20.8.16

As políticas do impossível



«Diz-se que a política é a arte do possível. Mas, no tempo em que o imprevisível domina e os novos desafios surgem a cada esquina, é cada vez mais difícil encontrar respostas e soluções no campo do possível.

A maioria dos cidadãos considera a classe política incapaz e incompetente. Basta referir os casos de França e do Governo de Hollande, da trapalhada do Brexit ou das constantes acrobacias das instituições europeias. A velha política dos consensos, dos equilíbrios, dos interesses, do só fazer aquilo que se pode fazer e nunca mais do que isso, faliu.

Em seu lugar vão emergindo as políticas do impossível. Aquelas que representam propostas inesperadas ou soluções imprevistas. Em Portugal, temos o caso da atual coligação que junta PS, PC, Bloco e Verdes. Até ao momento em que se formalizou era tida por impossível. O arco da governação não o permitia. Meses depois, com excelentes resultados num clima de cooperação aberta como nunca existiu, em que se assume as diferenças, mesmo assim são muitos os que continuam a dizer que não pode ser, não funciona, vai acabar para a semana. Não percebendo que, mesmo que isso seja inevitável, tudo morre, se abriu um caminho que alterou radicalmente a política portuguesa.

Outro exemplo, num sentido totalmente oposto, é o de Donald Trump nos Estados Unidos. Conseguiu notoriedade, venceu as primárias, porque representa o campo do impossível. Desmantelou a compostura do partido republicano, faz propostas tresloucadas, tem uma atitude extremamente agressiva, de verdadeiro "bully". (…)

As políticas do impossível vão expandir-se para todos os lados. Para as utopias e para as distopias. Apesar dos riscos, são inevitáveis. Não só porque a política tradicional está esgotada, mas porque temos hoje desafios que irão forçar mudanças radicais. Causados pelos problemas ambientais que põem em risco a própria sobrevivência da vida no planeta. Pelo crescente e insuportável fosso entre ricos e pobres que gera violência social. Pela crise do capitalismo financeiro que leva à falência empresas, bancos e famílias. Pelo terrorismo que nos quer fazer regressar à idade das trevas.

Pelo seu carácter disruptor, destacaria o incontornável desafio que coloca a inovação tecnológica. Sabemos como a revolução digital provocou vastas alterações nos modos de vida e na atividade humana. Extinguiu profissões, obrigou a mudar comportamentos a uma enorme velocidade. Promete, com a inteligência artificial e com a robótica, provocar uma desocupação generalizada para a espécie humana. Os números apontam para que, dentro de poucas décadas, 50% das pessoas não tenham qualquer atividade remunerada. Não será certamente com as políticas do possível, os fundos de desemprego e a assistência social, que a sociedade poderá aguentar um tal embate. Só o que é hoje tido por impossível nos pode salvar.»

Leonel Moura

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