16.7.16

Como secar as fontes do recrutamento salafista armado




Seis vídeos preciosos numa verdadeira lição de História, que ajuda a perceber muitas realidades.

(Azar para quem não aprendeu francês na escola…).
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Estranheza ou nem por isso


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O homem a evitar por higiene



Nicolau Santos, no Expresso Economia de 16.07.2016:

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Terrorismo: combate e ricochete



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Turquia: nem se imagina o que aí vem



«Erdogan prepara su respuesta y ya anunció mano dura a pocas horas de iniciarse el golpe. El primer ministro turco tiene un largo historial de políticas autoritarias y ha expresado su deseo de que los golpistas “paguen el precio más alto” por sus acciones.»
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Flores para Algernon



José Pacheco Pereira no Público de hoje:

Dr. Strauss says I shud rite down what I think and evrey thing that happins to me ...
He said now sit down Charlie we are not thru yet. Then I dont remember so good but he
wantid me to say what was in the ink. .... 
(Daniel Keyes, Flowers for Algernon)

«Hoje espera-se que eu escreva sobre o atentado de Nice. Ontem sobre as sanções. Anteontem sobre Durão Barroso ou o “Brexit”. Antes foi o dia do espasmo patriótico, o retorno à unidade orgânica da pátria, a realização do mito do unanimismo, o fim das divisões perversas no altar da selecção. Todos de cachecol, Marcelo, Costa, Jerónimo, os bloquistas, o CDS, os artistas menores do PSD, porque o maior mantém a compostura de Primeiro-ministro no exílio. Traz a bandeirinha à lapela e a zanga com o destino que lhe deu a geringonça no bolso.

Nos vinte dias anteriores era futebol, futebol, futebol, futebol, futebol, futebol, futebol, futebol, futebol, futebol, futebol, futebol, futebol, futebol, futebol, futebol, futebol, futebol, futebol, futebol. Num dia, no meio do futebol, alguma coisa sobre os atentados na Turquia. (…)

Antes? Também já não me lembro. A Caixa Geral de Depósitos associada às peripécias da Comissão de Inquérito? Talvez. Talvez os colégios de amarelo. Onde estão? Lá muito atrás um sussurro sobre os refugiados, ou melhor sobre os cadáveres dos refugiados. (…)

Mas havia uma voz. Uma voz acompanha tudo, 200 dias, 500 Declarações do Presidente da República, à média de mais de duas por dia. Dessas lembramo-nos de dez. As mais importantes? Quando se fazem 500 declarações nenhuma é importante. Talvez nos lembremos das mais engraçadas. (…) Marcelo a dançar em Moçambique, talvez a mais relevante, mas também já não me lembro bem… (…)


Leio jornais, vejo televisão, tenho cada vez menos memória e cada vez mais memória mediática, uma contradição entre os termos. Curta. Muito curta. Atafulhada de bola, casos da vida, acidentes, incidentes, nada. Dura um dia, quinze dias? Mais? Já não me lembro porque não é para lembrar, é para entreter, para distrair, para passar o tempo. Não sei. Sei cada vez menos. Devo estar doente. O meu cérebro está cada vez mais pequeno. Pequenino.

Já não me lembro. Coloquem flores na campa de Algernon.» 
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15.7.16

Nice, sem palavras

Libertar Portugal



«É certo que muita desta gente que praticamente todos os dias fala a partir de Bruxelas o faz sobretudo para os seus próprios eleitorados nacionais, mesmo quando respondem a perguntas dos jornalistas portugueses. A Norte, são por isso duros com os do Sul que não querem trabalhar e têm de ser postos na ordem. Já os do Sul são invariavelmente simpáticos, abertos ao diálogo, mas se por cá isso parece bem, é visto por alemães, holandeses, finlandeses e outros como uma manha típica dos que vivem à conta dos impostos deles. Quem viaja e visita estes países sabe que é essa a visão da maioria. Políticos e media locais não se cansam de alimentar esse tipo de preconceitos. (…)

O projeto europeu assentou na união. A atual política europeia está a cavar fundo a desunião. A Europa é cada vez mais um campo de batalha entre nações, para já com armas económicas e políticas, mas que abre de novo o espetro de confrontos convencionais. A construção de muros é, para todos os efeitos, um ato de guerra. E eles não param de crescer. As sanções não o são menos. (…)

É por isso que como pequeno país, frágil na sua economia, afável no seu comportamento, temos de pensar seriamente no nosso futuro. O cenário não podia ser pior. O capitalismo local não existe ou vende-se alegremente ao estrangeiro; a maioria das empresas é mal gerida e pouco produtiva; a política é medíocre; os media distraem o povo com assuntos menores e, em vez de nos defenderem, alinham displicentemente em muitas campanhas promovidas contra nós.

A libertação de Portugal volta a estar na ordem do dia. Em tempos foi a libertação de um regime fascista e isolacionista. Agora é do intolerável jugo do poder europeu e sobretudo de uma Alemanha que não parece ter aprendido nada com a sua própria história.»

Leonel Moura

Dica (335)

«Nas palavras de Morais Sarmento, um comentador insuspeito: "Ele vai desempenhar um lugar para o qual nunca um português foi nem é provável que seja tão brevemente convidado. Não é um lugar de representação, um alto-comissário para os refugiados”. 

Sim, tu não és um palhaço pobre a tratar das misérias dos desgraçados que ainda sofrem as consequências da invasão do Iraque. Como tu próprio disseste: “Podia ter aceitado ocupações mais tranquilas, mas gosto de posições de desafio”. Ah, ganda Durão Barroso, és tu e a Goldman Sachs!» 
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Entretanto, no Reino Unido

Minha alegre casinha



«O presidente do Eurogrupo diz que "as sanções a Portugal vão depender da resposta que o Governo vai dar à ameaça que será hoje concretizada" e a pergunta que me ocorre é: será que dá para mandar a carta do mister Fernando Santos ao Ecofin? É melhor não, que aquilo é um grupo de protestantes que, estranhamente, quer Portugal no purgatório. (…)

Não há sanções para campeões, está em letra pequenina no Tratado de Lisboa e arredores. "Vão no mau caminho", dizem eles. Sim, e também jogamos mal, mas ganhámos o campeonato da Europa. Imagina se jogássemos bem. Nem aparecia ninguém para o Mundial. O que custava a ganhar era o primeiro. Depois, nos próximos, logo damos "show". (…)

Imaginar um mundo onde perdemos a final contra os franceses, em Paris, aos 109 minutos de jogo com um golo do Mangala, é como imaginar que os nazis ganharam a II Guerra Mundial e agora os alemães mandam na Europa.

Como seria se tivéssemos perdido? Tirando Rui Santos, o país teria caído numa profunda depressão. Mais do mesmo. Era como se não houvesse alternativa. "Acabamos sempre por perder." Teria consequências para o país. Mal apitassem para o final do jogo, António Costa enviava um plano B para Bruxelas. Marcelo medalhava mais gente do fado. O ministro Centeno ia à reunião do Ecofin com um cachecol da Maria Luís e a oposição punha em causa o curso de engenheiro de Fernando Santos. Havia reportagens na televisão sobre um adepto francês que gozou com uma criança portuguesa (que estava a chorar a seguir à nossa derrota na final) e a música da Selecção era mesmo a do Abrunhosa. Ninguém quer viver nesse mundo.»

14.7.16

Antes que o dia acabe



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Dica (334)

Ingmar Bergman nasceu num 14 de Julho



Ingmar Bergman faria hoje 98 anos e morreu há quase 9. Foi durante alguns anos o meu cineasta de eleição e criou-me um fascínio tal pelos seus filmes, e pelo ambiente em que se passavam, que me fez gastar os primeiros tostões que consegui poupar: fui a um balcão da TAP, comprei um bilhete e pus-me a caminho de Estocolmo, sem nada  planeado. E não me arrependi.

Pretexto para recordar duas obras «eternas», dos anos 50, entre muitas outras magníficas!






E Saraband, o filme tardio de 2003 – de cortar a respiração.


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Ministros das Finanças: não, não houve unanimidade




O ministro grego lamentou não ter sido possível juntar uma maioria de bloqueio às sanções na reunião dos responsáveis pelas pastas das Finanças na UE.

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Dia dela



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O manda-chuva



«Nos velhos tempos da televisão portuguesa, o apresentador do boletim meteorológico era conhecido como o "manda-chuva". Porque era alguém que tinha o poder para decretar a chegada do dilúvio do céu ou a paz do sol.

A meteorologia é uma língua franca. Permite que iniciemos qualquer conversa. Charlie Chaplin, recorde-se, conheceu a sua enésima esposa quando lhe emprestou um guarda-chuva. Agora que os ingleses, os criadores da conversa fátua sobre o estado do tempo, abandonaram a UE, esta ficou dependente de um único boletim meteorológico: o que decreta, a partir de Berlim, a chuva e o sol. Wolfgang Schäuble, manda-chuva europeu, pode assim decretar que em Lisboa só chova e que em Berlim só faça sol. É um poder imenso que põe em causa as leis da natureza.

Numa recente entrevista ao Die Zeit, o filósofo alemão Jurgen Habermas, desconstrói esse perigoso facto: "A Alemanha é um poder hegemónico relutante, mas insensível e incapaz que ao mesmo tempo usa e ignora o perturbado balanço de poder europeu. Isto provoca ressentimentos, especialmente noutros países da Zona Euro. Como se sente um espanhol, um português ou um grego se perdeu o emprego como resultado de uma política de corte de custos decidida pela Comissão Europeia? Não podem denunciar os ministros alemães que impuseram a sua política em Bruxelas." Como é que um português olha para o rosto fechado de Schäuble, a pedir dureza e sanções, quando a Alemanha e França já incumpriram várias vezes com os seus défices e nunca aconteceu nada?

Disseram a Schäuble que ele era o manda-chuva e ele acreditou. Agora torna-se difícil ir contra o seu projecto de punir uns para defender a criação de um núcleo duro de uma nova UE. Houve um tempo em que a ideia de unidade europeia era tão poderosa que um ministro checo disse que os países se dissolveriam na UE como "um torrão de açúcar num café". O problema é que agora o café é amargo. Porque Schäuble e os seus amigos detestam não conseguir decretar que o Sul seja a terra da chuva e do frio. E não do sol.»

13.7.16

Dica (333)

Não sai uma medalhinha?



Era só para dizer que Karel Pott (à esquerda na imagem), meu padrinho, que terá sido o primeiro mulato moçambicano a licenciar-se (em Direito), concorreu às Olimpíadas de 1924, tenho ficado em 3º lugar numa das eliminatórias dos 100 metros. 
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A grande mentira da guerra



«A "ameaça" das "armas de destruição maciça" revelou-se uma ilusão. Saddam era o alvo. O petróleo, a jóia desejada. E o resto serviu apenas como menu para uma guerra devastadora.

O Iraque continua a ser uma terra de ninguém. Em poucos dias, dois acontecimentos recordaram o apocalipse que se abateu sobre um dos berços da civilização: o atentado do Daesh junto a uma geladaria na zona de Karrada, no centro de Bagdade, que fulminou cerca de 250 vidas inocentes, mostrando que a violência dos terroristas já não respeita qualquer fé ou limite moral; e a divulgação do relatório Chilcot, onde muitos políticos envolvidos na invasão do Iraque (e no derrube de Saddam Hussein) saem chamuscados, a começar por Tony Blair. Do relatório percebe-se a conexão entre as causas e os efeitos. E, sobretudo, a montanha de mentiras que forjou uma invasão cujos efeitos (nomeadamente o terrorismo do Daesh) estamos a sentir agora na máxima força. E que sentiremos nos próximos anos.

O relatório é claro: o Governo britânico de Blair exagerou os dados e manipulou-os e decidiu-se pela acção militar ao lado de George W. Bush. Não estava claramente para a invasão e para a ocupação e gestão do Iraque pós-Saddam. Treze anos de caos e violência foram o resultado. Basta olhar para o Iraque de hoje: é um país dividido religiosamente, com um Governo incapaz de gerir o país, com um exército deficiente e uma administração ineficiente (que os ocupantes americanos e ingleses ceifaram, julgando que todos os funcionários eram adeptos de Saddam), com uma violência mortal diária e parte do país ocupado pelo Daesh ou sob controlo curdo. A "ameaça" das "armas de destruição maciça" revelou-se uma ilusão. Saddam era o alvo. O petróleo, a jóia desejada. E o resto serviu apenas como menu para uma guerra devastadora e para um encontro nas Lajes sob os auspícios de Durão Barroso.

A montanha de mentiras, encenada por Blair e pelos seus aliados, alimentou a criação de uma violência sem limites. Há um exemplo claro: um bandido secundário, al-Zarqawi, foi declarado por Colin Powell, no seu discurso pré-guerra na ONU, como um terrorista aliado de Saddam. Era falso. Só que isso levou a que fosse promovido rapidamente dentro da Al-Qaeda e se tornasse o líder da insurgência sunita no Iraque. Ele acabaria por estar no núcleo inicial do Daesh, pelos seus requintes violentos, inspirando matanças em diversos países. O relatório Chilcot (que serve agora apenas para acalmar as consciências face às trágicas decisões de então) não fala muito das consequências: o sofrimento do povo iraquiano surge apenas em notas de rodapé. E é disso que muitos se continuam a esquecer no grande jogo do poder, da energia e da guerra.»

Fernando Sobral

Marcelo vai e leva Fernando Santos?

12.7.16

Pablo Neruda nasceu num 12 de Julho



Pablo Neruda nasceu em 12 de Julho de 1904, em Parral, no Chile, e morreu em Santiago, em Setembro de 1973, poucos dias depois do golpe que vitimou Salvador Allende. Não se tinha candidatado às eleições presidenciais de 1970 por ter considerado que Allende tinha mais possibilidade de as vencer, como veio a verificar-se.

Recordemo-lo um pouco, com a sua voz inconfundível, e com um poema relacionado com Portugal.






Poema de Neruda, de 1953, dedicado a Álvaro Cunhal, então a cumprir uma longa pena de prisão:

La lámpara marina

Portugal,
vuelve al mar, a tus navíos,
Portugal, vuelve al hombre, al marinero,
vuelve a la tierra tuya, a tu fragancia,
a tu razón libre en el viento,
de nuevo
a la luz matutina
del clavel y la espuma. Muéstranos tu tesoro,
tus hombres, tus mujeres.
No escondas más tu rostro
de embarcación valiente
puesta en las avanzadas del Océano.
Portugal, navegante,
descubridor de islas,
inventor de pimientas,
descubre el nuevo hombre,
as islas asombradas,
descubre el archipiélago en el tiempo.
La súbita
aparición
del pan
sobre la mesa,
la aurora,
tú, descúbrela,
descubridor de auroras.
Cómo es esto?
Cómo puedes negarte
al cielo de la luz tú, que mostraste
caminos a los ciegos?
Tú, dulce y férreo y viejo,
angosto y ancho padre
del horizonte, cómo
puedes cerrar la puerta
a los nuevos racimos
y al viento con estrellas del Oriente?
Proa de Europa, busca
en la corriente
las olas ancestrales,
la marítima barba
de Camoens.
Rompe
las telarañas
que cubren tu fragante arboladura,
y entonces
a nosostros os hijos de tus hijos,
aquellos para quienes
descubriste la arena
hasta entonces oscura
de la geografía deslumbrante, muéstra-nos que tú puedes
atravesar de nuevo
el nuevo mar escuro
y descubrir al hombre que ha nacido
en las islas más grandes de la tierra.
Navega, Portugal, la hora
llegó, levanta
tu estatura de proa
y entre las islas y los hombres vuelve
a ser camino.
En esta edad agrega
tu luz, vuelve a ser lámpara:
aprenderás de nuevo a ser estrella.”

In Las uvas y el viento, 1954
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Da natureza do cherne



«Se a banca fosse o que devia ser, poderia ser um negócio de pessoas honestas. Se a banca fosse regulada pelos estados de uma forma rigorosa, de forma a fazer o que deve fazer, poderia ser um negócio de pessoas honestas. Mas não é.

Se há santos na hierarquia da igreja católica não há nenhuma razão para que não haja pessoas honestas na banca, mas a honestidade não é a moeda deste negócio. O negócio da banca é o poder e a ausência de escrúpulos. Os grandes bancos de investimento controlam a finança do mundo e, através dela, a política e a economia. Possuem todo o poder? Não. Há enclaves de democracia que emergem constantemente, aqui e ali, há eleições onde a vontade popular às vezes se exprime, há ilhas de legalidade, há códigos e parlamentos e tribunais que não estão todos vendidos, mas a política actual é a guerra da democracia contra a finança, a guerra da soberania do povo contra a sede de poder ilimitado do 1% de 1% que quer controlar o mundo.

A função da política é, por isso, controlar a finança, da mesma maneira que é função da polícia controlar os criminosos. Se é assim, porque é que a Goldman Sachs e tantos outros não estão na cadeia? Porque não se pode prender uma empresa, porque os crimes podem ser sempre atribuídos a um bode escriturário e porque o dinheiro da Goldman Sachs permite-lhe sempre chegar a acordos extrajudiciais, como tem feito nos crimes de que tem sido acusada. A Goldman Sachs compra a justiça que quer.

Quando Durão Barroso vai para chairman da uma Goldman Sachs está apenas a rir na cara de quem acredita no primado da democracia na UE e a ser recompensado pelos dez anos como presidente da Comissão Europeia. Não há razões para surpresa. Apenas para um enorme nojo. A finança sem lei manda. Esperemos que não para sempre.»

José Vítor Malheiros

Dica (332)




«Durante estes anos, muito pouco foi feito para controlar a alta finança. Barroso e a Goldman têm muitos anos de colaboração. Ser presidente da Goldman não é só um trabalho. Mostra de que lado estamos. Barroso está no lado pior da política.

A Goldman Sachs, com Barroso, continuará a ser o que é. E um dia Barroso poderá ter contas para prestar. Esperemos que não se safe como se tem safado enquanto ex-primeiro-ministro, ele que sujou de sangue o nosso território ao oferecer a base das Lajes para a hedionda cimeira que iniciou o crime de guerra do Iraque.» 
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A união desfaz a força



«Numa noite gloriosa Portugal renunciou à sua épica militância de eterno derrotado e construiu outra, mais doce: a de vencedor. A missão heróica de redimir, através do futebol, os portugueses de boa vontade, foi concluída quase sem percebermos como.

A vitória sobre a França foi uma mensagem de paz, escutada nas sete partidas do mundo. Porque a vitória neste Euro, momento em que se afastou com um sopro, ou um golo de Éder, a fúria dos Adamastores que sucessivamente nos afastaram do destino, foi a de um país espalhado pelo mundo em busca do lugar onde cada um pode ser um deus a criar o seu futuro. Foi uma vitória mesclada de culturas africanas e brasileiras, algo que torna hoje o nosso futebol como o som de um Fado impregnado de ritmo e alegria. E de optimismo. Passámos a ter saudades de um outro futuro.

A vitória do Euro, depois de sagas perdidas perto da praia pelas gerações de Eusébio ou de Figo, foi como um choque eléctrico numa Pátria refém da hibernação da austeridade e dissolvida pela necessidade de encontrar fora de portas a sobrevivência. O exílio, depois desta vitória, já não é em Portugal. A união desfez a força. Contra a França os portugueses não ficaram amedrontados pela queda de Cristiano. (…)

O futebol uniu o país como nunca antes e esta vitória será a memória de mais do que uma geração. É a resposta à Europa das sanções e da tecnocracia cinzenta. Foi um grito do Ipiranga face ao futebol que os franceses e alemães jogam como burocratas e que os portugueses vivem como se fosse a sua vida. Se os europeus são objectivos, os portugueses (e os guineenses, e os brasileiros, e os cabo-verdianos, e os angolanos, e os…) são subjectivos. É isso que nos torna diferentes da Europa e dos seus soldadinhos de chumbo, todos iguais. E foi isso que nos custou tantos anos a ganhar um título. Mas agora abandonámos essa humildade. A vitória gerou um optimismo vital. Portugal, através do futebol, libertou-se. E deixou de ter medo do passado.»

Fernando Sobral

11.7.16

Monsieur Barroso



Capa de Libération, 12.07.2016 
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Nem sei que dizer…



… mas isto até podia ter dado azar à selecção. 
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Marcelo e os consensos



Ou o Presidente consegue tirar partido deste «consenso» nacional, ou não apanha outra oportunidade nem em dois mandatos.

By the way: falta Passos Coelho na imagem, onde estão todos os outros líderes partidários. Ele conhecia perfeitamente o horário da cerimónia em Belém, mas preferiu regressar mais tarde de Paris. Não há voos tardios grátis 
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Marcelo: hoje ainda não, amanhã não sabemos


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Priceless



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Ronaldo versus Barroso



Luís Pedro Nunes no Expresso diário:

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10.7.16

Sem Cavaco, sem Passos Coelho e com o Caneco



2016 Vintage!
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Galo por galo...



O nosso é mais altaneiro.
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Dica (331)




N.B. - «bras d'honneur» significa «manguito». 
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O triste fim da Europa



«A Europa está, aparentemente, unida, apesar do Brexit. Mas continua o seu irreversível declínio. Deixou de ser um exemplo moral e ideológico para o mundo, algo que era desde o Iluminismo.

A sua anemia económica tornou-a tão-só um mercado cobiçado por americanos ou chineses. Militarmente é um tigre de papel. As crises que tenta debelar ao mesmo tempo, de forma atabalhoada, mostram que não há uma estrela polar que guie os seus dirigentes e nações. Há talvez a estratégia de Wolfgang Schäuble (e dos interesses que defende) de transformar a União Europeia em dois grupos, um liderado pela Alemanha, e outro que circulará na sua periferia. Mas, no essencial, a Europa unida deixou de ser um projecto comum capaz de cativar os cidadãos. Uns porque têm medo dos emigrantes, os outros porque foram chacinados economicamente pela austeridade. (…)

A "pátria europeia" tornou-se um longo bocejo sem fim. A tentativa de construir uma superestrutura legal e económica chocou frontalmente com a inexistência de uma base cívica, cultural ou histórica.

Hoje, se olharmos para a UE, vemos diferentes tipos de "democracias", algumas delas de duvidosa transparência. A crise radicalizou tudo: se nos Estados Unidos, em caso de crise, o Governo federal desloca sem problemas os dólares dos contribuintes do Arizona para a Califórnia, na UE socorre-se os que estão em grave crise financeira, mas com juros altíssimos e penalizações que tornam os países sob intervenção verdadeiros protectorados. Era fácil ser "europeu" quando isso não custava nada a ninguém: agora como é que se diz a um alemão que vai "pagar" a crise dos gregos ou dos portugueses? Com homens cinzentos como os que actualmente dirigem a UE e muitos dos países do clube, pouco há a esperar. (…)

A telenovela das "sanções" (a que os nossos vizinhos espanhóis, confrontados com a mesma tentação persecutória de Bruxelas, ligam pouco ou nada) mostra como esta Europa navega à bolina. Com o Brexit, a crise bancária italiana pronta a rebentar, ou o fluxo migratório, as faces cinzentas do poder da UE estão é preocupadas com Portugal e Espanha. Como se tivessem de encontrar "culpados" para poderem expiar os seus disparates em quase todas as áreas. É triste esta Europa que caminha para a sua ruína moral. E para o seu fim como a conhecemos.»

Fernando Sobral