23.11.16

O sucesso das notícias falsas



No Público de hoje, José Vítor Malheiros aborda o tema que está na ordem do dia, num texto intitulado «Menina de sete anos grávida pela segunda vez»:

«O título desta crónica reproduz o título de uma reportagem publicada neste jornal no dia 18 de Junho de 1993. A reportagem era assinada pela jornalista Tereza Coelho (1959-2009) que, no primeiro parágrafo, desvendava a razão do título: “É sobre o concerto de Donovan na quarta-feira em Lisboa, mas com outro título ninguém lia. (…)

Não havia, da parte da jornalista, a mínima intenção de defraudar os seus leitores – tanto mais que a artimanha era desmontada nas primeiras linhas do texto (…) Mas a verdade é que a provocação de Tereza Coelho punha em evidência a perversidade do jogo em que a imprensa estava a mergulhar para garantir as audiências que assegurassem a sua sobrevivência. (…)

Uma notícia falsa atrai mais leitores precisamente porque é falsa. Porque o conteúdo pode ser tão bizarro ou escandaloso quanto se queira e não custa quase nada a produzir porque não é preciso fazer entrevistas, deslocações e investigação: basta sentar-se à secretária e inventar. E o tráfego gera receitas através da publicidade que é colocada no site.

O “abcnews.com.co” [site de notícias falsas com sede na Colômbia] é um dos muitos sites que pertence a Paul Horner, um empresário de 38 anos desta área de negócio que explodiu durante as eleições presidenciais americanas. Porque é que isto é importante? Porque Horner acha que foram as suas notícias falsas que puseram Trump na Casa Branca. Porquê? Porque Horner descobriu que os republicanos mais à direita são o grupo mais fácil de enganar e consomem e partilham as suas notícias sem fazer qualquer tipo de verificação. Daí que tenha feito centenas de notícias (partilhadas milhões de vezes) sobre as conspirações e a corrupção dos liberais e que iam direito às preferências dos americanos mais racistas, homófobos e de uma forma geral reaccionários.

A narrativa sobre a qual assenta a democracia representativa diz-nos que os cidadãos se informam nos media e votam de acordo com os seus valores, interesses e preferências. Mas o que acontece quando uma maioria de cidadãos consome “informação” que não é apenas enviesada, mas totalmente falsa? As eleições livres continuam a ser possíveis?» 
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