7.1.17

Deportação para S. Tomé - uma terrível data para Mário Soares




No dia em que Mário Soares morreu, e quando praticamente ninguém se cala em inúmeras declarações laudatórias, prefiro retomar um texto antigo que retrata um dia bem importante da sua atribulada vida – a deportação para S. Tomé – e a solidariedade que a mesma suscitou em todos os que então resistiam e lutavam contra o fascismo.

Mário Soares foi deportado para S. Tomé, pouco depois de ter estado preso e incomunicável, durante três meses, pretensamente por ter fornecido a um jornalista do Sunday Telegraph informações relativas a um escândalo sexual que envolveu suspeitas de actos pedófilos por parte de várias figuras públicas – o chamado caso dos «Ballet Rose». No fim de Fevereiro de 1968, conseguiu sair em liberdade na sequência de um pedido de habeas corpus.

O que se seguiu, aqui resumido por Maria João Avillez (Soares. Ditadura e Revolução, 1996, Círculo de Leitores, p. 197):


Detido pela PIDE nesse 19 de Março, foi-lhe comunicado que partiria para S. Tomé no dia seguinte, por volta das onze horas da noite. Rapidamente espalhada a notícia (sem internet, sem telemóveis...), centenas de pessoas, de todos os quadrantes da oposição, dirigiram-se para o velho aeroporto da Portela, na tentativa de chegarem a uma varanda de onde então se podia assistir a descolagens e aterragens de aviões. Em vão, porque a polícia correu tudo à bastonada. Recordo bem algumas cabeças partidas e correrias atabalhoadas por corredores e escadarias. Alguns escaparam: Maria Belo, por exemplo, porque era loira, foi tomada por estrangeira e saiu calmamente, sem pressas e sem que os bastões lhe tocassem. Eu não era loira, mas só um me tocou – e de raspão.

In illo tempore, havia um consenso sagrado: contra a PIDE, sempre, quaisquer que fossem as afinidades ou as divergências. E, se existiam algumas (poucas) excepções, não faziam mais do que confirmar a regra. 
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2 comments:

maria disse...

Mais uma vez, obrigada por esta memória, Joana.

Carlos Barros disse...

Boa tarde Joana,
Muitos não se lembram ou fazem por esquecer os tempos que passamos ainda bem que a Joana lembra o que aconteceu e as figuras que estavam nessa luta, que alguns tentam apagar, no caso Mário Soares figura ímpar no figurino político português,
Obrigado Joana