11.10.16

Para onde vamos?



«Para alguns, Portugal deveria ser a Califórnia da Europa. Para outros, que sonham mais com o turismo, este país poderá transformar-se na Florida do Velho Continente. Para a Alemanha, está provado, deveremos ser um relógio de cuco dócil.

Só que a eleição de António Guterres mostrou que, como dizia o padre António Vieira, no seu célebre sermão de Santo António aos peixes, nascer português era morrer peregrino. Ou seja, livre de amarras de quem nos olha como um protectorado obediente. Portugal defronta-se, mais uma vez, com o seu destino: qual deve ser o seu lugar na Europa e no mundo? Se ficar acomodado à Europa, já se percebeu, Portugal será um aio de Berlim e de Bruxelas, acorrentado ao círculo vicioso de austeridade para pagar a dívida e equilibrar o défice enquanto fica sem dinheiro para fazer crescer a economia. Nunca sairá daqui.

Talvez por isso Portugal precise de se sentar junto ao Atlântico e voltar a partir para não acabar como as fábulas dos irmãos Grimm para crianças. De outra forma Portugal devorar-se-á a si próprio. O país vive um momento de equilibrista sem rede por baixo. Do estrangeiro pede-se para se cortar, já não nas gorduras, mas no osso. No interior exige-se que se distribuam gorduras que são difíceis de encontrar. O caminho estreito de António Costa e do seu Governo que tem de ser Hyde e Jekyll ao mesmo tempo faz-se por aí. É um trilho minado e difícil. Mas isso não apaga os desvarios que se vão observando. O OE está a tornar-se uma nova Praça da Ribeira: tudo é anunciado e negociado aos gritos. Parece o regresso, como farsa, do OE do queijo limiano. Não é um bom sinal. Para onde caminhamos? É isso que continua a não se discutir neste país que continua a ser um torpe herdeiro do cobrador do fraque: tudo o que reluz pode ser taxado. Vive-se do curto prazo, de ideias curtas e de políticas vãs. Com postais da Califórnia e da Florida como ilusão. Portugal precisa é de ser Portugal.»

Fernando Sobral

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