenciatura em Economia, na Universidade Lusíada, concluída em 2001, com 37 anos, administrador de empresas, em 2009, não sabe que tem de pagar Segurança Social - maldito ensino! Se calhar, a explicação é que a sua professora Maria Luís, naquela aula a que Passos foi, disse que ninguém pagava a SS, nos recibos verdes, a não ser os patos.»

João Quadros

5.3.15

Dica (6)



Conversa ouvida ao almoço:

- O Público faz hoje 25 anos e é de borla!
- Sim, mas sem futebol, nem palavras cruzadas, serve para quê?
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Ideias para comédias



Ricardo Araújo Pereira, hoje, na Visão:

«Após ter votado a lei de bases da segurança social, um deputado diz desconhecer as suas obrigações legais para com a segurança social. Após ter passado anos a dar aulas de catequese, um catequista diz ter ficado com a ideia de que a obediência aos mandamentos era opcional. (...)

Milhares de cidadãos falham o pagamento dos impostos na data estipulada e justificam-se dizendo que o jornal Público não teve a gentileza de os incentivar a saldar a divida.»

Na íntegra AQUI.
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Dica (5)



Se o presidente do Parlamento Europeu afirma isto, quem sou eu para o contradizer? Mas está a gozar-nos, não é?


«Estamos a pedir sacrifícios aos cidadãos, aos pais, para aceitarem salários mais baixos, impostos mais altos e menos serviços. E para quê? Para salvar os bancos. E os filhos estão desempregados. Se não mudarmos isso, se não voltarmos a um tratamento igualitário e justo, as promessas feitas pela Europa não serão cumpridas.» 
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A Europa de Tulius Detritus



«Alexis Tspiras acusou Portugal e a Espanha de formaram um "eixo contra Atenas". Yanis Varoufakis vai a Itália e numa entrevista insinua que também os italianos têm uma dívida insustentável. Portugal queixa-se de Tsipras ao Eurogrupo. O Governo grego diz que Tsipras foi mal interpretado. A Espanha anuncia que a Grécia vai pedir um terceiro resgate num montante que oscila entre os 30 e os 50 mil milhões. O Eurogrupo desmente. Uma questão de semântica. Não é um resgate é um contrato. O presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, e a chanceler alemã, Angela Merkel, consideram ser prematuro falar da questão. (...)

Confuso? Tem razões para isso. Por estes dias, a Zona Euro está transformada numa espécie de Gália, repleta de Tulis Detritus, a personagem criada por Albert Uderzo e René Goscinny em "A Zaragata". Nesse livro de Astérix, Tulis Detritus é um exímio especialista em intriga, arte que lhe permite semear a discórdia entre os gauleses com o objectivo de os desunir, abrindo assim caminho para a vitória dos romanos.

A intriga de hoje, especialmente alimentada pelos gregos e engordada com o contributo de muitos outros, entre os quais Portugal e Espanha, pode ser eliminada à medida que os factos se sobreponham à inocuidade dos discursos demagógicos. Contudo, Tulius Detritus veio para ficar na Zona Euro. Ou seja, por muitos esclarecimentos que se façam, a desconfiança irá sempre predominar entre os membros do euro e da própria União Europeia.

Ao contrário de "A Zaragata" que diverte, este Tulis Detritus colectivo europeu provoca tristes sorrisos. O que falta a esta Europa é seguir o conselho do filósofo grego Aristóteles: "o sábio não diz tudo o que pensa mas pensa sempre tudo o que diz". »

Celso Filipe

4.3.15

Dica (4)



Estas declarações foram feitas em 2014. Passos Coelho toma-nos por parvos ou seremos nós que estamos doidos?


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Nascer duas vezes?



Pedro Santo Guerreiro, no Expresso diário de 04.03.2015.


Texto completo AQUI.
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Federação das associações de defesa do Serviço Público de Saúde em Espanha



Enviado por Isabel do Carmo, com pedido de publicação.

12 de Fevereiro
Protesto contra a expulsão de doentes com hepatite C do Parlamento.

15 de Fevereiro
“Marea blanca” nas ruas em Madrid.
Comemoração do 30º aniversário dos Centros de Saúde de Navarra.

23 de Fevereiro
Rejeição da exclusão das crianças dos Cuidados Primários.

Manifestações projectadas:
7 de Março em Alcaniz
19 de Março na Galiza

 Ler também ISTO.
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Começo a sentir-me parva

Dica (3)





Ou seja: a Alemanha, que não produz um quilo de café, revende dois terços do que importa do Brasil. É o terceiro maior exportador de café do mundo, sem plantar uma semente e sem colher um grão de café.

Tudo é lucro. E, se o café for reprocessado pela Nespresso no norte da Alemanha, o preço final para si vai ser 70 vezes o que foi pago originalmente ao produtor no Brasil.

(Daqui)

3.3.15

Dizer bem do SNS – chegou a minha vez



Crónica de Diana Andringa, hoje, na Antena 1:

Há alguns, largos anos, numa época de constantes críticas sobre as escolas públicas, uma amiga, professora, comentou: “É curioso, mas são as pessoas que não têm filhos nas escolas que mais criticam. As que têm vêem o bom e o mau, e são menos críticas.” Lembrei-me disso há dias, quando uma queda, acompanhada de fractura, me levou à urgência do Hospital de Torres Vedras. As semanas anteriores tinham sido pródigas em notícias de caos nas urgências hospitalares, longas horas de espera, tendo alguns doentes morrido entretanto – embora não forçosamente pela espera. Ia, portanto, preparada para o pior.

Declaração de interesses: do tempo de fugaz estudante de Medicina ficou-me a consciência de que não é uma Ciência Exacta, que nem todas as doenças têm cura, que o erro médico – mesmo quando tudo se faz para o evitar – é uma possibilidade impossível de excluir e que as condições e ritmos de trabalho desempenham papel fundamental no processo.

Isto dito, posso agora infringir a regra jornalística de que notícia é quando o homem morde no cão. É que tudo correu como devia. Embora fosse a primeira vez que ia àquele hospital a burocracia foi rápida, não esperei muito pela triagem e, colocada a pulseira amarela, embora antes de mim a perna partida de uma criança exigisse mais tempo do médico, no máximo uma hora depois estava a fazer radiografias, para logo a seguir passar à fase de redução da fractura, repetida depois de segunda radiografia, até se concluir pela necessidade de operação. Assinada a respectiva concordância – o consentimento informado – restou-me esperar, com o braço devidamente imobilizado, por vaga no bloco operatório, umas 7 horas depois. Tal como o ortopedista, o anestesista explicou-me todo o processo e toda a equipa esperou, sorridente, pelo meu acordar e... a oportunidade de jantar.

A noite de internamento foi calma e, apesar do cansaço evidente de uma das auxiliares, a simpatia do pessoal nunca esmoreceu. Saí na tarde seguinte, com consultas marcadas e – apesar de ser cedo para saber se a fractura fica devidamente consolidada – uma vontade reforçada de defender o Serviço Nacional de Saúde.

Ah, que bem que sabe dizer bem!

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Dica (2)




«For Syriza to avoid collapse or total surrender, we must be truly radical. Our strength lies exclusively in the tremendous popular support we still enjoy. The government should rapidly implement measures relieving working people from the tremendous pressures of the last few years: forbid house foreclosures, write off domestic debt, reconnect families to the electricity network, raise the minimum wage, stop privatisations. This is the programme we were elected on. Fiscal targets and monitoring by the “institutions” should take a back seat in our calculations, if we are to maintain our popular support. (...)

Syriza could gain succour from the European left, but only if the left shakes off its own illusions and begins to propose sensible policies that might at last rid Europe of the absurdity that the common currency has become. There might then be a chance of properly lifting austerity across the continent. Time is indeed very short for all of us.» 

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Conheci Costas Lapavitsas há 4 anos, em Lisboa, quando fez uma apresentação na Convenção da IAC. Aqui um curto excerto do que então disse e aqui o suporte da apresentação que fez. 
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Sobre Passos Coelho, em verdade vos digo



Fosse ele um secretário de Estado alemão e já estava hoje na Manta Rota de havaianas, em vez de engravatado em S. Bento. 
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Mais vale rir...


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Da vergonha de sonhar



«O debate “Costa tem de fazer promessas” versus “Costa não deve fazer promessas”, no entanto, não tem sentido. E não tem sentido porque o que Costa tem de anunciar desde já não são promessas de medidas concretas de governo mas apenas as prioridades da sua eventual governação. Ou seja: o que os portugueses precisam de saber e têm o direito de saber desde já (e não apenas em Junho) é o que pensa António Costa sobre as questões fundamentais da governação, ao nível europeu e ao nível nacional. O que pensa sobre o Tratado Orçamental, sobre a dívida, sobre a gestão do euro, sobre a política de Segurança Social, sobre a saúde, a educação e a ciência, sobre o emprego, sobre as nacionalizações e sobre a pobreza. O que gostaríamos de saber é por que causas Costa se compromete a bater-se. Não que medidas promete, mas que batalhas promete travar. Não é preciso dizer já como, nem quanto vai gastar. Mas era bom saber se aquilo que o move é apenas o desejo de não pisar nenhum calo, nacional ou estrangeiro. Precisamos de saber por que quer ser primeiro-ministro, o que lhe parece urgente e o que lhe parece inaceitável, que sociedade propõe — ou se apenas se dispõe a escolher entre as propostas que a Comissão Europeia e Berlim lhe mostrarem. E não, não é utópico perguntar-lhe que sociedade propõe porque essa é a pergunta que os cidadãos recomeçaram a fazer aos políticos e este é o momento de fazer essa pergunta, por muito que os partidos socialistas não o entendam.

A ideia de que é cedo para apresentar propostas porque as eleições legislativas ainda vêm longe (lembrando o “qual é a pressa?” de Seguro) é, entre todas as justificações, a mais preocupante. Não só porque as eleições legislativas não se ganham nas vésperas da campanha mas, principalmente, porque a política não são apenas eleições e o PS está a perder todos os dias oportunidades de fazer avançar uma agenda solidária a nível europeu. A paralisia europeia do PS no momento mais quente da negociação UE-Grécia faz recear o pior. Faz recear um PS congelado pela sua ambiguidade e sem a coragem de defender além-fronteiras um ponto de vista europeu contra a hegemonia alemã. Um PS que procura sempre alguém a quem seguir e que não se atreverá nunca a propor ou a liderar um programa reformista para a União Europeia. (...)

Há algo deprimente quando Costa diz que apenas quer fazer as promessas que tenha a certeza absoluta de poder cumprir. Está, evidentemente, a falar de medidas e não de combates e menos ainda de objectivos. Mas os portugueses não merecem apenas o que têm a certeza absoluta de que está ao seu alcance. Merecem mais e melhor do que aquilo que têm a certeza de que é possível. Merecem desejar melhor e merecem políticos que se comprometam a combater por causas. Que prometam não publicar esta ou aquela lei, mas combater por um ideal.»

José Vítor Malheiros

2.3.15

Aviso de mobilização



Passaram pelo meu nome e eu era um número
– menos que a folha seca de um herbário.
Colheram-no com mãos de zelo e gelo;
escreveram-no, sem mágoa, num postal.

Convite a que morresse… mas por quê?
Convite a que matasse… mas por quem?
Ó vago amanuense, ó apressado
e súbito verdugo, que te ocultas
numa rubrica rápida, ilegível,
que dirás tu do meu e de outros nomes,
que dirás tu de mim e de outros mais,
no Dia do Juízo já tão próximo
– que dirás tu de nós, se nem tremeu,
na rápida rubrica, a tua mão?
Bem sei que a tua mão só executa;
mas para além do ombro a ti pertences.
Bem puderas chorar, ter hesitado…
-A mancha de uma lágrima bastara
para dar um sentido a esta morte
a que a tua indiferença nos convoca!

David Mourão-Ferreira, 1964
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A Segurança Social de Passos é diferente da minha



Sobre o tema do momento e esperando que não desapareça, em breve, diluído na espuma de novos dias, vale a pena ler este texto de Henrique Monteiro, no Expresso diário de hoje, 02.03.105:


(...)

Na íntegra aqui.
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Dica (1)



Greek European deal: where are we? (Paul Mason)

«Mr Varoufakis’ mistake was to over-estimate the strength of the anti-austerity camp, and their willingness specifically to back a far left government. When it comes to Greece, the “faction” of Europe that runs policy is the Germans and their allies on the ECB. When it comes to France and Italy, the Commission is in charge. (...)

I still think the most likely outcome is that the unresolved political battle at the centre of Europe goes on being unresolved. And time is Syriza’s main enemy. If, by June, the ECB council is still calling the shots on Greek debt, then the German government – facing a growing revolt in the CDU/CSU over the terms of Greek forgiveness – will force another, bigger showdown.»

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(*) Começo hoje esta nova rubrica que substitui «Lido por aí». Terá uma sugestão de leitura, com um pequeno excerto ou comentário.
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Lido por aí (246)


@João Abel Manta


* Uma revelação surpreendente (Tiago Gillot) 

* Syntagma, Syriza: between the square and the palace (Amador Fernández-Savater entrevista Stavros Stavrides) 
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1.3.15

Já é viral




Fica aqui também.
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Empreendedorismo



Tenho 3.664 amigos no Facebook. Com as assinaturas deles e de mais 3.836 cidadãos, já podia criar um partido. Depois vendia-o. Parece que é o que está a dar. Novidades em breve, num órgão de comunicação social perto de si. Chegarão com uma andorinha, em dia de Primavera.
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Volta, Relvas, estás perdoado





Que há muito canudos universitários duvidosos, no PSD e não só, já sabíamos. Mas que há tachos publicitários para quem certamente chumbou no 1º ciclo, e dá portanto erros crassos de português, isso talvez seja mais ou menos novidade.

Além disso: 6 milhões de portugueses com menos de 18 anos??? Nasceram alguns milhões em Fevereiro, certamente. 
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Maldito Alzheimer


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Da arrogância de Bruxelas



«As avaliações da Comissão Europeia são sem dúvida importantes, nem que seja para disfarçar a sua incompetência passada. Mas está na hora de os tecnocratas serem também eles avaliados. É altura de perguntarmos se podem dizer o que lhes apetece sem qualquer preocupação de coerência e, por mais populista que seja, os cidadãos europeus têm o direito de saber porque ficaram os seus salários e as suas regalias imunes à crise que assolou a Zona Euro.

Os banqueiros foram (minimamente, é verdade) responsabilizados, os políticos perderam as eleições e há partidos ameaçados de desaparecerem, houve empresas a falir e milhares no desemprego e até na pobreza, boa parte da população europeia ganha hoje menos do que há sete anos. Mas os tecnocratas europeus ficaram imunes. (...)

A Comissão Europeia, do alto da sua arrogância, pode bem hoje ser mais uma das muitas navalhas que andam a esfaquear o projecto europeu.»  

Helena Garrido
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