15.11.17

Falemos de mulheres refugiadas



«" Os militares separaram as mulheres dos homens. Eles foram abatidos. As mulheres levadas para a selva. Quando fui à procura da minha irmã vi muitos corpos. Estava deitada no chão, não sabia se estava viva. Ajoelhei-me e vi que respirava. Sangrava muito. Levei-a até ao rio e lavei-a.Depois fugimos. Foi violada por soldados birmaneses e civis budistas".

Quando se fala com sobreviventes de violência sexual - a menina violada de que fala o testemunho acima tem 14 anos - um dos pedidos mais comuns e que partem o coração é o de roupa nova, não por vaidade, mas porque dias ou semanas depois ainda trazem vestido a mesma roupa que tinham quando foram violadas. Isto dá uma ideia da dimensão da tragédia. Outra é dada pelos Médicos Sem Fronteiras e pela HRW: mais de metade das vítimas de violação em tratamento nos campos têm menos de 18 anos, algumas são meninas com idade inferior a 10 anos.

Nem todas as vítimas procuram auxílio, nem ajuda médica devido ao estigma, à vergonha e ao medo de serem culpadas pelo que lhes aconteceu.

Nos campos, como aqui no campo 12, têm sido criados espaços para mulheres para as apoiar para lidar com o trauma. A senhora na fotografia é uma das mulheres responsáveis por este projecto.»

Um dos muitos relatos, que Helena Ferro de Gouveia nos envia do Bangladesh e publica no Facebook.
(Especialista em Trauma de Guerra, Combate ao discurso de ódio e Conflict Sensitive Journalism)
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