25.6.16

Dica (318)



A trágica pequena Europa. (Viriato Soromenho Marques) 

«O referendo britânico não é uma causa, mas o efeito de um projeto europeu que se tornou politicamente irresponsável e socialmente hostil. Na teoria, este referendo poderia ser uma oportunidade para refundar o projeto europeu. Mas, na prática, será credível que quem nos conduziu até aqui seja capaz de seguir o caminho que nos pode salvar?» 
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José Manuel Pureza: uma importante e corajosa entrevista

O «Brexit» pode ser o abanão de que a Europa precisa



José Pacheco Pereira no Público de hoje:

«Mais do que uma vez disse que tinha “mixed feelings” em relação ao Brexit, era sensível a argumentos a favor ou contra a permanência do Reino Unido, embora estivesse convencido que no fim ganharia o “remain” por uma pequena margem. (…)

“Take our country back” é um slogan poderoso, entre outras coisas, porque é verdadeiro. O “país”, sob formas mais ou menos capciosas e nunca legitimadas pelo voto com a clareza que é precisa nestas matérias, tinha de facto sido “roubado”, como aliás acontece com muitos países da Europa, a começar pela Europa do Sul. (…)

No Reino Unido não votaram os anti-emigrantes contra os amigos dos emigrantes, porque o benefício que Cameron levou para a campanha, dado por uma Europa sem princípios, foi exactamente a excepção para o Reino Unido de poder retirar direitos aos emigrantes. No Reino Unido não votaram os velhos contra os jovens, o campo contra cidade, os populistas emotivos contra os “racionais”, os que olham para o “futuro” contra os que olham para o “passado”. Votaram os escoceses a favor da independência da Escócia por via do sim à Europa, votaram os irlandeses do Norte que não querem uma fronteira externa da União ao lado da República da Irlanda, e votaram os mais pobres e mais excluídos, tirando o tapete ao Partido Trabalhista, e recusaram o voto a tudo quanto é grande interesse, a começar pelo capital financeiro e pelas grandes empresas que são, há muito, mais internacionalistas do que qualquer Internacional Comunista. Era uma combinação muitas vezes contraditória de intenções de voto? Era, mas as democracias são assim. (…)

A saída do Reino Unido pode ser muito positiva para a União Europeia, que, já se viu, se não muda “a bem” só pode mudar “a mal”. Claro que os países da União podem acantonar-se numa atitude revanchista contra o Reino Unido para lhe fazer “pagar” a ousadia. Não é impossível que isso aconteça, num remake do que se fez à Grécia com os brilhantes resultados conhecidos. Ou podem compreender que há um vasto conjunto de laços com o Reino Unido que nada impede serem mantidos, mesmo que o país não faça parte das instituições políticas da União. (…)

Se seguirem uma linha à grega de vingança, que é o que presumo passa pela cabeça de alguns gnomos europeus e pela burocracia, cujo comportamento teve um grande papel em alimentar o “Brexit”, os problemas da Europa só se agravarão. Uma negociação punitiva com o Reino Unido favorece a independência escocesa com os efeitos que isso tem em Espanha, e agravará nas opiniões públicas a reacção soberanista que tem crescido com a política de dolo das últimas décadas e com a transformação da política “austeritária” na vulgata imposta na Europa.

O que aconteceu no Reino Unido não é da mesma natureza da ascensão da Frente Nacional em França, embora a ecologia que a União Europeia está a criar seja propícia a estes movimentos. Por isso, o abanão inglês pode incentivar uma crescente contestação, à direita em França, na Hungria, na Polónia, e à esquerda em Espanha e em Portugal. Não adianta, como fazem os nossos europeístas, que nunca percebem nada do que se passa a não ser quando têm o fogo à porta, meter todos os movimentos de contestação ao actual estado de coisas na Europa no mesmo saco de “populistas e extremistas”. Mas deviam meter no mesmo saco as causas dessa ascensão, porque as causas são de sua responsabilidade: a engenharia política do “mais Europa” à revelia da vontade dos povos e feita com truques e sem democracia, a erosão das democracias que, verifica-se agora, funcionam apenas no espaço da soberania, o poder solitário de um país e dos seus aliados com políticas económicas e sociais de “austeridade” que levaram à estagnação económica da Europa, a captura pelo poder financeiro dos centros de poder, a mono política de ir atrás de salários e pensões enquanto se fecha os olhos aos paraísos fiscais, e o tratamento inaceitável dos refugiados (anote-se, muito pior do que o do Reino Unido) inscrito no acordo sinistro com a Turquia.

Continuem assim e o fim da União não vai ser bonito de se ver. O abanão do Reino Unido pode ser a última oportunidade de a mudança na Europa não ser convulsiva.» 
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24.6.16

É mais ou menos isto




Daniel Oliveira, no Expresso diário de hoje.
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Dica (317)




«The United Kingdom is leaving! You have to write it again just to believe it. Brexit is no longer merely the subject of pub talk. It is reality. The nightmare has come true and Europe is bewildered about what happened.» 
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Não perderemos o humor britânico



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Brexit, com humor



«Uma UE sem o Reino Unido é o mesmo que uma viagem de finalistas sem bêbados ou um casamento sem ninguém alcoolizado a fazer um discurso, ou um bar de karaoke só com gente sóbria. Os ingleses são isso, essa noção de que há coisas que nunca mudam (e muitas delas metem álcool).

Tenho dificuldade em viver numa União Europeia sem um Ministry of Silly Walks. Imaginem que o Reino Unido sai da UE e o humor da União passa a ser dominado pelos alemães. Mil vezes o domínio económico!

Tony Blair disse que esta é a maior decisão do Reino Unido desde a Segunda Guerra Mundial, e este é um dos raros casos em que Blair não disse uma asneira. Na primeira ida a Londres, fiquei muito impressionado quando visitei Whitehall, especialmente o Cabinet War. Estive no quarto onde o Churchill dormia durante a Segunda Guerra Mundial, e que fica três metros abaixo do chão. Ainda lá está a cama e o bacio que Churchill usava. Aliás, depois de ver o estado em que está o bacio, percebi porque fizeram o quarto do Churchill três metros abaixo da superfície... mas foi arrepiante. Estava ali, naquele quarto, uma parte crucial da resistência da Europa aos nazis e da democracia em que vivi. E é isso que perdemos com o Brexit. (…)

O Reino Unido é aquele amigo (bêbado) divertido da festa que sabemos que, quando ele se for embora, vão começar os outros a dizer que, se calhar, então, também já vão. E já não temos desculpa para dizer: "Fiquem mais um bocado que o Xico foi buscar mais uma garrafa de Licor Beirão e vai fazer a cena com a cabra e o maçarico." Sai o Reino Unido e é o começo do fim da festa. Depois pára a música, desligam-se as luzes e vai cada um para sua casa. Se isso é bom, não sei. Se calhar, algum dia a festa tinha de acabar. Mas que é sinal de que vamos ficar sozinhos, em casa, cheios de lixo, disso não tenho muitas dúvidas.

No fundo, na minha ridícula opinião, neste referendo, se o "não" muda tudo, o "sim" tem de mudar muita coisa. Ou seja, a UE tem a oportunidade de "And Now For Something Completely Different".»

João Quadros
(texto escrito antes de conhecidos os resultados do referendo)
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E a União Europeia é um projecto falhado



«Enganei-me na previsão sobre o resultado do referendo, pois admiti que a morte de Jo Cox tinha invertido as emoções que concluiriam uma campanha povoada de demagogia contra os imigrantes (dos dois lados, dos chefes do "Brexit" sugerindo a xenofobia e dos chefes do "Remain" negociando com Bruxelas a restrição dos direitos dos cidadãos europeus imigrados no Reino Unido).

Agora, contados os votos, só se pode concluir que, no argumento e na preparação para o futuro, o Reino Unido não sabe para onde vai – mas rejeita continuar numa União que não vai para lado nenhum. Falhou a aventura de Cameron, que foi apoiada a contragosto pelas autoridades europeias, mas a Escócia pode a partir de hoje escolher ser independente e a Irlanda pode escolher unificar-se, pelo menos duas consequências merecidas. Na Europa, tudo mau: falharam os subterfúgios, falhou a interpretação dos tratados a la carte, falhou o medo dos grandes mas cresce o medo dos pequenos.

A UE não tinha mais nada para oferecer se não esse medo, foi a esse ponto que caiu. E os seus líderes sempre pensaram que bastaria. Não perceberam – será desta? – que perderam todos os referendos importantes até agora: sobre a Constituição Europeia, sobre tratados, agora sobre a própria pertença e logo na segunda maior economia da União. Quando aceitam consultar os povos, momento raro, et pour cause, arriscam-se a perder e isso diz tudo sobre o que tem vindo a ser a “construção europeia”.

O choque chegou hoje. Agora, liquidez para os mercados financeiros, negociação relâmpago com o Reino Unido sobre as condições de saída, quais regras de tratados (que implicariam um processo até dois anos, com votos do parlamento europeu e acordo dos outros governos) e o discurso de sempre para quem está: aguenta, aguenta.

Terão os líderes europeus a tentação de correr em frente, nomear um ministro das finanças, esquartejar os orçamentos nacionais, fazer do euro o santo e a senha da concentração de poderes, normalizar as políticas neoliberais no mercado de trabalho e na segurança social? Hollande, um político da craveira de Cameron, acha que Paris vale bem a missa de uma proibição do direito de manifestação para impor essa visão sobre o emprego. E, se isto é Hollande, então Merkel decidirá o que quer pois quem manda, manda. E assim vai a liderança europeia na sua diversidade uniforme.

Lembra-se de quando os socialistas defendiam o pleno emprego? Esqueça. Os socialistas franceses agora defendem o fim dos contratos de emprego, à FMI. Um socialista holandês dirige a fronda das sanções contra Portugal e Espanha, à Schauble. Um socialista alemão é o ajudante de Merkel, à Gabriel. E isso esclarece o que podemos vir a ter pela frente: depois da desorientação, a corrida para garantir mais poder aqueles cujo poder está a destruir a Europa.

Para Portugal, mais um susto nas exportações, mas muito mais um susto político. Se e quando vierem as sanções, se a tanto atrevimento chegar a violência das instituições europeias agora imbuídas de um novo espírito de missão desesperada, só poderemos então concluir que a absoluta discricionariedade tomou conta da política europeia, que a falta de soberania se paga com a vulnerabilidade da democracia.

O sonho acabou. A União Europeia é um projecto falhado.»

Francisco Louçã
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23.6.16

Futebol e afectos, muitos afectos



Aqui na terra tão jogando futebol 
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll.
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Boris Vian morreu num 23 de Junho



Boris Vian morreu com 39 anos, vítima de crise cardíaca, em 23 de Junho de 1959. Escritor, engenheiro mecânico, inventor, poeta, cantor e trompetista, teve uma vida muito acidentada e ficou sobretudo conhecido pelos livros de poemas e alguns dos seus onze romances, como L’écume des jours e L’automne à Pékin.

Célebre ficou também uma canção – Le déserteur – que foi, durante muitos anos, uma espécie de hino para todos os que recusavam a guerra – incluindo muitos portugueses. Lançada durante a guerra da Indochina, foi grande o seu impacto e acabou mesmo por ser proibida por antipatriotismo, na rádio francesa, pouco depois do início da Guerra da Argélia.


(Serge Reggiani : Dormeur du Val , de Arthur Rimbaud, e Le déserteur de Boris Vian.)

Mas não só. Ficam mais duas:



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Só uma nota



Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje: 

«Man, tenho uma cena para te dizer, chaval. Tu tens 45 anos, estás a ver? Puto, já ninguém fala assim, meu. Essa cena era bué da fixe há 30 anos. Quando tínhamos 15 era top, man. Minto, nessa altura talvez fosse meramente baril. Parece-me que só nos últimos tempos é que as cenas baris passaram a ser top. (…)

És um bacano cuja língua tem complexo de Peter Pan, mas o resto do corpo foi à vida dele. Era top se conseguisses fazer com que os dois acertassem o passo. Experimenta. Vais curtir tótil.»

Na íntegra AQUI.
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Crianças refugiadas – do horror



«Cinco euros é o preço de um acto sexual com uma criança. Não estou a falar das Filipinas ou da Tailândia. Estou a falar dos "campos" onde muitas crianças aguardam uma oportunidade de sair de França rumo ao Reino Unido. A denúncia foi feita há dias pela UNICEF.
Segundo esta agência há nos sete campos da costa norte francesa, neste momento, cerca de 500 menores não acompanhados. O desespero é de tal forma que quase todos os dias há crianças tentam saltar para dentro de um camião e algumas, lê-se no relatório da UNICEF, estão a enlouquecer.

Adenda- Um amigo camionista, o El Quê que já há muito vem denunciando esta situação pediu-me para clarificar o post. Pois bem, aqui fica a clarificação. Os actos sexuais têm lugar no campo, há infelizmente máfias envolvidas, e antes das meninas e meninos chegarem ao mesmo. Por vezes até para terem acesso a um banho. O saltar para o camião é para tentar a fuga».

Helena Ferro Gouveia no Facbook 
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Entretanto em Espanha



«Quarenta anos de ditadura fizeram muito mal à Espanha e continuam a fazer. E um desses males é que mantém até hoje, neste país, uma visão da história da Espanha e da Europa muito conservadora, que não corresponde nem à história real de Espanha nem à da Europa. O facto de não ter havido uma "desnazificação" da Espanha explica que predomine, a nível popular, um franquismo sociológico que surge mesmo, de vez em quando, em vozes que se consideram ou se autodefinem como de esquerda. Continua-se a falar em Espanha de franquismo em vez de fascismo, confunde-se estalinismo com comunismo, não se sabe o que é o socialismo e ignora-se o protagonismo do Partido Comunista na luta contra a ditadura na Espanha. A enorme oposição das direitas à recuperação da memória histórica tem precisamente como objetivo propagar a visão conservadora (reprimindo a leitura progressista) do que aconteceu em Espanha e na Europa. (…)

O vazio criado pela social-democracia espanhola e a sua adaptação ao neoliberalismo esteve na base do protesto popular e da exigência de recuperação do projeto original, claramente abandonado pelo aparelho do PSOE. Daí a urgência de uma rebelião dos eleitores dessa opção política (na sua grande maioria pessoas claramente de esquerda) contra o aparelho do partido, para forçarem um movimento do PSOE no sentido da esquerda, evitando que crie obstáculos à criação de um governo das esquerdas, que será provavelmente possível num futuro próximo.» 

Vicenç Navarro

Na íntegra aqui.
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Brexit?



A Europa vai acabar o dia de hoje assim, qualquer que seja o resultado do referendo do outro lado do canal.
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22.6.16

Um Presidente da República numa «flash interview»



… depois do Hungria-Portugal. Ainda acaba no banco, equipado, pronto a entrar em campo se necessário.

(Imagem de Luís Aguiar-Conraria no Facebook)
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Dica (316)




«Brexit could be the best thing for Europe since the fall of the Berlin Wall.»
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E por falar em microfone...


@Pedro Vieira
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Ronaldo: abençoado lago!



Estou farta, fartíssima, de respeitinho politicamente correcto a quem não o merece! Se não estou enganada, há anos que Ronaldo não responde ao CM, nem em conferências de imprensa, por devassa da vida privada, que foi reconhecida em tribunal. A investida da CMTV, hoje, foi pura provocação.

A ler: cristiano ronaldo, o micro da cmtv e nós (Fernanda Câncio)
«eu prefiro a luta. o cristiano ronaldo também. e, atendendo às circunstâncias, acho que o que ele fez não só é plenamente justificado como teve imensa classe. foi um acto de um simbolismo que não tenho pejo em considerar belíssimo. o logo do cm foi para o seu habitat natural: o lodo.» 
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Tempos interessantes



«“Possam os teus filhos viver tempos interessantes”, ou seja, que as complicações que normalmente advêm da vivência de importantes acontecimentos históricos não aconteçam no (meu) tempo presente. Este é o verdadeiro sentido do célebre adágio chinês. (…)

Eu já vivi sucessivos tempos interessantes, (revolta estudantil de 1962, revolução do 25 de Abril de 1974, ingresso na Comissão Europeia em Janeiro de 1989, excluindo da lista os mais de 4 anos de serviço militar obrigatório, com passagem pela guerra colonial), e por isso sou levado a não concordar com a prudência chinesa, pois nem tudo é mau quando se vive tempos interessantes, sendo que o pior são as ilusões perdidas, aquilo que se projectava conquistar e não se realizou. Ainda hoje sinto isso em relação aos ideais do 25 de Abril, vividos com grande esperança de renovação da sociedade portuguesa e a triste desilusão que se nos depara no país actual. O mesmo se passará, ainda com mais intensidade, em relação aos países africanos que se tornaram independentes há 40 anos, de quem fui companheiro de sonhos na minha juventude, mas cujos descendentes actuais só muito tenuemente possuem consciência dos projectos falhados dos pioneiros das independências. (…)

Vem isto a propósito de mais dois acontecimentos interessantes deste mês de Junho, o “Brexit” e as eleições espanholas, que dizem respeito não apenas aos eleitores daqueles países, mas a todos nós. (…)

Não é por acaso que as principais centrais sindicais britânicas Unite, Unison e outras, com um total de 6 milhões de aderentes, apelam ao voto pela manutenção na União Europeia, pois que o governo conservador, no caso do voto pelo “Brexit”, se apressará a desmantelar os direitos laborais que ainda são respeitados por via dos tratados europeus. O mesmo fez o actual líder do Partido Trabalhista Jeremy Corbyn, que tinha sido até agora um eurocéptico.

Três dias depois do referendo sobre o “Brexit”, em 26 de Junho, haverá eleições legislativas em Espanha, onde o Podemos, aliado com o Unidos (que resultou do desmantelamento do PCE), defende uma política ao mesmo tempo soberanista e europeísta, conforme refere num artigo recente no El País o seu líder Pablo Iglesias. Sendo que a parte europeísta é associada aos direitos sociais, em que num novo modelo produtivo se aliariam forças políticas e sociais com sectores estratégicos do empresariado, tanto em Espanha como na Europa. Temos de convir que para chegar a este objectivo muito caminho terá de ser feito. Mas é isto que faz os nossos tempos interessantes e valerem a pena ser vividos.»

José Pereira da Costa

21.6.16

Entretanto na Grécia


Há um ano, a Comissão de Auditoria e Verdade sobre a Dívida Grega publicava no parlamento o relatório preliminar do seu trabalho. Para assinalar o aniversário do referendo, no dia 5 de julho é lançado o filme animado “Dívida grega, uma tragédia europeia” a resumir as conclusões desse trabalho, com versões em inglês, francês, italiano e castelhano. Trailer:



Daqui.
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Dica (315)



Caixa: sensibilidade e bom senso. (Mariana Mortágua) 

«O tema Caixa Geral de Depósitos instalou-se e já vinha com spin montado. A Direita quer acender uma fogueira a partir da simples hipótese de recapitalização do banco público e não falta quem queira lançar mais achas. Entre críticas justíssimas e ganância privatizadora, a polémica instala-se.»
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Exames: aos abrigos!



Algumas respostas lidas por uma professora, hoje, no exame do 12º ano de História:

«Derivado a muitas problematicas deusse a segunda guerra.»
«O povo Alemão não era libre com o nazismo mas vivia com muita dignidade.»
«A união Europeia foi muito util para se prestar-se mais atenção às especies em estinção, ao tráfego das drogas e às fronteiras maritimas..»

Comentários para quê. 
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Unidos+Podemos? Sim, esperemos que sim




Thomas Piketty, James Galbraith, mas também Francisco Louçã, José Castro Caldas e muitos outros.

«En concreto, los 177 firmantes del manifiesto 'Poner punto y final a las políticas de austeridad en España para abrir un nuevo tiempo en Europa' reclaman revertir los recortes en sanidad, educación, dependencia e I+D+i; garantizar empleos "estables y de calidad" derogando "las últimas reformas laborales" y alumbrando un nuevo marco de relaciones laborales "más democrático y equilibrado"; y apostar por una transición energética.

Igualmente, creen que hace falta "exigir alto y claro" a la Unión Europea una renegociación del ritmo de reducción del déficit público y, a medio plazo, una "profunda reforma" del Pacto de Estabilidad y Crecimiento para "garantizar su flexibilidad en función del ciclo económico".»
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A União Europeia transformou a Europa num bordel



«Na próxima quinta-feira, quando conhecermos os resultados do referendo no Reino Unido, eu espero ardentemente que o resultado seja a vitória do “Brexit”.

Não porque penso que o Reino Unido vá ficar melhor fora da UE. Não porque pense que a UE vai ficar melhor sem o Reino Unido. Mas apenas porque espero que a saída do Reino Unido seja o choque que irá provocar o abalo político, o exame de consciência e o toque a rebate democrático de que a União Europeia precisa para se reformar de forma radical e para se reconstruir, num formato e com regras diferentes, sob o signo da decência. E não penso que isso seja possível sem uma vitória do “Brexit”. (…)

A questão é que a UE não é aquela associação entre iguais que nos venderam, empenhada no progresso de todos os países e no bem-estar de todos os cidadãos, no pleno emprego e na segurança dos trabalhadores, na paz mundial e na promoção da democracia.

A questão é que a UE é apenas uma máscara que disfarça o domínio de um grande grupo de países por um pequeno grupo de países, numa nova forma de ocupação que usa a finança como instrumento de submissão, como antes se usavam tanques.

A questão é que a UE é uma organização antidemocrática, que não só é governada por dirigentes não eleitos e não removíveis, da Comissão Europeia ao Banco Central Europeu, como construiu ardilosamente uma camisa de forças jurídica, sob a forma de tratados irreformáveis de facto, através da qual manieta e subjuga os Estados-membros e lhes impõe políticas que estes não escolheram, mas não podem recusar.

A questão é que a UE e as suas instituições se transformaram na tropa de choque do poder financeiro mundial e da ideologia neoliberal e, apesar das suas juras democráticas, impõem a agenda asfixiante da austeridade e proíbem de facto os países de prosseguir políticas nacionais progressistas mesmo quando elas são a escolha democrática dos seus povos.

A questão é que a UE, autoproclamado clube das democracias e dos direitos humanos, acolhe no seu seio sem um piscar de olhos países que desrespeitam os direitos mais básicos e adopta no plano internacional a Realpolitik de se submeter aos mais fortes, obedecer aos mais ricos e fechar os olhos aos desmandos dos mais agressivos.

A questão é que a UE perdeu o direito de reivindicar qualquer superioridade moral quando continuou a atirar refugiados para a morte mesmo depois de ter chorado lágrimas de crocodilo sobre a fotografia de uma criança afogada no Mediterrâneo. Hoje, tenho vergonha de pertencer a este clube e não gosto desse sentimento. Será isto isolacionismo? Pelo contrário. O que eu e muitos cidadãos europeus exigimos é a solidariedade entre países que a União se recusa a praticar. (…)

A questão é que a União Europeia não é a Europa dos valores que sonhámos. A UE capturou essa Europa e transformou-a num bordel. O sonho transformou-se num pesadelo.

A questão é que a União Europeia se tornou o ninho da serpente e deve ser desmontada peça por peça. Espero que o referendo britânico possa ser o primeiro passo.»

José Vítor Malheiros

20.6.16

Estará?




Nicolau Santos, no Expresso diário de 20.06.2016:

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Brexit?


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Gravíssimo que Ronaldo tenha falhado aquele penalty



Mas…


«Uma em cada 113 pessoas no planeta está hoje numa situação de deslocado interno ou é um refugiado» – Seis «Portugais». 
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Dica (314)

Na Caixa com certeza



«A Caixa Geral de Depósitos tem sido, ao longo de décadas, uma espécie de Casa do Artista do Bloco Central (mas num condomínio de luxo). O pessoal do arco da governação arranja ali um arco onde se abrigar quando está retirado dos palcos políticos. De Varas a Cardonas, passando por Nogueiras Leites, a Caixa é o abrigo na dura estrada da vida dos favores políticos. - Está de chuva? Vai para a Caixa e espera que passe. A vida é uma incerteza menos para quem tem a Caixa com certeza. A ideia que tenho da CGD é que é um banco que funciona tão bem que metade da administração não tem de fazer nada. (…)

Posto isto, a minha proposta para ajudar a recuperar financeiramente o nosso banco é vender o edifício-sede da Caixa Geral de Depósitos na Avenida João XXI. Deve dar uma boa ajuda em termos financeiros, não só no que se poupa como no que se ganha.

Vejamos. A nível de espaço, suponho que equivale a cinco Jerónimos. Dava um bom Continente, por exemplo. Juntamente com a Muralha da China, e o ordenado do Mexia na EDP, é a única coisa que se vê, a olho nu, da Lua. A CGD podia, por exemplo, vender a sede da João XXI à Câmara para fazer a nova Mesquita de Lisboa. Desta vez, sem chatices (nem expropriações), até porque o edifício, em termos arquitectónicos, já tem um formato que não exige grandes mudanças. É pôr um crescente na abóbada principal e siga. Depois não digam que o Quadros não contribui. Claro que o maior problema desta solução é a dificuldade que um muçulmano sente ao ter de dizer: "Vou ali à Mesquita João XXI."»

João Quadros
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19.6.16

Chico, 72



Chico Buarque nasceu em 19 de Junho de 1944. O tempo voa e o menino virou velho. Who cares?








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Semana imprópria para cardíacos


Brexit ou não, Eleições espanholas sim ou não, Portugal no Euro não ou sim. 
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A Saturnália portuguesa



José Pacheco Pereira no Público de 18.06.2016:

«Parece que até no exame de filosofia se falou de futebol e do “igualitarismo”. Não vi o ponto, à data em que escrevo, mas conheço bem demais a questão que periodicamente os intelectuais do futebol, que há muitos, trazem para justificar tudo: o futebol iguala os ricos e os pobres na mesma Saturnália emocional e irracional, uma espécie de espasmo, para não lhe chamar outra coisa, colectivo, que revela a “alma” de um povo que, de um modo geral, está dividido e desalmado.

A sucessão de imagens fabulosas dos políticos portugueses a prestarem honras a esta nova forma de altar da Pátria, a bola, é o sinal de um unanimismo desejado que, como é evidente, a democracia não contém no plano político. Deixou de haver Benfica, Sporting, Porto, somos todos da Selecção, esse local ideal da ausência do conflito, da paz perpétua. Mas que fabuloso retrato de Marcelo e Costa, na encarnação do Senhor Feliz e do Senhor Contente, nos autógrafos ao Ronaldo e de Passos Coelho zangado, firme e hirto numa sucessão de fotografias que o PSD colocou no seu site e que é um dos melhores espelhos do “estado” do partido. Nelas, na sede do PSD, em sucessão hierárquica de importância medida pela distância de cada mesa e cadeira ao Poder, sem qualquer espontaneidade, numa postura norte-coreana, destoa apenas um homem sem cachecol, o verdadeiro líder, Passos Coelho fardado de Primeiro-ministro com a célebre bandeirinha à lapela. Pôr cachecol tornava-o igual aos outros, tirava-o do pedestal. (…)

Mas pobre retrato este, dos retratados e do fotógrafo invisível. No pacote vêm todas as ambiguidades da nossa vida colectiva, povo, media e política, todos demasiado iguais na objectiva futebolística, mistura de oportunismo, ou seja, escolha de oportunidades que não se podem falhar, cegueira, apologia da irracionalidade numa sociedade que tanta falta tem de racionalidade, brutalidade, e alarvidade, desculpa pela violência, encolher de ombros perante a alternância bipolar entre a gabarolice antes e a depressão depois, como se o destino de tudo dependesse do sucesso do futebol, para Portugal ser grande de novo. (…)

O que é “desigual” continua desigual. E basta olhar para as imagens das gentes à saída ou à entrada dos jogos, para ver as tias e os betos e o mecânico de automóveis e a caixa de supermercado, mesmo quando todos estão de cachecol, cara pintada, e de chapéus com cornos. A desigualdade é uma coisa tramada, cola-se à pele e não há maneira de a tirar, a não ser “igualando”. (…)

Não quero, nem muito menos podia se quisesse, tornar diferente o mundo do futebol. Mas ao menos que paguem o preço da crítica, aqueles para quem a crítica ainda tem algum papel. Não são muitos, nem adianta muito, mas pelo menos que se saiba e se diga, que os media deixam nestes dias de ser media para serem uma sucursal do Entretenimento Inc., e que participam alegremente numa operação de dopagem colectiva que empobrece o país. O exagero absoluto que já tem pouco a ver com o que se passa no jogo, para se tornar reality show permanente, tão aditivo como um químico.

George Orwell, que percebia destas coisas, escreveu: “Futebol, cerveja e acima de tudo o jogo, enchiam o horizonte das suas mentes. Mantê-los controlados não era difícil”. Nestes dias de bola, percebe-se que não é.»
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