27.5.16

As toupeiras também têm coração



«Um espião português foi detido, em Roma, por suspeita de estar a vender segredos a um funcionário dos serviços de informações da Rússia.

A primeira pergunta que me ocorre é: será que isto conta como exportações? Pode haver aqui um mercado a explorar. A quanto estará o barril do segredo?

Eu sou péssimo a guardar segredos. Nota-se logo que estou a esconder alguma coisa. Mesmo que essa coisa não tenha nada a ver com a pessoa que está à minha frente. Jamais conseguiria guardar o terceiro segredo de Fátima, como fez a irmã Lúcia. Haveria de acabar por contar ao oftalmologista. Percebo, perfeitamente, que um espião tenha necessidade de desabafar. Mas, segundo percebi, este nosso espião estava a desabafar a troco de 10 mil euros do espião russo, com quem se encontrou em Roma. Espero que os 10 mil euros fossem só o sinal. Parece-me pouco por um segredo da NATO. Espiões que se vendem ao preço de um central da II Liga de futebol portuguesa. Que pena o Jorge Mendes não andar, também, metido nisto. (…)

Se os amigos e colegas do espião dizem que ele, desde o divórcio, começou a usar rabo-de-cavalo, deixou de usar gravata e passou a ir para a noite, isto tem muito pouco a ver com espionagem. Estamos perante o clássico caso do recém-divorciado que quer convencer a ex-mulher que já é outra pessoa. Usa rabo-de-cavalo, sai à noite e vende segredos aos russos. Como quem diz: "Já não sou o bota de elástico com quem te casaste. Até fiz uma tatuagem a dizer Fuck e, agora, sou o bandido que todas adoram."

A nossa espionagem é isto, muito pouco John le Carré, bastante Corín Tellado.»

João Quadros

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