29.10.16

Coisas importantes, coisas menos importantes e coisas nulas



José Pacheco Pereira, no Público de hoje, aborda várias questões. Escolho algumas:

«2. É-me incompreensível que gestores de um banco do Estado, mesmo com o bizarro acordo feito para não os equiparar a gestores públicos, não tenham de apresentar a declaração de rendimentos ao Tribunal Constitucional. Sou, por outro lado, muito menos crítico dos salários que lhes pagam — sempre achei que se devia pagar salários competitivos em várias áreas do Estado e do governo, quando as funções são muito complexas e especializadas e exigem conhecimentos e experiência que só existe no sector privado. Prefiro que se recrutem os melhores, porque, se o forem, poupam-nos muito mais do que aquilo que ganham. Mas estes salários milionários implicam responsabilidades acrescidas pelos resultados e, como se faz no privado, deveriam estar indexados a esses resultados.

Não sei muito bem que condições colocaram para aceitar o lugar, e se nessas condições se incluía a não obrigação de declarar os seus rendimentos, mas se foi assim foi um erro do ministro e um erro de avaliação próprio. Será apenas uma questão de tempo, até terem de o fazer a bem ou a mal.

3. A viagem do Presidente Marcelo a Cuba é puramente lúdica. Ele queria tirar uma fotografia com Fidel antes de este morrer, o que para um anticomunista como Marcelo é muito interessante de analisar do ponto de vista psicológico. Na verdade, é uma selfie de famoso com famoso, embora a dimensão das famas e o seu conteúdo sejam muito diferentes. (…)

5. Querer saber onde está Mário Nogueira para o picar para sair para a rua com a Fenprof. Querer humilhar o PCP e o BE “por estarem tão mansinhos” e picá-los para quebrarem com fragor a “paz social”. Queixar-se de que não há manifestações e chorar de saudades pela desocupação do espaço em frente das escadarias da Assembleia. Apelar à CGTP para que faça greves e motins como fazia “antes”. Dizer com mágoa, como Marques Mendes, “quem os viu e quem os vê”, com saudades de “quem os viu”. A lista do ridículo seria interminável. Ó homens! Eles têm uma coisa muito mais importante do que a rua — ganharam poder político. Ó homens! E, muito mais do que isso, têm poder político para ajudar melhor a “rua” do que se viessem para a rua. Aliás, é isso mesmo que, dia sim, dia não, vocês dizem. Então, em que ficamos? “Quem governa é o BE”, ou o “PS meteu-os no bolso”? Não foram “eles” que perderam poder, foram vocês. E sempre podem ocupar o vazio da rua e das manifestações, está lá à disposição. E não há causas mobilizadoras? Ou não há gente?

6. Sócrates é o pior da política portuguesa e que possa continuar a fazer política pelos intervalos da chuva mostra bem como existe uma degradação da vida política e como isso é indiferente aos partidos, neste caso a começar pelo PS. Eu nem sequer estou a escrever isto pressupondo que ele seja culpado das graves acusações que lhe fazem — isso é para outro foro e até lá existe a presunção de inocência. Não é por isso, é por tudo o resto. Pagou ou não ao “Abrantes” (e o PS veja lá se não continua a ter outros “Abrantes” em funções...)? Escreveu ou não os livros que têm o seu nome ou encomendou-o a um nègre? Comprou ou fez comprar milhares de livros seus para fazer subir a obra nos tops? Para cada uma destas acusações que não envolvem necessariamente crimes, uma vez explicada a origem do dinheiro, está-se perante um homem que vive e respira na mentira e que envenena o poço da nossa república. Sócrates é o exemplo vivo de alguém que mostra todos os dias como os partidos políticos são mais sensíveis à dissidência e ao delito de opinião do que a reiteradas “más práticas”, isto para usar um eufemismo.» 
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