19.7.17

Uma guerra entre tronos



«Nestes dias de início da nova temporada de "A Guerra dos Tronos", as palavras de Cersei Lannister são eternas: "Os deuses não têm piedade; é por isso que eles são deuses." No mundo da guerra e da política, estas palavras podem parecer cruéis e exageradas. Porque nele, apesar de tudo, há piedade. Coisa que não acontece no mundo dos sete reinos. Mas, se lermos a redacção do CEME, o general Rovisco Duarte, que parece querer encerrar de vez a balbúrdia de Tancos, fica-se com a ténue sensação de que não há aqui guerra nem paz, nem piedade nem autoridade. É um textinho escrito na água. O CEME fala em "conclusões" de diversas "averiguações" e, assim, volta a nomear os comandantes exonerados à pressa logo a seguir ao "assalto" a Tancos. Exonerações que levaram a demissões, recorde-se. Agora o CEME parece comprar um detergente eficaz para limpar qualquer nódoa incómoda. Nada que admire: o ministro que ainda não sabe que já não o é, Azeredo Lopes, e o CEME, que tenta sobreviver, são fortes candidatos a criar a aldeia da roupa branca do século.

O caso de Tancos foi demasiado grave para terminar assim. Com a transferência do paiol para outras unidades militares. Com o fim das exonerações. Com o risível valor do material desaparecido. Esta redacção do CEME não é um ponto final. Tancos não foi uma brincadeira de soldadinhos de chumbo ou um exercício de Rambos internacionalistas. É um poço com fundo. Porque só as almas amenas comem a farinha 33 de que apareceu ali um camião que levou de uns paióis distantes da rede cortada algum material militar. Esta narrativa não aguentaria para um filme de 007. Sabe-se que os problemas são outros. Espera-se que o DCIAP e a PJM vão até ao fim e que tudo não termine na terceira gaveta de uma qualquer secretária. Porque o rastilho é longo e incendiável. As Forças Armadas portuguesas não merecem prosas românticas como as de Rovisco Duarte. Pelo que têm feito, aqui e no estrangeiro, merecem mesmo um melhor CEME. E um melhor ministro.»

Fernando Sobral

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