17.10.16

Manter a aposta. E a crítica



«A direita agrediu o país durante quatro anos com um mantra sobre a suposta inevitabilidade de empobrecermos para ficarmos ricos e de cortarmos direitos sociais para termos uma sociedade mais justa. O caminho que a atual solução governativa contrapôs a essa estratégia de injustiça tem dois pilares: recuperar rendimentos para a população mais frágil e defender o Estado Social. Isso ficara claro no orçamento para 2016. O orçamento para 2017, apesar de todas as suas limitações, prossegue essa aposta. (…)

Chega? Não, não chega de todo. Mas, para quem se empenha em mais justiça na economia, valeu a pena o empenhamento nesta primeira fase da negociação do orçamento. Digo-o com a consciência de que os impasses económicos e os problemas sociais do país se mantêm, a exigir uma resposta à altura da sua complexidade. Se o êxito da consolidação orçamental imposta pelos guardiões do euro continuar a significar uma justiça, uma saúde, uma cultura ou um ensino condenados à míngua, então é a própria democracia que exige que questionemos as consequências de um aperto que se perpetua. Se o saldo primário das nossas contas para 2017 é de 5 mil milhões de euros mas continuarmos a ter de afetar 8 mil milhões ao pagamento de juros da dívida, então é o bom senso e a sobrevivência mesma da nossa economia que exigem que a renegociação da dívida seja, enfim, assumida como uma prioridade nacional.

A recuperação de rendimentos é uma condição de dignidade, mas essa recuperação será sempre tímida se o país se mantiver refém de imposições europeias que mutilam o investimento e paralisam os serviços públicos. As forças da maioria política que viabiliza o Governo não podem eximir-se à responsabilidade de transformar a esperança em futuro.

Neste orçamento, a aposta foi, e bem, mantida. A crítica tem que o ser também.»

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