2.3.16

Hollywood e o ensino



«O grande cartaz onde está escrito "Hollywoodland" não se destinava, no início, a promover a terra dos sonhos do cinema. Era publicidade de uma empresa imobiliária que queria vender casas paradisíacas.

O cartaz tinha 50 mil luzes eléctricas que piscavam durante a noite. Muitas fundiam-se e havia um homem que tinha uma única missão: substituí-las. Nada de muito diferente do que se passa no Ministério da Educação. Cada ministro é contratado para substituir as lâmpadas que se vão fundindo. Alguns, como Maria de Lurdes Rodrigues ou, mais recentemente, Nuno Crato, esmeraram-se. Entretiveram-se a rebentar mais umas quantas, talvez a sonhar com um cartaz sem luzes a piscar. A animada conversa sobre cinema entre o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, e a deputada do CDS, Ana Rita Bessa, apesar de divertida, mostra que a educação continua a ser um filme. Não digno de um Óscar, mas frequentemente próximo de uma série B ou Z. (…)

Os professores, neste país, têm sido tratados como "custos". E não como investimento. Criou-se uma cultura de valores inversos, onde não há uma luta da civilização contra a ignorância. E, nesse caso concreto, a escola pública tem sido demolida com rigor sádico. Talvez por isso Nuno Crato seja condecorado. A política seguida há anos ignora o ensino como base de uma sociedade democrática: fechou-se entre currículos que mudam como cogumelos e a conversão dos professores em inimigos públicos perfeitos. Tendo-se transformado a educação num mercado de lucro, caminha-se alegremente para o paraíso perdido: uma Hollywood que deixará de estar iluminada, porque todas as luzes estão fundidas.»

Fernando Sobral

1 comments:

septuagenário disse...

Talvez por isso, não pela escola pública, antes por escolas e colégios privados, que a maioria dos nossos governantes pensantes se passeou.