12.8.17

Dia do Elefante



Hoje é o Dia do Elefante. No Sri Lanka é sempre. Ou não se veria este belo animal doméstico, à entrada de um templo mesmo no centro da capital do país. 
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Dica (607)



Independentes de modo vário (José Manuel Pureza) 

«A linha de diferenciação na democracia local não é entre partidos e independentes, é entre quem alarga a democracia e quem perpetua a deformação da prática da democracia tomando-a como jogo de elites e de iluminados.» 
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Negócio escondido com o rabo de fora



Daniel Oliveira no Expresso de 12.08.2017:


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12.08.1963 – «Havemos de chorar os mortos se os vivos os não merecerem»



Foi em 12 de Agosto de 1963, duas semanas depois de o Conselho de Segurança ter condenado a política colonial portuguesa, que Salazar fez um importante discurso – «Vamos a ver se nos entendemos» – , na RTP e na Emissora Nacional.

Mas seria esta frase, rebuscada bem no seu estilo, que ficaria na lista das citações históricas do ditador: «Havemos de chorar os mortos se os vivos os não merecerem».



«Sem hesitações, sem queixumes, naturalmente como quem vive a vida, os homens marcham para climas inóspitos e terras distantes a cumprir o seu dever. Dever que lhes é ditado pelo coração e pelo fim da Fé e do Patriotismo que os ilumina. Diante desta missão, eu entendo mesmo que não se devem chorar os mortos. Melhor: havemos de chorar os mortos se os vivos os não merecerem

aqui e aqui mais duas partes do discurso.

Tudo isto APENAS há 54 anos. Há muito sangue que ainda nos corre nas veias. 
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11.8.17

Outros mundos



Não sei se há taxas e taxinhas, mas a água chega às casas dos habitantes. Algures nos Himalaias indianos, perto da fronteira do Butão. 
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Tesouros das autárquicas


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Dica (606)



Mass tourism is at a tipping point – but we’re all part of the problem (Martin Kettle) 

«Unless we rethink our holiday choices, the damage and destruction to global beauty spots can only grow.»
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Donald e Kim



«Enquanto estamos todos, ou quase todos, na praia a gozar o Agosto, os EUA e a Coreia do Norte andam a brincar à WWIII. Ninguém faz uma guerra nuclear em Agosto. É estúpido. As grandes capitais estão vazias, é desperdiçar munições.

Sei que o caro leitor está mais preocupado com o raio do vento e com a água fria do que com a situação mundial. Não quero incomodá-lo. Aliás, provavelmente, uma guerra mundial duraria menos do que as suas férias, por isso é bem provável que já esteja acabada quando voltar de Albufeira.

Sem lhe querer estragar o dia, não sei se sabe, mas o Trump ameaçou a Coreia do Norte com: "Fúria e fogo nunca vistos." Sinto que o leitor encolhe os ombros, tira a areia da toalha e diz: "Vê-se que não conhece o SIRESP."

Não o comovo, não é? E se lhe disser que, depois de Trump ter ameaçado responder à Coreia do Norte com "fúria e fogo", Pyongyang avisou que está a estudar um plano para atacar com mísseis o território norte-americano de Guam, no Pacífico. Pois, não lhe diz nada. Está na República Dominicana? Compreendo, Guam não tem descontos para famílias.

No fundo, o leitor comporta-se como o Trump que, depois de uma escalada verbal e ameaças, resolve, no dia seguinte, ir jogar golfe logo pela manhã. Confesso que me assusta o facto de Trump ter ido jogar golfe. Se ele acabar a noite num "golden shower", pode ser sinal de que está a aproveitar tudo porque sabe que o mundo acaba amanhã.

É curioso. O tarado do Kim é Presidente porque aquilo é uma ditadura, e não há eleições, mas o maluco do Trump é Presidente porque, na "maior democracia do mundo", votaram nele. Aposto que se os norte-coreanos pudessem votar, evitariam um e outro.

Uma chatice, esta cena dos mísseis, porque tenho a sensação de que o Trump e o Kim podiam ser grandes amigos. Têm tudo a ver. No estilo, na conversa, são daqueles que, se tivessem sido amigos em pequenos, teriam afogado gatos e rebentado sapos com cigarros.

A verdade é que ninguém quis resolver isto e acabou por sobrar para o Trump. Ao longo dos últimos anos, sempre foram feitas piadas sobre a capacidade bélica da Coreia do Norte. De tal maneira que, ainda hoje em dia tenho a sensação de que os mísseis norte-coreanos são daqueles que a meio desistem com dores de burro. Aquilo é malta norte-coreana a pedalar.

Acho que se podia resolver o problema da Coreia do Norte com um combate de "wrestling" entre o Trump e o Kim. O Trump é um homem do "showbiz" sabe que seria um espectáculo mais visto do que os Jogos Olímpicos. E aposto que o gordo da Coreia aceitava, porque ele é do género de fazer "bullying" e pensa que é o maior.

No fundo, acho que andam a complicar isto. Se o Trump pusesse o Kim a apresentar um "talk show" (por exemplo, o "Shark Tank", em que os que perdem são atirados aos tubarões) ou lhe oferecesse dois casinos, ou ambos, ele fugia pela calada da noite da Coreia do Norte. Aquilo é uma seca, mesmo para quem é ditador.»

João Quadros

10.8.17

Grandes verdades



«Parece que o mundo se divide entre pessoas boas e pessoas más. As boas dormem melhor, as más gozam muito mais durante as horas em que estão acordadas.»

Woody Allen 
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Não é montagem, é genuíno


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10.08.1912 - Jorge Amado



Faria hoje 105 anos e continuam, com toda a justiça, referências à sua vida, a muitos dos livros, às suas estadias em Portugal.

Recordo o «acessório»: o que foi, entre nós, o retumbante sucesso de Gabriela, cravo e canela, a primeira de todas as telenovelas emitidas pela RTP, entre Maio e Novembro de 1977, com base na obra de JA com o mesmo nome. Companhia da hora do jantar, cinco dias por semana, em casa ou em cafés (eram muitas as famílias que ainda não tinham aparelhos próprios), era assunto generalizado de conversa, trouxe para a língua portuguesa termos e expressões brasileiras e transformou Sónia Braga num ídolo (quantas Sónias não têm hoje trinta e poucos anos?!...). 

A «Gabrielomania» fez parar literalmente o país: a Assembleia da República interrompeu os trabalhos pelo menos quanto foi emitido o último episódio (era vital saber se Gabriela ficava ou não com Nacib...) e conta a lenda que Álvaro Cunhal chegou atrasado a um programa televisivo por ter ficado a ver a telenovela.

No dia seguinte à última emissão, o Diário de Lisboa discutiu o corte de trinta episódios, de que a telenovela terá sido objecto em Portugal.

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Aterrar em Lisboa




Daqui.
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Penúria televisiva em maioria absoluta



«Porque é que veio à praia?” pergunta a jornalista – entusiasmada com tão excitante pergunta, que se lhe assaltou brilhantemente – a um banhista a atoalhar-se depois de um banho no oceano. “Acha que está calor?” questiona o jornalista pressuroso diante de duas veraneantes a apanhar banhos de sol prenhes de ultravioletas. “Está calor, sim”. E, de seguida, remata “e usa protector solar?“ ao que uma delas responde com o grau do dito, adequado para a hora da canícula em pleno Agosto, só faltando mencionar a marca respectiva. “A água está melhor do que no ano passado?” interpela a jovem estagiária com inusitada veemência, recebendo uma resposta algures entre a certeira banalidade e a banal certeza. “Costuma vir todos os anos para esta praia?” é mais uma pergunta-relatório que me faz, por momentos, cortar a respiração, de tão interessante que antevejo a resposta da família Bartolomeu. “As crianças gostam de estar na praia?” é a demanda que ouço a seguir, com a resposta repartida entre a mãe orgulhosa e o pai frenético e acompanhada de sonoras gargalhadas: “adoram!”. “Gosta de ler na praia?” a modos que querendo-se subir o nível da pergunta ao sujeito que folheava o “best-seller” acabadinho de comprar no supermercado. Entretanto, olho para o oráculo, que é como quem diz para uma de várias faixas encavalitadas na parte de baixo do ecrã, e qual é o meu espanto quando leio “a solução para o calor é um mergulho!” Por momentos, fiquei aturdido com tão sábia descoberta. No fim, fica-me a amargura de o país televisivo só ter praia…

Não, não estou a efabular. É mesmo isto que, mais palavra, menos palavra, pude ver e ouvir em alguns canais televisivos. Assim se vão fazendo os “chouriços noticiosos” de hora e meia, entressachados hora sim, hora quase sim, nos canais informativos. É um fartote, convenhamos.
Se a isto juntarmos, um alinhamento de notícias errático e indigente onde se manipula o interessamento do telespectador (aqui até me apetece escrever sem o c, conforme o AO), o futebol ad nauseam de cá e de lá, entre o que há-de ser e o que já foi, com a suprema dádiva de longas peças sobre o futebol espanhol, sem que os ingratos “hermanos” nos retribuam com um segundinho sequer do de cá, a namorada e os filhos de Cristiano Ronaldo, as imagens mil vezes repetidas de fogos para que os pirómanos se excitem quanto baste, a actualidade repetida já sem ser actualidade, e até a publicidade encapotada a telenovelas a estrear e outras coisas do género como se fossem notícias, há de tudo. Um bom filme? Um bom documentário? Sim, mas a horas não recomendáveis, alta noite ou de madrugada…

Assim se vai consolidando a estupidificação da bitola das audiências, neste triângulo de programação – salsichas noticiosas, futebol a rodos e telenovelas a todas as horas – a que se junta aos fins-de-semana o delírio da música pimba e cachopas anafadas pelo Portugal de lés-a-lés. Tudo polvilhado com o uso de um português maltratado.

O problema é que, pouco a pouco, os canais (ditos informativos) vão convergindo nesta massa informe, nivelada pelo “benchmarking” dos piores. Com a pobreza confrangedora de, à mesma hora e em todos os canais, vermos uma conferência de imprensa completamente banal de um jogador ou treinador ou mais uma discursata de um político em viagem de circum-transumância eleitoral.

Ressalvo aqui os canais da televisão pública, que, apesar desta voragem pela qual se deve obedecer acriticamente às audiências, têm vindo a melhorar. Nota-se isso na RTP 1 e 3, mas aqui destaco, sobretudo, a excelente programação da RTP 2, o único canal onde se podem ver – a horas decentes – programas de nível e de entretenimento com qualidade.»

António Bagão Félix

9.8.17

Sinais de trânsito «fora da caixa»



Quando os rios do Sri Lanka levam muita água, há que abrandar porque pode haver um simpático crocodilo a atravessar a estrada… 
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Dica (605)

Petit à petit, l’oiseau fait son nid




«L’oiseau» Marcelo, obviamente…

«A alteração agora em questão, e que tinha aprovada a 7 de Julho, dizia que "o município de Lisboa não pode a qualquer título proceder à alienação do capital social da Carris, ou das sociedades por esta totalmente participadas, nem concessionar total ou parcialmente a respectiva rede, sob pena de nulidade dos actos praticados". A reapreciação do diploma, para a introdução de alterações, tinha sido pedida pelo PCP, tendo as mudanças sido aprovadas com os votos do PS. PCP, Bloco e PAN. Tanto o PSD como o CDS votaram contra.» 
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09.08.1945 - Nagasaki



Três dias depois de Hiroshima, os EUA lançaram, em Nagasaki, uma bomba que matou 80.000 pessoas. Em 15 de Agosto de 1945, o Japão rendeu-se – no chamado Dia V-J que esteve na origem ao fim da Segunda Guerra Mundial.

Setenta e dois anos depois do que já então parecia impensável, esperávamos nunca mais assistir a actos e afirmações de dois loucos, um que governa os Estados Unidos e outro a Coreia do Norte. Mas eles aí estão.



Hoje, Parque da Paz de Nagasaki:



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8.8.17

Proibições diferenciadas



… numa igreja, algures na Geórgia.
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Dica (604)

Trump canta «Despacito»



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Dustin Hoffman, octagenário

Dustin Hoffman nasceu em 8 de Agosto de 1937. Faz hoje portanto 80 anos. Parece impossível, mas o calendário não perdoa.

Protagonizou dezenas de filmes, mas eu fixei sobretudo os da sua primeira fase. E se The Graduate (1967) não foi o seu primeiro filme, foi certamente aquele em que alcançou fama e que o lançou no mundo do cinema. Com ele, e com Rain Man, ganhou dois Óscares.

Mas não consigo separá-lo de um outro – Kramer vs. Kramer – que vi e revi nem sei quantas vezes.





A capa de um LP que ainda anda cá por casa:

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Neymar, o negócio e o futebol



«Os meandros do futebol constituem um labirinto de interesses infinito, e salta à vista de todos a quantidade de gente que beneficia com o negócio. Os agentes, as marcas patrocinadoras, os dirigentes dos clubes, o comércio de franchising, os jornais, rádios e televisões, os Estados e as economias locais e nacionais onde ocorrem os grandes eventos (e onde estão sediados os clubes de maior prestígio), etc., etc. É, sem dúvida, um fenómeno social complexo, que assenta em fatores psicológicos e socioculturais (além dos económicos), e é por isso que desperta tantas paixões, mesmo entre muitos daqueles que têm plena noção dos seus efeitos mais perniciosos na sociedade. Sendo o futebol, na atualidade, não só um desporto mas uma indústria global, é inevitável o seu impacto socioeconómico. A ligação do “mercado futebol”, quer a oligopólios, marcas e grupos empresariais, quer aos próprios Estados que o usam estrategicamente, é reveladora da sua força simbólica e poder financeiro.

A transferência de Neymar do Barcelona para o Paris Saint-Germain (PSG) e os valores escandalosos da operação (222 milhões de euros), que ocupou as prime-news das televisões e jornais do mundo inteiro, dizem bem da importância económica — e política — do futebol. No caso, um pequeno Estado — o Qatar — está no centro da jogada. (…)

Se nos lembrarmos que o Qatar será sede do Mundial de futebol de 2022 e, por outro lado, que o presidente do PSG é o catari Nasser Ghanim Al-Khelaifi (muito próximo do Emir do Qatar, Tamim Al Thani), ex-presidente de uma cadeia televisiva com o exclusivo dos grandes jogos (beIN), e que a Autoridade de Investimento do Qatar (QIA) é a dona do PSG (um fundo soberano, que pertence ao governo do Qatar), fica claro que a promiscuidade entre os negócios do futebol assume neste caso um estatuto de política de Estado.

De um lado, há o interesse em usar o nome de um dos mais famosos jogadores do mundo para promover a jogada de charme que será, a nível internacional e do ponto de vista do país, o Mundial do Qatar (sobretudo se correr bem) e, por outro lado, temos um Presidente francês recém-eleito (ainda mais jovem que o presidente do PSG), desejoso de afirmar o seu estilo moderno e desempoeirado, mas sobretudo a confirmar a sua conhecida intimidade com o mundo financeiro. E aí, é claro que o sistema fiscal francês agradece os impostos aplicados aos milhões dos salários e transferências de jogadores de futebol em que Neymar é apenas o exemplo. (…)

Estamos todos enleados nas mesmas engrenagens socioculturais. O valor agregado que faz aumentar exponencialmente os lucros das sociedades gestoras de fundos, os salários de presidentes e empresários de jogadores, os montantes das transferências e os ordenados pornográficos dos grandes ídolos não vem unicamente da especulação financeira e da corrupção. Emana da sociedade de consumo em que vivemos. E, portanto, dos nossos hábitos. Ou seja, eles são ídolos não apenas devido à capacidade técnica, aos golos e à intensidade e beleza das jogadas, mas porque há milhões de aficionados que pagam bilhetes, quotizações, compram jornais desportivos, assinam canais de TV, etc., que alimentam o mercado e a máquina mediática promotora da idolatria.

No final de uma semana de trabalho, assistir a um jogo decisivo é um lenitivo insubstituível. Uma “alienação consciente” e libertadora. Todos os centros urbanos do mundo estão povoados de bares e ecrãs plasma, por isso mesmo. Os portugueses adoram futebol e vibram intensamente com os grandes jogos — embora, devido ao excesso de clubismo, percam mais tempo em discussões inúteis do que a apreciar o jogo, ao contrário, por exemplo, da Inglaterra, país berço do futebol. Nada justifica (a não ser o mercado das audiências) as horas infinitas semanais dedicadas a “discutir” futebol nos principais canais televisivos em Portugal.

Mas, mesmo admitindo que, por absurdo, um dia a exaustão propagandística atingisse o seu ápice, alguém acredita que seria possível uma “greve geral” ao futebol? E alguém se pergunta como seria a vida de um povo deprimido se não existisse um entretenimento tão poderoso como este? Quanto vale o “orgasmo coletivo” do golo decisivo do nosso clube de coração? Em que outras atividades existem tantos profissionais de origem popular que atingiram o topo? Haverá uma atividade mais democrática (ou meritocrática) do que o futebol? Algum português poderia ficar indiferente à gloriosa vitória da nossa seleção no Euro 2016? (…)

O futebol é emoção e arte em movimento. Por isso produz e reproduz formas identitárias dotadas de um poder simbólico e político tão impressionante. Por isso os milhões $$$ são alimentados por milhões.»

Elísio Estanque
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7.8.17

Dica (603)



"Tudo o que remeta para a questão da raça é tabu em Portugal" (Entrevista a Pedro Schacht Pereira por Fernanda Câncio)
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Maravilhas do Photoshop!





Ver mais AQUI.
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07.08.1975 – É conhecido o «Documento dos Nove»



O «Documento dos Nove» (também conhecido como Documento Melo Antunes) é imediatamente associado a 1975 mas há muito quem o relacione com o 25 de Novembro e julgue portanto que foi publicado perto dessa data. Não é o caso: foi divulgado, no Jornal Novo, em 7 de Agosto de 1975.

«Os Nove» eram Melo Antunes, Vasco Lourenço, Sousa e Castro, Vítor Alves, Pezarat Correia, Franco Charais, Canto e Castro, Costa Neves e Vítor Crespo, mas o manifesto foi ainda assinado por Ramalho Eanes, Garcia dos Santos, Costa Brás, Salgueiro Maia, Rocha Vieira, Fisher Lopes Pires e outros membros das Forças Armadas.

Em pleno Verão de 1975, na véspera da tomada de posse do célebre V Governo Provisório (o último a ser presidido por Vasco Gonçalves), os signatários quiseram posicionar-se em contraponto às teses políticas do documento «Aliança Povo/MFA. Para a construção da sociedade socialista em Portugal», apresentado um mês antes (em 8 de Julho) e passaram a representar publicamente a facção moderada do MFA, recusando «tanto o modelo socialista da Europa de Leste como o modelo social-democrata da Europa Ocidental, defendendo um projecto socialista alternativo baseado numa democracia política, pluralista, nas liberdades, direitos e garantias fundamentais».

Vale e pena ler ou reler este Documento dos Nove, sabendo o que sabemos hoje e estando onde estamos. É um exercício que aconselho a quem se interessa por esse ano crucial e absolutamente decisivo da nossa História relativamente recente, por aquilo em que ele a condicionou e condiciona ainda. Discuti-lo deste ponto de vista daria pano para mangas, mas nem tento. Mas não resisto a transcrever um parágrafo que resume, de certo modo, aquilo que «Os Nove» defendiam e prometiam:

«Lutam por um projecto político de esquerda, onde a construção duma sociedade socialista – isto é, uma sociedade sem classes, onde tenha sido posto fim à exploração do homem pelo homem – se realize aos ritmos adequados à realidade social concreta portuguesa, por forma a que a transição se realize gradualmente, sem convulsões e pacificamente.» 
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Para gente crescida

Neymar, o poder do dinheiro e os impostos



«Sobre a ida de Neymar para o PSG as opiniões dividem-se tanto como o dinheiro que o clube francês deu, num cheque, ao Barcelona: 222 milhões de euros.

O futebol chegou a um novo mundo. Resta saber como este será. No El País, Ramon Besa escreve: "Não há um jogador de futebol mais desconcertante no mundo do que Neymar. O brasileiro é um jogador fabuloso que se distingue por irritar os adversários com a sua língua e seu drible, e por enfurecer os seus companheiros por perder os primeiros minutos de cada jogo trocando ou a ajustar as chuteiras, seja em Camp Nou ou em Miami.(…) O brasileiro quer ser na Europa o camisa 10 que é no Brasil. Por isso, teria decidido de forma legítima sair da zona de conforto e brigar com Messi e com Cristiano Ronaldo pela Bola de Ouro jogando no time com sede em Paris. (…) Até hoje não se sabe com certeza quanto Neymar custou ao Barça quando este ganhou a disputa pelo brasileiro com o Real Madrid. Também não será fácil saber quanto custará a operação que pode levá-lo ao PSG."

Feliz está o ministro francês das Finanças, que já vê milhões de impostos e IVA defronte dos olhos. Disse Gérald Darmanin: "Se Neymar vier mesmo para um clube francês, o ministro das Finanças fica feliz pelos impostos que ele pagará em França. Vale mais que esse jogador de futebol pague os seus impostos em França do que não pague em parte alguma." Fala-se de algumas centenas de milhões de euros de impostos para os cofres franceses. No Sport, de Barcelona, Lluís Mascaró massacra Neymar: "Este é o melhor exemplo do que significa o desporto profissional hoje em dia: o dinheiro acima de tudo. Exactamente o que pensou Neymar e o seu pai-representante. Aceitaram a oferta do PSG porque representa muitíssimo mais dinheiro para ambos. Estamos num mundo de mercenários em que os sentimentos e os valores representam bem pouco. Ou nada." No fim, sobra uma bola e um campo relvado.»

6.8.17

Eu ainda sou do tempo em que a França era um país respeitável

Dica (602)



Do sorriso de Fehér (Ana Sousa Dias) 

«Podermos ver em tempo real algo que está a acontecer é um feito extraordinário que a tecnologia nos dá. Mas um direto de informação não é uma câmara de vigilância à espera de que alguma coisa aconteça.» 
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Tu n’as rien vu à Hiroshima



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A nova guerra das estrelas da Europa



«Em 1977, passam agora quatro décadas, duas descargas eléctricas devolveram alguma energia à cultura urbana ocidental e delimitaram o novo mundo económico, social e económico em que ainda vivemos.

George Lucas estreava o primeiro filme da saga "Star Wars". Os Sex Pistols lançavam o seu primeiro álbum. Aparentemente nada de comum havia entre os dois factos. Mas, cada um à sua maneira, mostravam que as águas calmas em que navegava a cultura precisavam de uma tempestade que agitasse as ideias. (…) Tantos anos depois percebemos que a visão do mundo de George Lucas triunfou: a tecnologia tornou-se o guia espiritual da nossa sociedade de consumo. O ruído dos Sex Pistols ou foi absorvido pela sociedade ou atirado para as suas margens. A sociedade deslocou-se para o mundo virtual, como até hoje é visível na distribuição musical. O ruído é como a dor: as sociedades só gostam de o ver do outro lado da fronteira. Basta olharmos para a crise da emigração ou para os que ficaram excluídos da sociedade digital para percebermos isso.

Estamos novamente num limiar de mudança. A destruição da classe média, pilar da democracia e do Estado social, coloca desafios crescentes. Por outro lado voltámos à lógica de tribo. A eleição de Donald Trump nos EUA é um sintoma disso. Um mundo multipolar coloca-se defronte dos nossos olhos e as recentes sanções à Rússia, aliadas às rotas económicas da seda da China mostram que novas alianças se estão a forjar. E isso implica a destruição da célebre parceria EUA/Europa, que foi o pilar das sociedades mundiais no último século. As sanções económicas dos EUA à Rússia colocam um dilema à Europa, porque elas atacam a estratégia energética do Velho Continente: que é mais importante, uma aliança com os cada vez mais proteccioistas EUA, ou uma abertura à China, à Rússia e a outros? É um dilema estratégico que vai definir os próximos tempos, agora que estamos no limiar de uma nova revolução energética (aliada aos problemas ambientais que só alguns americanos não vêem).

A decisão dos EUA de aplicar mais sanções à Rússia vai obrigar a Europa a aproximar-se desta e da China. Ao colocar sob pressão as fontes de energia europeias (porque prevê sanções a empresas europeias ligadas à construção de pipelines para trazer energia da Rússia para a Europa), os EUA dão um tiro no pé. E nesse aspecto os EUA também ferem a Turquia, velho aliado. O tempo de "Star Wars" e dos Sex Pistols teve o seu auge com os reinados de Reagan e Thatcher e estabeleceu a nova paz da economia de mercado no mundo. Mas agora são os outros (China, Rússia) que defendem o comércio livre. Não deixa de ser um paradoxo.»

06.08.1945 – Hiroshima: os relógios pararam às 8:15



É um ritual: republico este post quase todos os anos. Ter ido a Hiroshima marcou-me para sempre.

Se eu apenas pudesse guardar duas fotografias, dos milhares que fui tirando por esse mundo fora, escolheria estas. De má qualidade, sem dúvida, mas que me recordam dois objectos expostos no Museu de Hiroshima, que nunca mais esquecerei. Numa, um relógio que parou à hora exacta em que a bomba explodiu. A outra fala por si.

Foi há 71 anos.



Parque Memorial da Paz de Hiroshima - algumas imagens:
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