17.5.17

Comédia à portuguesa



«Numa das mais divertidas comédias de Blake Edwards surge um Peter Sellers hindu que entra, por erro, numa festa e acaba por a destruir em poucos minutos. (…)

Incapazes de serem discípulos de Sellers, os dirigentes do CDS, PPM e MPT decidiram criar uma comédia à portuguesa em forma de assinatura de uma coligação para Lisboa. A ideia em si seria óptima: Assunção Cristas precisa de agregar o que pode para ficar em segundo lugar nas eleições para a Câmara de Lisboa. Já que será improvável que remova Manuel Salgado (e Fernando Medina) da CML, Cristas sabe que a grande vitória será driblar Teresa Leal Coelho e ser a voz da oposição. Em Lisboa e, claro, no país.

Mas, depois de ter tentado ser audaz na arte da levitação com a proposta de 20 estações de metropolitano para Lisboa, Cristas decidiu que era altura de cair com estrondo no chão. (…) Vejamos: o discurso de Gonçalo da Câmara Pereira só define quem o leu. Portanto, não vale a pena perder-se tinta e tempo com um vácuo de ideias cheias de mofo que procura um qualquer lugar ao sol. Só Cristas tem de se preocupar: cada vez que Câmara Pereira falar, perde 100 votos; cada vez que ele tentar elaborar sobre o papel das mulheres, Cristas vê eclipsarem-se 1.000 votos. Mas o pior foi uma Cristas envergonhada, no meio daquela comédia rasca, ter decidido responder. Foi pior a emenda do que o soneto: "Tenho calçado botas e calças de ganga para estar nos bairros sociais." Há momentos em que alguém com ambições de poder tem de perceber que, num filme de duvidosa comédia, ou se tem humor ou se sai de cena.»

Fernando Sobral

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