7.7.16

A teoria dos cogumelos



«Em 1893, o conde de Samodães, na introdução ao catálogo da Exposição Industrial Portuguesa, escrevia umas palavras singelas e tristes: "As finanças do Estado estão arruinadas, a taxa do imposto tem atingido o máximo de tolerância, o país definha, a emigração cresce, o dinheiro metálico desapareceu, as grandes casas bancárias ou faliram ou se aproximam da insolvência, as questões políticas azedam-se, as crises ministeriais multiplicam-se." Ou seja, nada de fundamental mudou em Portugal. Mudam-se os tempos, mantêm-se as vontades. A diferença é que, com a entrada na Zona Euro, o país entregou os seus últimos poderes a um grupo de burocratas e líderes políticos sediados em Bruxelas e Berlim cujos interesses não se confundem com os dos portugueses. Há quem fique muito contente com isso e ache que esse é o corolário do célebre projecto de "destruição criativa" iniciado em 2011 e cujos resultados foram a anemia da nossa economia, a destruição do que sobejava da poupança nacional e o colapso do que restava de símbolos empresariais nacionais. Destruiu-se a pensar que o país renasceria por livre vontade da natureza.

Como os cogumelos. Marcelo Rebelo de Sousa, nesse aspecto, percebeu a analogia: todos os cogumelos são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros. E, neste sufoco interno e externo, Marcelo é que aconchega António Costa e não o inverso, como se viu em alguns tempos de Cavaco e Passos Coelho. Dentro da teoria dos cogumelos há os que são envenenados e os que podem ser refogados. Na Europa aristocrática de Bruxelas o veneno escorre através dos "champignons". Por aqui, refoga-se a CGD, numa comissão de inquérito, que pelo exemplo das primeiras horas de concílio vai ser um prato indigesto para os cidadãos: cogumelos recheados com queijo bolorento. A grande dúvida dos portugueses é se neste "Masterchef" de demasiados "chefs" e poucos cozinheiros a sério, eles não passarão por aqueles cogumelos mais pequeninos que são cortados aos quadradinhos.»

Fernando Sobral

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