25.2.17

Depois da Nova Zelândia, a caminho da Tasmânia



Sem terra à vista durante dois dias, a caminho da Tasmânia, aproveito para um curto balanço desta primeira parte da viagem.

Saio da Nova Zelândia com a confirmação de que é um país lindíssimo em termos paisagísticos, com algumas cidades agradáveis e muito bem cuidadas, e muito diferente de qualquer outro em que tenha estado, não só mas também em estilo de vida. Antes de mais, registe-se que tudo o que disser corresponde a puras apreciações de turista, com todas as reservas que a condição impõe.

Pareceu-me uma parte do mundo calmíssima, onde é fácil viver, mas cheia de regras – um pouco como acontece com os nórdicos europeus. Comparativamente com alguns inconvenientes (quase tudo é longe…), mas com muitas vantagens para quem não está «espartilhado» numa Europa na fase em que esta se encontra.

A Nova Zelândia é uma monarquia constitucional, existe por cá uma governadora, sem poder, que representa a rainha inglesa, e um sistema parlamentar muito pacífico e que parece satisfazer os cidadãos. Aliás, confesso que o que mais me impressionou foi o «espírito positivo» que parece imperar nesta terra, que até os imigrantes com quem falei (brasileiros, espanhóis, latino-americanos) partilham: afirmam que tudo corre bem, tudo funciona, tudo é mais ou menos fácil – o oposto do sentido crítico sistemático que nos caracteriza por aí. Mas quando a esmola é grande o pobre desconfia e vou com umas tantas perplexidades, admitindo no entanto que o problema seja meu.

Mas a verdade é que há pouca corrupção (segundo país com valor mais baixo, logo a seguir à Dinamarca), que pequenos crimes são notícia a nível nacional pela raridade, que as diferenças salariais são reduzidas (o que leva muitos jovens a não se darem ao trabalho de seguir cursos universitários por não valer a pena), que os sistemas de saúde e de educação parecerem mais ou menos satisfatórios.Tudo isto com impostos relativamente baixos.

A imigração é muito controlada num sistema complexo onde se vão acumulando pontos, primeiro para obtenção de licença de trabalho, depois para autorização de residência. Tudo é tido em conta desde a idade, localidade onde se pretende ficar (é mais fácil na Ilha do Sul por ser menos povoada), habilitações, nível do inglês e, também e sobretudo, relação entre características de quem quer ficar e necessidade de mão-de-obra no país em determinadas áreas específicas. Mas não sei se tudo isto não tenderá a modificar-se com a verdadeira «invasão» de chineses e de indianos ricos, que vêm para cá estudar sendo o verdadeiro sustentáculo do ensino superior privado. Muitos acabam por ficar e por se estabelecer por conta própria, o que irá provocar, inevitavelmente, alterações significativas.

Dizem-me que os neozelandeses se contentam com uma vida pacata, com horários rígidos entre casa e trabalho, e um pouco de golfe como actividade desportiva popular e barata. Não sei se pacatez rima com algum tédio, mas não me admirava que sim. Pelo menos fora de Wellington e de mais uma ou outra cidade.

Valeu a pena vir até o mais longe possível de casa para visitar mais este canto do mundo? Sim, sem dúvida alguma. 
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24.2.17

Fiordes imponentes neste fim do mundo



Hoje foi dia para ver três de um conjunto de quinze fiordes que compõem o Parque Nacional de Fiordland. O mais célebre é o Milford Sound, considerado o principal ponto turístico natural da Nova Zelândia. Protegidos pelos deuses, tivemos Sol no segundo ponto mais pluvioso do mundo!

Ficam algumas fotografias, bem longe de darem uma noção da grandeza do que está em causa. Mas é o que tenho…

(Clicando no nome de cada um dos três fiordes, acede-se a informação detalhada sobre o mesmo na Wikipedia.)

Milford Sound






Doubtful Sound






Dusky Sound



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23.2.17

Pinguins e não só



O sexto dia em terras da Nova Zelândia foi passado em Dunedin e na Península de Otago, ainda na costa oriental da Ilha do Sul. A região já teve melhores dias, sobretudo quando por aqui foi descoberto ouro em 1861, fonte de atracção para ricos mas também para emigrantes pobres, sobretudo chineses de mão-de-obra barata. Recentemente, até a celebérrima fábrica de chocolates Cadbury fechou portas, vendida a australianos e deslocalizada para o país vizinho.

Mas como bons neozelandeses, estas gentes deram a volta por cima e exportam o que podem, nomeadamente toneladas e toneladas de madeira, como as que fotografei agora mesmo da janela do meu camarote, carne congelada (de veado, por exemplo) e muitos outros produtos. Tiram também partido do facto de se encontrar aqui a primeira e muito importante universidade do país – a Universidade de Otago – que atrai uma multidão de estudantes e transforma Dunedin num centro de população especialmente jovem. Em 2014, a UNESCO atribuiu-lhe a designação de Cidade Criativa de Literatura.

Em termos arquitectónicos, de realçar a existência de muitos edifícios de estilo vitoriano e uma bela estação de caminhos-de-ferro, em cuja construção esteve envolvido o gabinete de Eiffel.

Mas a nossa vinda a Dunedin tinha como uma das principais atracções visitar pinguins de olho amarelo e albatrozes. Quanto aos segundos, «passo»: nenhuns se dignaram sobrevoar o local em que era suposto serem vistos e não estive para trepar um monte para contemplar uma espécie de ninhos de jovens em desenvolvimento.

Mas, sim, vi pinguins de olho amarelo – uma raridade, já que me dizem que só existem 2.000 no mundo, dos quais a maior parte em ilhas ainda mais a Sul deste país. Na reserva que visitei, há uns tantos num hospital e outros, poucos, fora dele. Já existiram muitíssimos, mas foram decrescendo em número desde a chegada dos europeus. Porquê? Porque estes trouxeram outros animais, sobretudo coelhos, que provocaram pestes que dizimaram pinguins. Nestas reservas, procura-se proteger os que restam, tenta-se que se reproduzam e colocam-se armadilhas para predadores. Enfim, nada de especialmente apaixonante para mim, confesso…

De resto, a paisagem continua de cortar a respiração, com montes, verdura e água por todos os lados.

Amanhã é dia para ver fiordes por onde o meu barco irá entrando e saindo. Depois… dois dias de navegação rumo à Tasmânia.








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22.2.17

Quando a paisagem esgota os tons de verde



Estou já na Ilha Sul da Nova Zelândia e hoje o nosso enorme barquito ficou ao largo, muito bem enquadrado, e nós rumámos em lanchas até Akaroa, uma pequena e simpatiquíssima localidade que tem só 600 habitantes (na sua maioria reformados), a que se juntam mais 10.000 durante o Verão.

De lá seguimos para Christchurch, por uma estrada de uma beleza de cortar a respiração, onde os tons de verde se esgotam (nem dá para ter imaginado que existem tantos…), muitas vezes reflectidos em vários lagos e baías lindíssimos.

Christchurch é a segunda cidade da Nova Zelândia em termos de população, só ultrapassada por Auckland: tem cerca de 440.000 habitantes, um pouco mais do que a capital Wellington, e foi a principal vítima de um terrível terramoto que teve lugar precisamente há seis anos, em 22 de Fevereiro de 2011. Este arrasou-a, quase todos os edifícios com alguma altura ruíram ou foram tão afectados que foi necessário deitar abaixo o que restava ou reforçar o que era possível salvar. Todo o centro urbano é ainda um enorme estaleiro, mas é notável o que já foi feito ou refeito em meia dúzia de anos. Morreram 185 pessoas e existe em plena cidade uma espécie de memorial com o mesmo número de cadeiras, pintadas de branco, que foi hoje palco de comemoração de um fatídico sexto aniversário.

Um belo passeio de barco num rio, com belos patos de todos os tamanhos e feitios por perto e o regresso em lancha no fim de mais uma etapa.

Amanhã há mais: será o tal dia para ver pinguins de olho amarelo. E não só.






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21.2.17

Wellington, o Sul da Ilha do Norte



Wellington substituiu Auckland, como capital da Nova Zelândia, em 1865. Esta capital mais ao Sul do mundo tem apenas cerca de 400 mil habitantes, mas é uma belíssima cidade onde não me importava mesmo nada de viver! À beira de um importante porto, estende-se por colinas, que enquadram um centro financeiro e comercial qualitativamente muito agradável, calmo e bem organizado, onde dá gosto «deambular».

Importante pólo cultural também, com especial destaque para o Museu Te Papa, onde passei hoje algumas horas. Em termos arquitectónicos a variedade é grande, impondo-se uma passagem pelo local onde se situa o novo Parlamento (último edifício, nas imagens mais abaixo).

Vegetação? Luxuriante nas colinas, imponente em grandes árvores espalhadas por tudo quanto é sítio, mesmo no centro da cidade.

Enfim, muito mais haveria para contar, mas o dia foi longo. Arrisco apenas dizer, como nos guias Michelin: Wellington «vaut le déplacement» – mesmo que, no caso vertente, este seja muito, muito grande...







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20.2.17

E ao quarto dia… «Art Déco»



Uma grande parte do dia de hoje foi passada nas simpáticas cidades de Napier e na vizinha Hastings.

Totalmente destruídas em dois minutos e meio por um terramoto, em 3 de Fevereiro de 1931 (só sobreviveram seis edifícios em Napier), foram rapidamente reconstruídas em estilo Art Déco, o que as torna únicas no género.

Napier, que foi declarada Património da Humanidade pela UNESCO em 2007, fica situada na grande Baía de Hawke, de onde o barco em que viajo está agora a sair e que funciona como importante porto de exportação de bens para o mundo inteiro: sobretudo muita madeira, fruta, carne e leite e seus derivados.

Tem um centro muito agradável e cuidadíssimo – aparentemente, como tudo neste país! Nos campos, fruta, muita fruta, sobretudo quilómetros de macieiras e de vinhas.

Quanto ao resto, o civismo é, de facto, quem mais ordena por estas bandas. Um exemplo? À porta de certas quintas, os donos deixam fruta no exterior, que quem passa pode comprar deixando o dinheiro numa caixa. Roubos? Poucos, muito raros.

Amanhã há mais: Wellington, a capital, espera por mim. 












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19.2.17

Carneiros e mais carneiros

Mar alto, rodeada por golfinhos



Foi longa a jornada para vir de Lisboa a Auckland, mas os efeitos já passaram, jet lag incluído. Depois de umas horas naquela que é a segunda cidade da Nova Zelândia, e da qual não guardo grande entusiasmo, esperava-me um enorme barco, com uma série de rituais para embarque, por motivos de segurança e não só.

Primeira noite muito curta, Tauranga esperava-nos bem cedo para uma longa visita a Rotorua, onde vive a maior população Maori do país. Perseguidos por colonizadores vários durante séculos, os Maoris são hoje especialmente acarinhados pelo governo, dispondo de uma série de privilégios e incentivos, que outros não têm. Pensa-se actualmente que os primeiros exploradores, vindos provavelmente da Polinésia, terão chegado há 700-1200 anos. No Triângulo da Polinésia, os povos têm línguas, culturas e crenças similares e há um sem número de histórias sobre viagens e trocas comerciais dos Maoris nesta área.



Que vi em Rotorua? Carneiros, sem dúvida, de todos os tamanhos e feitios. Mas, sobretudo, os géiseres de Te Puia, uns planos e outros verticais, absolutamente extraordinários! (Quem passar por lá fica dispensado de se deslocar à Islândia para ver «miniaturas»…)





Kiwis? Sem dúvida. Se conhecemos sobretudo o fruto, há também o pássaro e as pessoas: o termo é usado, mais ou menos pejorativamente, para classificar certos tipos de neozelandeses, sobretudo emigrantes.

Algumas belas casa, grande e magníficas árvores!




Impressões gerais? Ainda é cedo. Tenho algumas, mas com muitas interrogações. Parece-me que os neozelandeses, e estrangeiros emigrantes, que já ouvi, se consideram «bons e puros», num país onde tudo corre mais ou menos na perfeição e «um outro mundo é possível». Uma espécie de Dinamarca do Sul. Será? Como joga isto com uma alta taxa de suicídios na adolescência em certas cidades? Vida fácil mas chata? Voltarei ao tema, certamente.