12.2.16

12.02.1929. Nuno Bragança



O Nuno morreu com 56 anos, faria hoje 87, mas é-me absolutamente impossível imaginá-lo com tal idade porque o «fixei» na casa dos trinta ou dos quarenta. De uma colheita anterior à minha, foi sempre reconhecido por todos como de absolutamente excepcional, mesmo antes, bem antes, de A Noite e o Riso por aí aparecer com estrondo.

Retomo, em parte, o que já escrevi em tempos. Errando pelos mesmos meios oposicionistas, os destinos juntaram-nos também em casa de amigos comuns, onde passámos longas semanas de férias – nos tais anos sessenta que por cá também foram loucos, em plena Serra da Arrábida, sem electricidade e quando um gira-discos a pilhas, vindo da América, fez figura do mais sofisticado robot. Um pouco mais tarde, viria a acampar, no sentido estrito da palavra, no minúsculo apartamento em que o Nuno viveu vários anos em Paris. Confirmo o que a lenda conta: saía de casa por volta das cinco da manhã para escrever durante algumas horas, antes de iniciar mais um dia de trabalho.

Para a História ficou sobretudo o escritor e o excelente documentário U Omãi Qe Dava Pulus, de João Pinto Nogueira. Eu registo também o católico resistente, boémio e espartano, fundador de O Tempo e o Modo, membro do MAR (Movimento de Acção Revolucionária), colaborador das Brigadas Revolucionárias, o conspirador por feitio e por excelência – neste caso não tanto A Noite e o Riso, antes Directa e Square Tolstoi.

Reencontrei há algum tempo uma velha fotografia, de um jantar colectivo, onde fiquei sentada em frente do Nuno. Mais de metade dos que lá estavam já se foram embora e não me apetece mostrá-los. Mas devo-lhes muito do que hoje sou. Muito, mesmo.

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Um documentário de 54 minutos, de 1989: Grande Plano de... Nuno Bragança.

[Republicação modificada] 
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