12.1.16

Coreia: pop na tensão militar



«A experiência nuclear da Coreia do Norte foi uma provocação que poderá ter sérias consequências na política de alianças políticas e militares na Ásia.

A resposta da Coreia do Sul à provocação nuclear da Coreia do Norte foi feita com música. No caso através dos altifalantes colocados junto à linha de demarcação desmilitarizada entre os dois países.

As canções dos grupos de K-pop (pop coreano) tentaram serenar os ânimos, já que são escutadas com paixão do outro lado da fronteira. Uma das canções, do grupo Apink, "Let Us Just Love", diz simplesmente isto: "Please let us stop fighting… sometimes we doubt and argue but still I love you." Foi uma resposta diplomática à pressão do regime de Kim Jong-un, materializada através do alegado teste de uma bomba de hidrogénio. As autoridades de Seul tinham deixado de utilizar os altifalantes em 2004 durante um período de acalmia nas relações entre as duas Coreias. No meio deste aumento da tensão, os Estados Unidos têm também pressionado a China para que refreie o seu apoio ao regime de Pyongyang. Pequim, cujo esfriamento das relações com o regime de Kim Jong-un é visível desde a chegada ao poder deste, também percebe que a provação nuclear apenas reforça as ligações, sobretudo militares, entre a Coreia do Sul e o Japão, com a cobertura dos EUA, algo que tem tentado evitar há algum tempo com a sua estratégia económica.

Ao mesmo tempo os EUA fizeram voar um bombardeiro B-52, armado com mísseis nucleares e com outros capazes de atingirem os "bunkers" subterrâneos norte-coreanos, sobre os céus da Coreia do Sul. O B-52 partiu da base aérea de Guam, numa demonstração de que os EUA não hesitarão em apoiar um dos seus mais importantes aliados na região, se a Coreia do Norte tiver alguma intenção agressiva. A provocação do regime norte-coreano permitem também aos Estados Unidos surgirem como os mais sólidos "protectores" de aliados como a Coreia do Sul ou o Japão, os mais ameaçados por qualquer opção militar de Pyongyang. Para os EUA esta ameaça norte-coreana serve para reforçar o seu papel central na região, defendido por políticos como Hillary Clinton (que poderá ser a próxima presidente americana), num contexto de "contenção" da China. A Coreia do Sul, que tem conseguido gerir com cautela as suas relações com os EUA e a China, deverá seguir a sua política: se os EUA são um aliado militar fundamental, a China é uma peça essencial para resolver o xadrez norte-coreano.»

Fernando Sobral

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