11.3.16

«Olá, Marcelo. Onde é que estava no 11 de Março de 1975?»



Esta era a pergunta que gostava de fazer hoje ao novo presidente da República, só para ver se respondia que estava cheio de «afectos» (ninguém estava…) ou «com todos os portugueses» (o que teria sido uma verdadeira solução para a quadratura de um complicado circulo). Responderia, muito provavelmente, que se encontrava no Expresso a escrever notícias – a resposta sempre pronta que tem para perguntas sobre tempos mais ou menos incómodos.

Eu sei muito bem por onde andei: primeiro no meu local de trabalho, desde o almoço nas imediações do Ralis a tentar ver em que paravam as modas, durante o resto do dia em concentrações, por ruas de Lisboa, convocadas nem sei como, e que desembocaram ali para os lados das Janelas Verdes e da Infante Santo. Mas recordo sobretudo o dia seguinte e uma Assembleia Geral de Trabalhadores da empresa em que então estava – a IBM –, numa sala absolutamente à cunha, com mais de 400 pessoas, na qual foi aprovado, quase por unanimidade, um texto que talvez pareça hoje saído de uma série de ficção:

Moção

As forças dos monopólios e dos latifundiários lançaram mais um ataque contra o processo revolucionário iniciado no 25 de Abril.
Aproveitando-se da impunidade com que actuaram no 28 de Setembro, da presença entre nós de agitadores internacionais ao serviço dos potentados económicos, tentaram mais uma vez fazer regressar o fascismo com todo o seu cortejo de crimes de exploração e opressão.
Mais uma vez os trabalhadores se ergueram aos milhares, com os seus sindicatos e com os partidos verdadeiramente democráticos e defenderam, na rua, a liberdade de levar a Revolução até às últimas consequências.
Os trabalhadores da IBM, pondo-se ao lado da massa dos trabalhadores portugueses, exigem:
1 – Castigo exemplar para os contra-revolucionários.
2 – Expulsão dos agitadores estrangeiros que tentam levar o nosso país para a guerra civil.
3 – Aplicação imediata de medidas económicas e sociais que, retirando aos monopólios e latifundiários o poder de que ainda efectivamente dispõem, tornem realmente irreversível o processo revolucionário.
4 – Proibição de todos os partidos que efectivamente estão do lado da reacção.

O que se seguiu em Portugal é conhecido:

11 de Março marca o início do PREC, que viria a durar oito meses e meio – até ao 25 de Novembro. Quem já era adulto lembra-se certamente dos ambientes absolutamente alucinantes, sobretudo a partir de 14 de Março quando foi criado o Conselho da Revolução e se deu a nacionalização da Banca e da maior parte das companhias de Seguros. E não se julgue que foi só a chamada extrema esquerda a aplaudir essas medidas:

«As nacionalizações são saudadas à esquerda e não são contrariadas à direita. O PPD apoiou-as, embora prevenindo que "substituir um capitalismo liberal por um capitalismo de Estado não resolve as contradições com que se debate hoje a sociedade portuguesa".

Mário Soares mostrou-se eufórico, considerando tratar-se de "um dia histórico, em que o capitalismo se afundou". Disse num comício que "a nacionalização da banca, que por sua vez detém (…) a maior parte das acções das empresas portuguesas e, ao mesmo tempo, a fuga e prisão dos chefes das nove grandes famílias que dominavam Portugal, indicam de uma maneira muito clara que se está a caminho de se criar uma sociedade nova em Portugal".» (Adelino Gomes e José Pedro Castanheira, Os dias loucos do PREC, p. 28.)

Quem quiser conhecer ou recordar os acontecimentos do dia 11 tem à disposição três vídeos:


Mais aqui e aqui.
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1 comments:

Luis Eme disse...

Como eu gosto da memória da Joana. :)