16.1.17

Maria Cabral



Conheci-a bem miúda, nos bancos da escola, quando ela era ainda a «Bebé» Cabral, e nem sei se sonhava já com cinema. A irmã era minha colega de turma e fui muitas vezes estudar com ela para casa da família Cabral, mesmo em frente do que é hoje a escola pública chique de Lisboa: o Filipa de Lencastre. E a Bebé circulava sempre por perto.

Nunca a perdi de vista, nesta Lisboa que era para alguns – só para alguns – pouco mais do que uma vila, e passei a encontrá-la regularmente pelos corredores da Faculdade de Letras, onde eu dava aulas, ainda antes do sucesso estrondoso de O Cerco.

Já era então casada com Vasco Pulido Valente, que ainda fazia as últimas cadeiras do curso de Filosofia. Não chegou a ser meu aluno, mas conhecia-o de O Tempo e o Modo e de círculo de amigos comuns. Foi por essa altura que, pelo menos duas vezes, acordei com telefonemas da Maria que me pediu encarecidamente: «Joana, fala com o Vasco, diz-lhe que ele é o maior, convence-o a não faltar à oral!». E eu lá o fazia, ainda ensonada, mas creio que com sucesso. Nada disto tem importância a não ser, talvez, para quem o conhece apenas através das suas crónicas viperinas, que transpiram sentimento de superioridade, desprezo pela humanidade em geral, sempre com uma segurança à prova de bala. Pois… nem tudo o que parece é – ou foi sempre.

Importante é que a Maria já cá não está. Mas deixa-nos os filmes e as imagens do seu talento e da sua beleza inesquecível. 
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