8.8.16

Rocha Andrade, o perdedor



«A literatura, o cinema ou a política estão repletos de perdedores. Sem eles seria mais difícil perceber o mundo. O que seria a nossa cultura sem Dom Quixote, o fidalgo que perdeu sempre contra os moinhos de vento.

Ou Charlot, que tem de pedir ajuda a uma bengala para não cair. Ou, se quisermos, Barry Goldwater, eterna esperança dos republicanos americanos, que nunca conseguiu ser presidente. Chegando a dizer: "A América é um grande país onde todos podem crescer para ser presidente - excepto eu." Há, claro, quem nunca tenha sido derrotado porque nunca se dignou ir, de peito aberto, para o campo de batalha. A política portuguesa tem muitos desses exemplos. E há, claro, quem perca por ingenuidade e por ter uma tendência para se suicidar politicamente.

Temos um caso recente de um pequeno ou médio perdedor: Rocha Andrade. Não é um grande perdedor: é apenas vítima das circunstâncias que criou. Ao contrário dos outros dois secretários de Estado que, no meio da euforia de ir ver a Selecção a França, também esqueceram o dever de recato quando se tem funções estatais, Rocha Andrade tem uma posição central no Executivo. Quem gere o Fisco não pode pedir frugalidade aos comuns cidadãos, investigando se há desvios nas facturas, se vão ao cabeleireiro ou se vendem caracóis nas esquinas, se depois recebe ingenuamente um bilhete e uma viagem aprazível. Mesmo que seja patriótica. O Código de Conduta inventado pelo Governo é agora gás lacrimogéneo para fazer lacrimejar os tolos. E a tentativa de Rocha Andrade pagar o bilhete do jogo é como atirar um "boomerang" para acertar na cabeça de quem o lançou: o próprio secretário de Estado. O que o torna um perdedor visível. Porque, a partir de agora, Rocha Andrade tornou-se um fantasma político que vagueia pelo Governo. No país ninguém lhe vai dar a mínima importância, porque todos se lembrarão de ter ido à borla ao Euro em França. Mesmo continuando no Governo, Rocha Andrade tornou-se um Dom Quixote apeado.»

1 comments:

Monteiro disse...

Coitado que era tão boa pessoa e agora os contribuintes órfãos de IRS por terem emigrado não lhe vão perdoar nunca mais até porque não têm nada a perder.
Brincar com quem abandonou a Pátria por imperativos pafioso-liberais não lhe vão perdoar, nunca mais.
Não pagar o IRS a quem emigrou é um crime maior que Rocha Andrade vai ter que explicar muito mais do que se envolver na manta dos 100 milhões que a GALP não quer pagar.